Aquilo a que o Pacheco chama aqui de “ecologia da natureza” (humana), é a cultura antropológica.
A cultura muda com o passar do tempo, mas nem sempre para melhor, quando não há uma ligação próxima entre cultura e civilização: esta é produto de acções deliberadas, ao passo que a cultura resulta de acções involuntárias. A civilização é o propósito do intelecto; a cultura é a expressão da alma.
Na medida em que a cultura antropológica muda com o tempo (“a velhice do eterno novo” de Fernando Pessoa), o Pacheco (parafraseando outrem) diz que “o passado é um país estrangeiro”: há aqui (no Pacheco) uma ânsia, um desejo inconfessável de inutilização do passado como justificação para uma certa construção de um futuro — no caso do Pacheco progressista, a sociedade do futuro é uma escravidão sem amos.
Há (no Pacheco) como que uma “maldição do passado que nos compromete”, e que é preciso expurgar ou exorcizar: esse “passado é um país estrangeiro”, e, por isso, é algo alienígena que não nos deve merecer grande preocupação: para o Pacheco — e para um certo nicho “intelectual” —, é o futuro que importa, um futuro fastidioso porque nada impede que lá se depositem os sonhos de um qualquer imbecil pachequista.
Para o Pacheco, o conceito de “passado é um país estrangeiro” pretende quase colocar em causa a perenidade do conceito de Natureza Humana — digo “quase”, porque o Pacheco classifica uma hipotética Natureza Humana de “desgraça” : ou seja, “a possível Natureza Humana existe desgraçadamente”; ou não devia existir.
E suma, o Pacheco defende veladamente (brandindo a noção de “o passado é um país estrangeiro”) a ideia da validade de um corte epistemológico com o passado — é uma espécie de pensamento anti-cientifico que, aliás, caracteriza a Esquerda actual:
«O passado é estranho, por isso não interessa. O que interessa é o futuro glorioso, dos “amanhãs que cantam”», e onde os imbecis unidos em todo o mundo depositam os seus sonhos.
Em contraponto, o passado que a Direita Tradicionalista elogia não é uma época histórica, mas antes é uma norma concreta. O que a Direita Tradicionalista admira em outros séculos não é a sua realidade, que é sempre miserável, mas é a desobediência em relação a uma norma (um determinado padrão histórico) peculiar.
A Direita Tradicionalista não aspira a retroceder no tempo, mas sim a mudar de rumo. O passado que ela admira não é uma meta, mas uma exemplificação de métodos civilizacionais. E quem não entende isto é um imbecil pachequista moderno e actualizado.
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