“Portanto – como sempre! -, não se busque nos outros a razão da nossa desgraça política. É dentro da direita que se consente esta corrupção de Estado. E é por causa da nossa debilidade moral – votação corrupta – que os socialistas mandam (é sempre «culpa nossa»). Não há redenção da direita sem limpeza da sua corrupção.”
Eu só não recomendo a leitura deste verbete porque está escrito “desconforme o desacordo ortográfico”; mas façam de conta que está escrito correctamente: a nossa imaginação não tem limites.
Existe um nexo causal entre o processo progressivo da perda da soberania para a União Europeia, por um lado, e por outro lado, a normalização paulatina da corrupção que se entranha nos costumes das elites.
Diz o texto que “não há redenção da direita sem limpeza da sua corrupção”. Ora, essa “limpeza”, efectuada dentro do e pelo sistema, é absolutamente impossível! O Direito Positivo apoia-se espontaneamente nos costumes, e no caso específico da política, nos costumes das elites; e o fundamento dos costumes das elites deve ser procurado nas tradições (boas ou más) mantidas vivas pela História, costumes esses que se manifestam de forma inconsciente na vida política.
A partir do momento em que o Direito Positivo se separou totalmente do Direito Natural – o que aconteceu já na III república, mas principalmente com a alienação progressiva da nossa soberania à União Europeia (e porque no tempo de Salazar ainda existia uma ligação entre os dois tipos de Direito) – o problema ético-político agravou-se. A alienação da soberania portuguesa desresponsabilizou a classe política nacional. Os portugueses vivem hoje num limbo, em que existe uma classe política dentro de num sistema que já não é soberano e que não pertence cabalmente a qualquer soberania. Portugal está à deriva.
A “limpeza da corrupção” não é possível nem à Esquerda nem à Direita – porque na esquerda também existe corrupção, embora diferente. Vemos o que se passa, por exemplo, no Brasil de Dilma Roussef governado à esquerda. Ou o que se passa em França socialista de François Hollande governado pela maçonaria. E se tivermos um governo do Partido Comunista ou do Bloco de Esquerda, a corrupção passa a ser escondida da opinião pública através de uma “ideologia de granito” que confunde a sociedade civil com o Partido, e este com o Estado – mas não deixará de haver corrupção.
Por outro lado, é uma ilusão falar em Direita em Portugal; estamos a enganar-nos a nós próprios! A política e a realidade não se reduzem à economia! Não existe “direita” em Portugal.
Quando o ethos que rege o Partido Socialista é essencialmente semelhante – senão idêntico – ao que rege a tal “direita”, essa “direita” simplesmente não existe. Qualquer “reviravolta” no ethos político português conduzir-nos-ia a uma versão nacional da democracia húngara, e nesse caso teríamos a União Europeia de Durão Barroso a condenar e a perseguir Portugal. Existe um nexo causal entre o processo progressivo da perda da soberania para a União Europeia, por um lado, e por outro lado, a normalização paulatina da corrupção que se entranha nos costumes das elites.
Dizer que é possível uma “limpeza da corrupção” dentro do actual sistema é equivalente a dizer que o teorema de Gödel está errado. O teorema de Gödel diz que é impossível demonstrar a não-contradição de um sistema pelos seus próprios meios, ou mediante meios mais fracos. O actual sistema político não pode logicamente demonstrar, pelos seus próprios meios, as suas contradições. A III república portuguesa não é regenerável pelos seus próprios meios.