Devo dizer que eu não concordo, em muita coisa, com as ideias de António José de Brito — nomeadamente com o hegelianismo (de Direita) que ele apostolou. Durante toda a primeira metade do século XX, Hegel esteve na moda na Europa; e até uma certa Esquerda actual (por exemplo, com José Pacheco Pereira) foi influenciada por Hegel.
O monismo de Hegel é veneno ideológico. Ademais, a única forma de ser (realmente) “reaccionário” traduz-se na adopção de determinadas premissas católicas fundamentais e tradicionais.
Acerca deste texto de António José de Brito: naturalmente que ele tem razão quando critica a censura da opinião — o que não significa que todas as opiniões devam ou possam ser ensinadas ou divulgadas nos estabelecimentos de ensino pré-universitários — como escreveu Hannah Arendt (e eu concordo), a educação das crianças deve ser conservadora (no Ocidente, no sentido cristão):
“Porque a criança tem necessidade de ser protegida contra o mundo, o seu lugar tradicional é no seio da família.” (Hannah Arendt, Entre o Passado e o Futuro, 2006, pág. 196)
(…)
“A própria responsabilidade alargada pelo mundo que a educação assume, implica, como é óbvio, uma atitude conservadora.” (idem, pág. 202)
O professor António José de Brito escreve:
“Em nome da liberdade de opinião numerosas opiniões são banidas, sob o pretexto que não são opiniões. O monolitismo doutrinário instala-se sob a égide da luta contra o monolitismo doutrinário.”
Porém, o argumento do António José de Brito é o de Reductio ad Absurdum em relação ao conceito de “liberdade de opinião”; o raciocínio dele, mutatis mutandis, é o seguinte: “se a liberdade de opinião não existe de facto, fica então justificada a defesa da censura da opinião defendida pela ultra-direita”. Em António José de Brito, a crítica à “liberdade de opinião que não existe” é uma crítica determinista.
Uma das características principais do hegelianismo, é o determinismo. Uma das características principais do Cristianismo é o livre-arbítrio (liberdade).
O determinismo é a ideologia das perversões humanas: para poder abusar da sua liberdade, o ser humano necessita de se converter a doutrinas deterministas. O determinismo é invocado para exorcizar a Graça: com a ideia absolutista de “causa/efeito”, abafamos o nosso medo e emudecemos a nossa culpa. O determinismo histórico é ideologia de doutrinas que recusam a paternidade dos seus crimes.
O determinismo hegeliano, universal, seria concebível se não existisse a sua noção.