Estou a acabar de ler o livro “Contra a Democracia”, do “filósofo” americano Jason Brennan, em que o referido autor pretende convencer-nos de que a democracia representativa não é o melhor dos sistemas políticos. O referido livro foi publicado em 2016 pela universidade esquerdista de Princeton, e republicada (em português) em 2017 (1ª edição) e em 2020 (2ª edição) pela editora dirigida pelo Guilherme Valente.
Eu não tinha percebido por que razão Karl Popper não emigrou para os Estados Unidos, depois da segunda grande guerra, em uma época em que a emigração para os Estados Unidos era a “coqueluche” mundial, e até os membros da Escola de Frankfurt emigraram para este país; Karl Popper preferiu ficar em Inglaterra. E hoje percebo por quê: a maioria dos “filósofos” americanos é fortemente influenciada pelo Pragmatismo, enquanto doutrina. E o Jason Brennan não escapa à regra.
O Pragmatismo é um utilitarismo radical, exacerbado, levado até às suas últimas consequências possíveis.
Esta doutrina (o Pragmatismo) é produto da afirmação absolutista do darwinismo na cultura intelectual e antropológica do fim do século XIX; e, por outro lado, ela é também fruto das teorias físicas do mesmo século, onde as hipóteses científicas eram apreciadas e valorizadas em função da sua comodidade e utilidade.
Segundo o Pragmatismo (em que se inclui o “filósofo” Jason Brennan), quando uma determinada ideia é útil para a acção (política) e está de acordo com a realidade, então segue-se que essa ideia é verdadeira — o que é um absurdo completo: Ortega y Gasset, desde muito cedo no século XX, “malhou” no Pragmatismo.
Ou seja: para Jason Brennan (como para os pragmaticistas, em geral), a verdade deve ser encarada ou concebida em função do nosso desejo de acção, e não em função da reprodução do “real” exterior relativamente ao ser humano. Isto significa que, segundo o Pragmatismo, se o nosso desejo de acção for em um determinado sentido, todas as ideias que fundamentem esse nosso desejo de acção estão automaticamente justificadas e podem ser consideradas verdadeiras.
É neste contexto pragmaticista que o Jason Brennan defende a ideia segundo a qual “a democracia representativa não é necessariamente o melhor sistema de organização política”.
O conceito de “filósofo americano” é um oxímoro: a esmagadora maioria dos ditos “filósofos” são influenciados pelo Pragmatismo, que é uma anti-filosofia. Nos Estados Unidos, só os pensadores influenciados por uma qualquer religião se podem considerar “filósofos”, na medida em que estendem o conceito de “universo” para além dos satélites artificiais.
São esses mesmos “filósofos” pragmaticistas (e auto-denominados “progressistas”, e “liberais de esquerda”) que defendem hoje a legitimidade do regime fascista chinês — como o faz, por exemplo, o Guilherme Valente. Para o Pragmatismo, a verdade é um programa de acção que resulta do nosso desejo: é a criação, pelo homem, de uma verdade a partir de uma razão que “cola” à experiência, e tem como critério único a sua eficácia na acção.
Ou seja: para os pragmaticistas, “se o fascismo chinês funciona bem, em termos práticos, e é eficaz na sua acção política, então segue-se que o regime fascista chinês é bom”.
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