perspectivas

Sexta-feira, 8 Maio 2015

Não existe democracia no Reino Unido

Filed under: Política — O. Braga @ 12:35 pm
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O partido UKIP (United Kingdom Independent Party) teve 5 milhões de votos e 1 assento do parlamento; os socialistas do SNP tiveram 1,5 milhões de votos e 30 assentos.

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¿Isto é democracia?! Onde está a representação do povo?!

Na Era em que vivemos, caracterizada pela informática e pela cibernética, não há razão para não termos uma democracia directa. Naturalmente que os donos do sistema “democrático” — que de democrático só tem o nome — irão dizer que a democracia directa conduz à demagogia e ao populismo; mas demagogia e populismo são termos que os “democratas” utilizam quando a democracia os assusta.

Ou a democracia directa, ou então acabemos com esta “democracia”.

Segunda-feira, 3 Março 2014

A causalidade diabólica

 

Se perguntarmos, a quem escreveu isto (ver ficheiro PDF), se é a favor da democracia directa — ou melhor dizendo, da democracia participativa, e em alternativa à democracia representativa que temos —, o escriba dirá que não é a favor. No entanto ele diz ser a favor da “vontade do povo”! — só que a “vontade do povo” terá que estar de acordo com a ideologia política que o escriba defende.

Para fundamentar uma ideologia absolutista (próxima do totalitarismo), os chamados “tradicionalistas” e “integralistas” — que de tradicionalistas não têm nada, e nada mais são do que uma extensão do movimento revolucionário — optam invariavelmente pelo recurso ao conceito de “causalidade diabólica” para explicarem as dificuldades da Realidade, os malogros da acção humana e todos os males do mundo, como uma conspiração de forças malignas. Essas forças malignas ou são os judeus, ou o capitalismo, ou outra coisa qualquer. Para a racionalização maniqueísta dos ditos “tradicionalistas”, o acidental (o acaso) e as causas naturais não existem: tudo parece estar determinado por forças ocultas que agem independentemente de factos objectivos que comprovem essa acção.


É certo que a História é feita (também) de conspirações de grupos ou de elites. Mas essas conspirações não comandam o curso da História: em vez disso, integram-se nele (no curso da História). Portanto, é irracional que queiramos ver nos judeus, ou no capitalismo, uma conspiração oculta que conduz a História de uma forma determinista. Só podemos falar de “conspiração” propriamente dita quando existem factos concretos e objectivos que infiram ser verídica uma determinada teoria.

A racionalização política mete tudo no mesmo saco: criminosos políticos e inocentes apolíticos — porque a racionalização política pretende meter o universo inteiro e a Realidade dentro de uma lógica de uma ideia (o conceito de “lógica mortífera de uma ideia”, de Hannah Arendt). A tentativa de meter a Realidade dentro de um sistema ideológico conduz a uma perda de aderência em relação ao Real e à experiência. O revolucionário “desanca” no Real, pretendendo que o Real obedeça às suas ordens (por exemplo, com o “casamento” gay ou com a adopção de crianças por pares de invertidos), ou para que o Real obedeça à sua ideia. Mas logo que alcança o Poder, o revolucionário estabelece um reino de terror e pretende que o Real se adapte à sua ideologia, a todo e qualquer custo.

A racionalização política ergue-se acima dos factos e torna-se superior a estes, ou seja, recusa a experiência do Real.

Por outro lado, o pragmatismo político também pode ser uma forma de racionalização política, porque se caracteriza por um excesso de lógica em relação ao empírico e pela recusa da complexidade do Real; pretende-se que o Real obedeça à simplificação que o espírito faz da Realidade. E quando o Real não corresponde à ideologia, o revolucionário entra em dissonância cognitiva e procura imediatamente a coerência unívoca da sua mundividência adequada à ideologia política que professa.

Joseph Gabel disse da racionalização política que era um “racionalismo mórbido” (na sequência do conceito de delírio interpretativo) porque pretende qualificar construções lógicas delirantes a partir de dados que não são necessariamente imaginários ou alucinatórios. O que aquele blogue tem vindo a escrever acerca de Olavo de Carvalho é o exemplo perfeito de “racionalismo mórbido”.

A loucura não é apenas sinónimo de incoerência: também pode ser um excesso de coerência abstracta (por exemplo, em Louis Althusser) que implica uma perda de contacto com o concreto e com o objectivo, ou seja, como se diz comummente, uma “perda de aderência ao Real”.

Terça-feira, 11 Fevereiro 2014

Daniel Oliveira: o paladino da democracia dos mandadores sem lei

 

O que mais me irrita no Daniel Oliveira não é o Daniel Oliveira: antes é o “tempo de antena” que lhe é dado pelos nossos me®dia medíocres. Digamos que a mediocridade é mútua e biunívoca: les bons esprits se rencontrent…


No ano de 2000, a Suíça ocupava a primeira posição, em uma lista de 42 países, sobre a capacidade de resiliência económica. E só em 2005 o tratado de Schengen foi referendado e aprovado na Suíça. E o Daniel Oliveira escreve isto, logo de entrada:

A Suíça ficou a ganhar com os vários acordos que tem com a União Europeia. O desemprego manteve-se baixo para a população em geral (3,4%) e para os suíços em particular (2%). Os salários cresceram 0,6% (mais do que antes dos acordos com a União). A economia cresceu acima da média europeia e mais de metade das exportações da Suíça vão, graças à abertura dos mercados, para a União. Ninguém no seu prefeito juízo põe em causa as vantagens deste país rico, livre dos constrangimentos do euro e dos tratados, cercado por estados membros, manter estes acordos com a União. Mas os referendos não definem políticas coerentes nem estratégias económicas. E recusam o cinzento de que resulta qualquer processo negocial.”

O Daniel Oliveira inverte a ordem cronológica dos factos históricos: ou seja, segundo ele, a Suíça já tinha beneficiado de Schengen (que é o que está em causa aqui) antes de ter adoptado Schengen! Depois disto, pouco mais há a dizer acerca do textículo.

daniel oliveira dark vader[4]Gentalha como o Daniel Oliveira confunde propositadamente o conceito de “democracia directa” — tal qual era entendida na Atenas grega, o que é objectivamente impossível nas sociedades modernas com milhões de habitantes —, por um lado, com “democracia participativa”, por outro lado, em que existem pacificamente mecanismos referendários no interior de uma democracia representativa. Burros como o Daniel Oliveira confundem sistematicamente “legalidade” e “legitimidade”; e claro que os me®dia aplaudem e corroboram, porque não há poder mais ilegítimo do que o da comunicação social.

Para o Daniel Oliveira e gentalha da sua espécie (incluindo o deputado João Almeida do CDS/PP, por exemplo), os referendos só são bons se as sondagens indiciam que eles vão ganhar. Mas “Que horrível cheiro a povo!”.

É preciso que o povo corra com esta gentalha da política para fora; gente estúpida mas que se considera o supra sumo da inteligência; burros que se auto-proclamam de uma elite; “são os mordomos do universo todo, senhores à força, mandadores sem lei, vêm em bandos com pés de veludo, dançam a ronda no pinhal do rei; e se alguém se engana com o seu ar sisudo, eles comem tudo, eles comem tudo…”

Sábado, 1 Fevereiro 2014

O Iluminismo Negativo (parte 2)

Filed under: Política — O. Braga @ 8:42 pm
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O Iluminismo Negativo é uma ideologia política muito perigosa, porque se baseia em um certo irracionalismo que volta a estar na moda, em grande parte em reacção contra o irracionalismo da Esquerda historicista e marxista, a partir da qual irrompeu a partidocracia que vai anulando a própria democracia enquanto expressão de liberalismo político. Por outro lado, a prostituição da democracia também tem sido protagonizada pelo chamado “neoliberalismo”, característico de uma certa direita “Goldman Sachs” e globalista, que tende a ser pelo menos tão internacionalista (a ter aspirações de domínio internacionalista) quando a Esquerda marxista tem ainda.

Enquanto que que Esquerda marxista aproveita-se (“apanha boleia”, por assim dizer) do liberalismo político (leia-se: “democracia”) para o anular através de uma crescente burocratização do Estado (por exemplo), o Iluminismo Negativo aproveita-se da degeneração do liberalismo para fazer a crítica da democracia enquanto vontade da maioria — confundindo a democracia como sistema político, por um lado, com o Estado-providência que é uma deriva degenerescente da democracia, por outro lado.

O Iluminismo Negativo faz uma interpretação errada do Iluminismo — e seu sou insuspeito para falar porque sou também um crítico do Iluminismo, mas por razões bem diferentes. Kant, talvez o último dos genuínos iluministas, escreveu o seguinte:

“Um governo que fosse fundado sobre o princípio da benevolência para com o povo, tal como a do pai para com os filhos, quer dizer, uma governo paternal (imperium paternale), no qual, por consequência, os súbditos, quais filhos menores, incapazes de decidir do que para eles é verdadeiramente útil ou prejudicial, são obrigados a comporta-se de maneira unicamente passiva, a fim de esperar apenas do juízo do Chefe de Estado o modo como devem ser felizes, e apenas da sua bondade que ele igualmente o queira — um tal governo, digo, é o maior despotismo que se pode conceber 1

Como se pode ver, o iluminista Kant não poderia concordar, de modo nenhum, com o Estado-providência. Kant referia-se, na sua crítica, ao Camaralismo ou Wohlfahrtsstaat, ou ainda, assim designado também, “Estado de Polícia”, que foi a variante alemã do absolutismo francês. Note-se que o Iluminismo Negativo adopta aquilo a que chama de “Neo-camaralismo”, de que falarei noutro verbete.

Portanto, dizer que o Iluminismo Negativo é a negação do Iluminismo porque alegadamente aquele combate o Estado-providência e este último já não o fez, é falso. Mas o problema é que gente estúpida e ignorante acredita naquela lengalenga de Nick Land como sendo “factos históricos”. E por isso é que o Iluminismo Negativo é perigoso: é acientífico do ponto de vista da História das Ideias, é Hobbeseano e está longe de ser uma forma de Tradicionalismo político: pelo contrário, é parte integrante do movimento revolucionário que o próprio Iluminismo Negativo critica. É como uma cobra que morde a sua própria cauda.

Nota
1. Kant, “Teoria e Prática”, 1793, II, p. 31


Se a democracia é a “tirania da maioria”, ainda assim prefiro a “tirania de uma maioria” a uma “tirania de uma minoria”.

A democracia vista como “tirania da maioria”

Filed under: A vida custa — O. Braga @ 6:28 pm
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Se a democracia é a “tirania da maioria”, ainda assim prefiro a tirania de uma maioria a uma tirania de uma minoria.

Sexta-feira, 31 Janeiro 2014

A noção de identidade é inseparável da liberdade e da democracia

Filed under: Democracia em perigo — O. Braga @ 8:33 pm
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«La notion d’identité est inséparable de la liberté et de la démocratie. Elle fonde, contrairement à ce que la gauche essaie de faire croire, notre système de valeurs.

Comme l’a très bien montré Tocqueville, la priorité accordée à l’égalité dans l’évolution démocratique engendre une menace sur les libertés. Les prétendues « avancées » de l’égalité et de la « démocratie » sociale et sociétale constituent une menace pour la démocratie politique fondée sur la libre volonté des citoyens suffisamment indépendants du pouvoir pour faire de celui-ci l’expression de la volonté générale.

Les Suisses ne sont pas obsédés par l’égalité sociale, mais ils ont une égale liberté de choisir ce que la Suisse doit faire, lorsqu’ils participent aux référendums régulièrement organisés

Christian Vanneste

Esqueçam a democracia (2)

Filed under: Política,Portugal — O. Braga @ 10:40 am
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A democracia e os seus mecanismos (que inclui o referendo) dependem de uma tradição.

Ora, é a construção e aprofundamento dessa tradição que a actual classe política recusa ao povo. E como não existe tradição de referendos, o povo não participa neles; e como o povo não participa em referendos porque não existe uma tradição de referendos, a classe política vem dizer que “não vale a pena fazer referendos”. É uma pescadinha de rabo na boca que pretende justificar um despotismo iluminado da classe política. Por isso, é obrigação de qualquer português consciente combater esta classe política no seu todo.

Hoje existem uma classe política e elites diferentes das que existiam nas décadas de 1980 e 1990: já não existe debate livre e racional, porque as elites só não estão de acordo em assuntos de politiquice; e o desacordo em relação à politiquice serve apenas para “atirar areia para os olhos” do povo, tentando dar a impressão de que existem divergências de fundo quando o unanimismo (maçónico) impera.

A “democracia” que temos transformou-se em um farsa para além do tolerável, porque já não existe qualquer respeito tradicional pela discussão racional que conduz ao respeito tradicional pelo método do governo através do debate: hoje só se debate o “interesse” particular deste ou daquele partido, e quando se critica uma política do governo, quase nunca se apresentam alternativas. A democracia portuguesa está armadilhada.

Esqueçam a democracia!

 

O referendo à adopção de crianças por pares de invertidos tem sido posto em causa pela classe política em geral (incluindo o CDS/PP) e pelas elites em geral, com base em uma alegada estratégia de interesse por parte do Partido Social Democrata. Ou seja, não é o referendo em si mesmo que é discutido, mas a alegada estratégia política de um determinado partido que propôs o referendo.

Isto significa que a lógica do questionamento do referendo é o “interesse”. ¿Qual é o teu interesse?. Quando se coloca, em uma discussão sobre o que quer que seja, a pergunta ¿Qual é o teu interesse?, a discussão está minada — porque se desvia o foco da discussão da matéria em causa para a politiquice do “interesse”.


O que se está a passar em Portugal é que a democracia não serve para nada. Votar ou não votar dá no mesmo. O sistema político está montado para que as decisões políticas sejam, cada vez mais e em crescendo, tomadas pelas elites sem consulta popular. Note o leitor que a adopção de crianças por pares de invertidos não fez parte do programa de governo do Partido Social Democrata e do CDS/PP (e nem do Partido Socialista) — e, no entanto, a classe política (incluindo o CDS/PP) prepara-se para reduzir a democracia às decisões das elites.

Isto não é democracia: é uma aristocracia da mediocridade.

Outro argumento contra o referendo — qualquer referendo! — é o de que o povo português é burro — e portanto não vale a pena sensibilizá-lo para as questões referendáveis. O povo português só não é burro quando vota nos partidos políticos, mas logo que os votos são apurados, o povo volta a ser burro. E como o povo é burro, são as elites que decidem sem consultar o povo. O voto passou a ser uma espécie de “cheque em branco” dado pelo povo à classe política.


Portanto, esqueçamos a democracia! Devemos adoptar uma resistência passiva e uma outra activa.

A resistência passiva é a recusa da legitimidade deste regime de mediocridade aristocrata. Ou seja, não votar nunca, para nada. Abstenção total! Deixá-los governar com menos de 50% do total de votos. Torná-los fracos na sua legitimidade política, minar o próprio regime político através da nossa não-participação nele. Deixar a classe política em roda-livre, entregue a si mesma e em um sistema semi-despótico em crescendo, o que vai legitimar ainda mais nossa a oposição ao regime.

A resistência activa é a afirmação pública e publicada na negação do regime. Devemos tratar este regime como uma qualquer ditadura. Denunciar publicamente o despotismo iluminado da classe política (que controla os me®dia), mesmo que corramos o risco certo de sermos ostracizados e mesmo censurados.

A democracia não se negoceia: ou existe ou não existe. Se não existe, passa a valer tudo. Se vivemos em um sistema despótico cujos valores são ditados exclusivamente pela classe política, torna-se legítima qualquer acção para o derrubar.

Segunda-feira, 27 Janeiro 2014

A União Europeia, o Euro e a natalidade portuguesa

 

O Alexandre Homem de Cristo comete aqui um erro que é useiro e vezeiro por parte de uma certa “intelectualidade” ocidental (não é só portuguesa): a ideia segundo a qual a baixa taxa de natalidade está directamente ligada à economia.

O que eu vou dizer a seguir não pode ser provado, mas estou convencido de que se o ordenado mínimo nacional fosse neste momento de 5.000 Euros mensais e a taxa de desemprego fosse de 3 ou 4%, a taxa de natalidade portuguesa não aumentaria significativamente por isso. Aliás, temos o exemplo da Alemanha que demonstra o que eu quero dizer. Portanto, olhar para as “experiências internacionais”, como se sugere, não levará a nada, porque essas “experiências internacionais” — maioritariamente do Ocidente — serão apenas paliativos que “empurram” o problema demográfico lá mais para diante no tempo.

A evolução demográfica alemã tem-se salvado por causa dos imigrantes (maioritariamente islâmicos) que não deixam de se reproduzir. Mas, mesmo assim, a taxa de natalidade alemã está longe daquela que se verifica em França também graças aos imigrantes. Porém, os imigrantes de segunda geração tendem a seguir os valores da cultura dominante, o que significa que a taxa de natalidade actual na Alemanha e em França serão “sol de pouca dura”.

Portanto, a experiência diz-nos que a taxa de natalidade não é uma questão de dinheiro: o problema é outro, bem diferente, e de tal forma grave e complexo que nem quero falar dele aqui para não ser condenado à fogueira do politicamente correcto.

“Há uma enorme diferença entre a França e a Alemanha, quando 650 a 680 000 jovens que entram no mercado de trabalho na França, há menos de 350 mil na Alemanha. Calculamos que a taxa de desemprego seria se a Alemanha tivesse a mesma dinâmica populacional França: teria 1,5, 2.000,000 desempregados a mais. Alemanha pode-se dar ao luxo de ter uma política que só é bem sucedida no curto prazo, pois é uma população em declínio. No entanto, os países que tão diferentes como a Alemanha e a França em demografia, com uma taxa de fertilidade de 1,6 em comparação com 2,05 – que é uma grande diferença – são forçados pelo euro a terem a mesma política económica.”

A União Europeia está a caminho de uma guerra quando procurava a paz.

Segunda-feira, 5 Agosto 2013

Em França já se discute a democracia directa

« Seule une démocratie participative, une démocratie directe, s’exerçant en permanence (et pas seulement à l’occasion des élections ou des référendums) peut corriger les défauts de la démocratie représentative. Mais cela exige de redonner du sens à la notion de citoyenneté. En clair : de remédier à la dé-liaison sociale en recréant un espace public ordonné à un grand projet collectif, au lieu d’inciter les gens à jouir sans mélange de leur repli sur la sphère privée. »

Le mariage gay : l’indice d’un prodigieux conformisme bourgeois…

Em França, a Direita já discute publicamente a adopção de mecanismos de democracia participativa, ou democracia directa. Mas em Portugal, intelectuais da política, como por exemplo o José Pacheco Pereira, recusam a democracia participativa e referendária, quiçá a mando de gente de Bilderberg como Pinto Balsemão, e da maçonaria. Diria mesmo que nesta questão, a maçonaria, os Bilderbergers e os intelectuais de esquerda estão todos de acordo: “a democracia directa é perigosa”.

O José Pacheco Pereira é o paradigma do intelectual da política: escreve longos artigos em defesa dos mais pobres, mas se lhe falarem em democracia directa é como se lhe falassem do diabo. Esta ambiguidade da nossa política é uma reificação da hipocrisia, porque retira ao cidadão a liberdade entre eleições, por um lado, e por outro lado, porque impõe o conceito abstracto e arbitrário de “vontade geral”, de Rousseau, que mais não é do que a interpretação que as elites fazem dos resultados eleitorais.

Segunda-feira, 13 Maio 2013

A democracia directa e o medo das elites em relação ao povo

Não há (que eu saiba) nenhum intelectual e/ou político português que defenda a existência de mecanismos de democracia directa em Portugal. Nenhum.

A incoerência de pessoas como José Pacheco Pereira ou João César das Neves consiste em criticar — cada um à sua maneira: o primeiro critica a corrupção e o nepotismo, o segundo critica a mundividência de esquerda — o sistema e a política portugueses e, simultaneamente, recusam terminantemente quaisquer mecanismos de democracia directa em Portugal. Ou seja, a crítica dessa gente é inconsistente e estéril, porque aborda o problema do regime pela rama.

Eu recuso-me a aceitar que a elite portuguesa (a ruling class) conceba a ideia segundo a qual, por exemplo, o povo português é inferior ao povo suíço ou ao povo irlandês. Se os suíços têm ao seu dispôr um sistema político com mecanismos de democracia directa, por que razão aquilo que é bom para os suíços não é bom para os portugueses? A resposta só pode ser uma: as elites portuguesas (a ruling class) recusam conceder ao povo português quaisquer instrumentos políticos de democracia directa — e sobre esta recusa estão de acordo todos os políticos, desde a extrema-direita à extrema-esquerda.

A demagogia impera. Dizem eles que a democracia directa é impossível, dizendo ao povo que esta consiste na democracia de tipo grego. Repetem os argumentos de Rousseau. Escondem a verdade: a democracia directa não é a democracia de tipo ateniense. Vamos, por isso, definir “democracia directa” adequada às sociedades contemporâneas:

Chamamos “democracia directa” a um conjunto de mecanismos referendários instituídos em função de um determinado critério político que é, ele próprio, definido em referendo popular.

1/ os referendos não custam mais dinheiro à democracia, porque podem ser realizados simultaneamente com as eleições autárquicas, parlamentares ou do presidente da república. Poderão ser realizados vários referendos em um só dia de eleições (acumulação de referendos). O argumento dos “custos da democracia directa” e dos referendos, não vinga.

2/ ter-se-á que definir constitucionalmente quais as matérias susceptíveis de serem referendadas de forma automática (como acontece na Irlanda. Será que o portugueses são mais estúpidos do que os irlandeses?). Esta definição será, ela própria, estabelecida sob referendo, mediante propostas de cidadãos, grupos de cidadãos, ou dos partidos políticos.

3/ o sistema que regula a aceitação de propostas de cidadãos, grupos de cidadãos, ou dos partidos políticos, no sentido da realização de referendos deverá ser simplificado e desburocratizado, no sentido da construção paulatina de uma tradição referendária em Portugal.

Quem tem medo do povo?

As elites políticas têm medo do povo, sejam elas do Partido Comunista, Bloco de Esquerda, Partido Socialista, Partido Social Democrata, ou CDS/PP. E quem tem medo do povo governa sempre contra o povo, na medida em que não responsabiliza de facto o povo, por um lado, e por outro lado aproveitam-se dessa desresponsabilização do povo para se desresponsabilizarem a si mesmos. As elites políticas recusam a ideia de uma política de responsabilização do povo, para que elas próprias não tenham que ser responsabilizadas política, moral ou mesmo criminalmente pelas sua acções.

Sexta-feira, 1 Julho 2011

Quem deve governar?

Eu tenho imensa dificuldade em acompanhar quem defenda a ideia segundo a qual a governança deve ser atribuída, sem eleições, a uma elite — seja essa elite de sábios, como preconizado por Platão, seja a uma elite aristocrática, ou uma neognóstica marxista. Os conceitos contrapostos de “elite” e de “massas”, repugnam-me.

Platão foi o primeiro teórico a defender a necessidade dos campos de concentração para os dissidentes de opinião. E foi também o precursor da ideia peregrina do governo de uma elite não-eleita de sábios. Platão pergunta: “quem deve governar?”, e responde que devem ser os sábios a governar sem democracia.

Esta mesma pergunta de Platão — “quem deve governar?” — foi assimilada por Rousseau através do seu conceito de “vontade geral”, que não corresponde à “vontade da maioria”. A vontade geral de Rousseau é a vontade da classe política que se assume como uma espécie de elite de sábios que deve governar, mesmo que em detrimento da vontade da maioria. O tipo de democracia que temos hoje provém directamente de Rousseau.

Se eu estivesse de acordo com uma certa direita que defende que “quem deve governar” é uma elite aristocrática — então com que moral poderia eu criticar a ideia marxista cultural segundo a qual “quem deve governar” é uma elite de neognósticos? A alternativa possível a um qualquer governo de elite é alterar a pergunta de Platão: em vez de “quem deve governar?”, a pergunta deveria ser outra (Karl Popper): “que poder deve ser concedido ao governo?”

Só com a limitação dos poderes do governo rousseauniano, e por via da concessão de mais poderes às instituições (por exemplo, a família) e às comunidades da sociedade civil (por exemplo, as associações de cidadãos livres, ou a Igreja Católica), será possível evitar as tragédias humanitárias do passado recente, em que elites de neognósticos tomaram o poder absoluto (nazismo e comunismo).

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