Vindo de um Bispo, este texto é inclassificável. Só para dar um exemplo, a associação ideológica entre o conceito de “autoridade”, por um lado, e o de “dominação”, por outro lado, tem origem na Escola de Frankfurt e no marxismo cultural (Adorno e Marcuse). O leitor, (etiam feminis), poderá ler o texto também na minha análise em PDF.
Desde logo, o texto do Bispo brasileiro revela o profundo mal-estar sentido no seio da Igreja Católica, e que este papa desencadeou de forma consciente (o que é mais grave!). E para tentar dissolver esse mal-estar, o Bispo recorre à tolerância repressiva de Marcuse, instituindo um mecanismo maniqueísta de selecção daquilo e daqueles que são politicamente correctos: para ele, hoje há os “bons católicos” — os tais que alegadamente “colocam o bem da Igreja e da humanidade acima de seus interesses e traumas” — que seguem cega e acriticamente as ideias do cardeal Bergoglio e dos seus mentores ideológicos; e os “maus católicos”, os que pensam logicamente pela sua própria cabeça e não procedem dessa forma. Para a liderança actual da Igreja Católica, pensar pela própria cabeça é uma forma de “alienação” e uma tentativa de “mistificação” da realidade (utilizo a linguagem marxista propositadamente).
E são estes, os que não aceitam que os católicos pensem pela sua própria cabeça, que colocam em causa o conceito tradicional de “autoridade”; ou seja, pretendem impôr um conceito de “autoridade” que recusa a autoridade: “Quem manda e quem obedece estão no mesmo nível”, dizem (SIC, ver no texto). Ou seja, o Bispo utiliza o princípio da autoridade para impôr uma ausência de autoridade. Por aqui vemos o absurdo e/ou a indigência intelectual do clero católico que alcandorou o cardeal Bergoglio a papa.
Esta Igreja Católica, a do cardeal Bergoglio, é uma Igreja mentirosa porque se recusa aceitar a realidade da condição humana tal qual ela é; é uma Igreja gnóstica, porque se recusa a aceitar a condição humana, e em nome da “caridade”; ou melhor dizendo: para esta Igreja Católica, a caridade não é uma consequência da condição humana, mas antes é a condição humana que decorre da caridade. Esta inversão dos termos relacionais entre “condição humana”, por um lado, e a “caridade”, por outro lado, é revolucionária e gnóstica.
A autoridade nunca pode ser ausência de autoridade; quem diz que “Quem manda e quem obedece estão no mesmo nível”, não se refere apenas ao “nível” ontológico (a condição humana): antes, pretende fazer a quadratura do círculo através de uma utopia política que invade hoje a Igreja Católica. Mas trata-se de uma utopia mentirosa e perigosa, porque nos dizem, com toda a autoridade, que não há autoridade: alguém, com uma autoridade de direito, pretende retirar-nos qualquer autoridade de facto.
Porém, o mais grave no novo clero é a mistura da palavra de Jesus Cristo com o marxismo cultural. Isto não tem perdão possível; hão-de arder no inferno da auto-clausura espiritual — porque o inferno é essencialmente um estado de espírito.
A mensagem de Jesus Cristo, e nomeadamente no caso da do Bom Samaritano, não tem tempo (é intemporal). Mas o novo clero diz que ela só vale agora, com o cardeal Bergoglio exercendo a autoridade que nega a autoridade. A mensagem do Bom Samaritano é, por eles, circunscrita no tempo e limitada pela ideologia política. Isto não tem perdão, senão o perdão de Deus.
Quando Jesus Cristo se referiu ao “vinho novo”, referia-se à Nova Aliança que veio substituir a Antiga Aliança judaica que este papa diz que não foi revogada!. Por aqui vemos como se contradiz este novo clero conciliar, ignaro e/ou mentiroso. Eles pegam nas palavras de Jesus Cristo e deturpam-nas — e deles, por isso, podemos e devemos esperar tudo. Ainda vamos ver esta gente defender a ideia segundo a qual Jesus Cristo era homossexual, ou coisas do género. Esperem para ver.