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O que é “a mente revolucionária”?

A galeria revolucionária

A galeria revolucionária

Segundo Olavo de Carvalho, a mente revolucionária tem 3 características essenciais:

A inversão da percepção do tempo

As pessoas normais consideram que o passado é algo imutável e que o futuro é algo de contingente ― “o passado está enterrado e o futuro a Deus pertence”, diz o senso-comum.

A mente revolucionária não raciocina desta forma: para ela, o futuro utópico é um objectivo que será inexoravelmente atingido ― o futuro utópico é uma certeza; não pode ser mudado.
Por outro lado, a mente revolucionária considera que o passado pode ser mudado (e ferozmente denunciado!) através da reinterpretação da História por via do desconstrucionismo ideológico (Nietzsche → Gramsci → Heidegger → Sartre → Foucault → Derrida → Habermas). Em suma: o futuro é uma certeza, e o passado uma contingência ― isto é, o reviralho total.

A inversão da moral

Em função da crença num futuro utópico dado como certo e determinado, em direcção ao qual a sociedade caminha sem qualquer possibilidade de desvio, a mente revolucionária acredita que esse futuro utópico inexorável é isento de “mal” ― esse futuro será perfeito, isento de erros humanos. Por isso, em função desse futuro utópico certo e dado como adquirido, todos os meios utilizados para atingir a inexorabilidade desse futuro estão, à partida, justificados. Trata-se de uma moral teleológica: os fins justificam todos os meios possíveis.

Inversão do sujeito – objecto

A culpa dos actos de horror causados pela mente revolucionária é sempre das vítimas, porque estas não compreenderam as noções revolucionárias que levariam ao inexorável futuro perfeito e destituído de qualquer “mal”. As vítimas da mente revolucionária não foram assassinadas: antes suicidaram-se, e a acção da mente revolucionária é a que obedece sem remissão a uma verdade dialéctica imbuída de uma certeza científica que clama pela necessidade desse futuro sem “mal” ― portanto, a acção da mente revolucionária é impessoal, isenta de culpa ou de quaisquer responsabilidades morais ou legais nos actos criminosos que comete.
Segundo a mente revolucionária, as pessoas assassinadas por Che Guevara ou por Hitler, foram elas próprias as culpadas da sua morte (suicidaram-se), por se terem recusado a compreender a inexorabilidade do futuro sem “mal” de que os revolucionários seriam simples executores providenciais.

27 comentários »

  1. […] visão histórica de Béresniak é manchada aqui e ali pela “mente revolucionária”. A maçonaria parece não se dar conta de que tem sido ela própria, depois do surgimento da […]

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    Pingback por A irracionalidade maçónica « perspectivas — Segunda-feira, 29 Setembro 2008 @ 6:04 pm | Responder

  2. […] do futuro ― isto é uma visão intemporal neo-medieval a precisar de uma Renascença (ver “A mente revolucionária“). Irá naturalmente chegar brevemente o momento da ruptura, um momento em que um novo […]

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    Pingback por “L’air du temps” « perspectivas — Terça-feira, 30 Setembro 2008 @ 4:46 pm | Responder

  3. Excelente, extremamente gênial.

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    Comentar por Azevedo Thiago — Quinta-feira, 2 Outubro 2008 @ 2:23 pm | Responder

  4. […] contrário: existe no neoliberal uma grande dose da “mente revolucionária” que se descreve aqui. O neoliberal é essencialmente um libertário e, portanto, um revolucionário, assim como é um […]

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    Pingback por Neoliberalismo não é Liberalismo; o primeiro, como ideologia política, é exactamente o contrário do segundo « perspectivas — Terça-feira, 7 Outubro 2008 @ 3:13 pm | Responder

  5. […] Pol Pot, Chávez, Mário Soares, Zapatero, Lula, José Sócrates, Barack Obama, etc. ― toda a mente revolucionária fica explicada numa só […]

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    Pingback por A crença que resulta de uma crença « perspectivas — Segunda-feira, 10 Novembro 2008 @ 8:08 pm | Responder

  6. […] que um relativista não é um revolucionário: é antes alguém que se deixa instrumentalizar pela mente revolucionária que não é relativista, mas antes inverte o sentido da ética e da moral […]

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    Pingback por O relativismo, o egoísmo e a ministra « perspectivas — Quinta-feira, 13 Novembro 2008 @ 3:12 pm | Responder

  7. […] depois acusa a maioria ― que é a detentora do senso-comum ― de ser radical. A isto, chama-se a “inversão do sujeito / objecto”, em que uma minoria culpa a maioria pela radicalização ideológica protagonizada por essa mesma […]

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    Pingback por O radical sou eu? « perspectivas — Quarta-feira, 31 Dezembro 2008 @ 11:10 am | Responder

  8. […] analisamos a >mente revolucionária ― de Esquerda, obviamente ― encontramos todos estes ingredientes messiânicos judaicos do […]

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    Pingback por O messianismo judaico e a mente revolucionária moderna « perspectivas — Sexta-feira, 9 Janeiro 2009 @ 4:25 pm | Responder

  9. […] nomeadamente, por S. Agostinho e S. Tomás de Aquino: a profecia gnóstica está na base da mente revolucionária que dá como certo o futuro da construção do “paraíso na terra” e na crença no […]

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    Pingback por Democracia e religião (1) « perspectivas — Quarta-feira, 22 Abril 2009 @ 6:30 pm | Responder

  10. […] O princípio de identidade diz-nos que A=A. Ora, através do texto, esse princípio é literalmente revogado em várias ocasiões, o que revela a psicose característica de uma mente revolucionária. […]

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    Pingback por A mentalidade psicótica de esquerda « perspectivas — Domingo, 21 Junho 2009 @ 12:53 am | Responder

  11. […] mente revolucionária que se iniciou em Portugal com o Vintismo maçónico ― que seguiu o jacobinismo Illuminati […]

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    Pingback por Portugal: resumo de 200 anos de vergonha (III) « perspectivas — Sábado, 29 Agosto 2009 @ 8:31 pm | Responder

  12. Para ajudar a completar este estudo recomento este texto: http://nacional-cristianismo.blogspot.com/2008/10/john-locke-pai-de-todos-os.html

    Cumprimentos,

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    Comentar por NC — Quinta-feira, 10 Setembro 2009 @ 11:52 am | Responder

  13. […] histórico; não faz profecias de ucronias futuras. Toda a presciência futurista é própria da mente revolucionária que caracteriza o libertarismo. O máximo que um conservador pode fazer é, em função da […]

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    Pingback por O problema da liberdade e da autoridade « perspectivas — Segunda-feira, 5 Outubro 2009 @ 4:24 pm | Responder

  14. […] com a república, o que não acontece no caso inverso porque o republicanismo transporta consigo a mente revolucionária e o libertarismo que são intrinsecamente contrários à autoridade em […]

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    Pingback por O problema da liberdade e da autoridade (2) « perspectivas — Quarta-feira, 7 Outubro 2009 @ 8:26 am | Responder

  15. A objetificaçao do mal como um “Ser” ou um “Objecto”, é um erro de pensamento muito antigo ja destruido por diversos filósofos e teologos, temos Socrates, o teologo hebreu Maimônides. Até mesmo ocultistas e misticos como Eliphas Levi deixam claro que o mal não é uma “coisa”.

    O mal surge na ausência de consciência sobre determinadas ações, pertecem ao mundo das ações, surge do vazio como diz Mário Ferreira do Santos. Citando Olavo de Carvalho “Eu gostar de mulher é bom e eu gostar do meu amigo é bom, mas eu gosta da mulher do meu amigo é ruim.”

    Como ação o mal pode ser impedido pela consciência transcendental que “impede” por via da razão que a pessoa execute o acto maléfico.

    Mas quando o revolucionário inverte essa essência do que é o mal, transformando ele num objeto, logo ele só será impedido pela ação, dai o revolucionário consegue tornar legitimo qualquer tipo de ação.

    O caso clássico dessa inversão é quando mencionam capitalismo, o capitalismo não é uma coisa mais uma prática. O comerciante faz capitalismo quando exerce as práticas capitalisma, a retórica marxista dirá: “O capitalismo fez o comerciante ambicioso”, logo então ele vem com a apologia da ação para elininar a “coisa”(no caso o capitalismo).

    Essa inversão de objeto-sujeito, coisificando o que é o mal, também ocorre entre os misóginos, para os misóginos o mal é o “ser” feminino,o mal é “alguém”.

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    Comentar por Shâmtia Ayômide — Sábado, 28 Novembro 2009 @ 4:25 am | Responder

  16. **desculpe os erros de Português; é tarde da noite.

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    Comentar por Shâmtia Ayômide — Sábado, 28 Novembro 2009 @ 4:26 am | Responder

  17. Sem dúvida que o mal é só a “ausência do bem”. Ninguém faz mal por mal; tem-se sempre em mente algo valioso ― mais uma vez, o valor! Quem causa prejuízo não deseja o prejuízo de outrem mas o proveito de si próprio; e apesar disso, ninguém pode negar que até esse proveito egoísta tem valor. Portanto, até o mal não consegue deixar de ter alguma coisa de bem.

    Contudo, é necessário ter muito cuidado com a definição de mal e de bem, porque a compreensão de mal e de bem, por parte do detentor da vontade (e não propriamente da acção porque esta é consequência da vontade, e a vontade condiciona, para além da acção, o pensamento) depende do conhecimento das leis de causalidade universais.

    O bem é a orientação da vontade para um valor superior, enquanto o mal é a orientação da vontade para um valor inferior.

    Por vezes acontece que aquilo que parece mau não o é tanto assim. Não é possível definir o bem e o mal em si porque eles dependem sempre da situação e da orientação concretas da decisão imposta pela vontade através da intermediação do intelecto. Por exemplo, se eu colocar em risco a minha vida para salvar outra pessoa, coloco o valor da abnegação acima do valor da preservação de mim mesmo, e portanto, é o critério da escolha dos valores que define o que é positivo (bem) e negativo (mal).

    A “coisificação” do mal vem da “teoria do inferno” que muito é anterior ao cristianismo, mas que foi adoptado por este. Quando dizemos que a mente revolucionária é essencialmente uma deriva gnóstica cristã, constatamos que a coisificação do mal foi herdada, nomeadamente, do cristianismo mais ortodoxo e dogmático.

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    Comentar por O. Braga — Sábado, 28 Novembro 2009 @ 9:37 am | Responder

  18. […] imune a racionalização ideológica através da desqualificação dos críticos dessa ideologia. Invertem o maniqueísmo da moral (o bem e o mal) e tornam nula ou mesmo invertida a hierarquia dos valores […]

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    Pingback por A instrumentalização do “casamento” gay por parte da esquerda « nous — Segunda-feira, 11 Janeiro 2010 @ 2:05 pm | Responder

  19. […] Uma das características do movimento revolucionário, segundo Olavo de Carvalho, é a certeza do futuro: “O capitalismo e marxismo estão unidos porque são o inimigo de o que mais cedo ou mais tarde […]

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    Pingback por O PNR parece ser um partido político revolucionário « perspectivas — Quinta-feira, 8 Setembro 2011 @ 7:54 pm | Responder

  20. parabéns a todos a colaboração de cada um e que há de nos salvar deste rabugento mundo comunista.Parabéns a todos e que N.S.J.C os abençoe

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    Comentar por J Carlos Antunes — Quarta-feira, 30 Novembro 2011 @ 1:38 am | Responder

  21. […] Carvalho abordou o tema da seguinte forma, ao falar da mentalidade revolucionária: As pessoas normais consideram que o passado é algo imutável e que o futuro é algo de […]

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    Pingback por Estratégia: Futuro Inexorável « Luciano Ayan — Segunda-feira, 13 Fevereiro 2012 @ 3:33 pm | Responder

  22. […] ler: o que é a mente revolucionária? Share this:EmailGostar disto:GostoBe the first to like this . Deixe um […]

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    Pingback por A inversão revolucionária da moral « perspectivas — Domingo, 19 Fevereiro 2012 @ 10:05 am | Responder

  23. […] Em consequência, surgiu no século XX um fenómeno massivo de “liquidação do sujeito”, imposto por uma elite cientificista e neognóstica [gnosticismo moderno: ver Eric Voegelin], e que se traduziu na emergência das religiões políticas totalitárias [por exemplo, o eugenismo característico dos “progressistas”, evolucionistas e socialistas; o nazismo e o comunismo]. Este processo neognóstico e cientificista de “liquidação do sujeito” levou a uma dissociação mental extrema entre a comunidade científica, e a uma inversão da moral [ver Olavo de Carvalho]. […]

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    Pingback por A ética e a moral não podem ser definidas ou determinadas pela ciência « perspectivas — Domingo, 29 Abril 2012 @ 8:34 pm | Responder

  24. […] inverte a realidade — como bom gnóstico moderno, e porque os gnósticos antigos não fizeram mais nada senão […]

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    Pingback por Heidegger é um exemplo acabado do gnosticismo moderno « perspectivas — Sábado, 16 Fevereiro 2013 @ 9:12 am | Responder

  25. […] No verbete anterior falei do lóbi da eutanásia que resulta da confluência de três factores fundamentais: o dinheiro (o “facto social total”, segundo Georg Simmel), o Poder (político), e a inversão revolucionária da ética (a mente revolucionária). […]

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    Pingback por A Bélgica vai estender a eutanásia a crianças (2) « perspectivas — Quinta-feira, 21 Fevereiro 2013 @ 11:00 am | Responder

  26. […] Blog Perspectivas (2008) […]

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    Pingback por Em termos #2 – Mentalidade Revolucionária – Marko Marchiori — Quarta-feira, 27 Dezembro 2017 @ 11:14 pm | Responder

  27. […] Em consequência, surgiu no século XX um fenômeno massivo de “liquidação do sujeito”, imposto por uma elite cientificista e neognóstica (gnosticismo moderno: ver Eric Voegelin), e que se traduziu na emergência das religiões políticas totalitárias (por exemplo, o eugenismo característico dos “progressistas”, evolucionistas e socialistas; o nazismo e o comunismo). Este processo neognóstico e cientificista de “liquidação do sujeito” levou a uma dissociação mental extrema entre a comunidade científica, e a uma inversão da moral (ver Olavo de Carvalho). […]

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    Pingback por A ética e a moral não podem ser definidas ou determinadas pela ciência | Culturateca — Quinta-feira, 2 Agosto 2018 @ 2:09 am | Responder


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