Antes de lerem este “post” do João Távora acerca do burkini, peço que leiam estoutro meu sobre o mesmo assunto; mas leiam-no devagar, cogitando cada conceito — por exemplo, o conceito de “religião” que, segundo o João Távora (erradamente), não tem nada a ver com as antigas viúvas aldeãs portuguesas vestidas de negro e com lenço na cabeça.
O conceito de “religião” é assim reduzido a uma espécie de ideologia que contenha em si uma qualquer ideia de transcendência “sobrenatural” que a ciência não controla; e neste sentido, não passaria pela cabeça do João Távora considerar o materialismo dialéctico e/ou histórico como uma religião (embora o materialismo dialéctico não faça parte da ciência porque não é falsificável). E é também por isso que muitos “intelectuais” da treta consideram o Budismo como uma filosofia, e não como uma religião, alegadamente porque (dizem eles) se trata de um monismo imanente (imanência).
Foi Eric Voegelin que cunhou o termo “religião política” que caracterizou, por exemplo, os jacobinos, o romantismo do Positivismo, o marxismo, etc.. Até o ateísmo é uma espécie de religião desprovida de ritos comunitários, mas que inclui um conjunto comum de crenças que compreendem um aspecto subjectivo (o sentimento religioso da crença racionalista ou romântico-positivista). O empirismo e o puritanismo são duas faces da mesma moeda (o que justifica o puritanismo dos republicanos de 1910).
No fim da década de 1970, cheguei a ver homens e mulheres fisicamente separados (mulheres à direita, homens à esquerda na igreja), nas missas católicas em uma aldeia de Trás-os-Montes. Era o costume, dizia o povo; “que não tinha nada a ver com o Padre”. Portanto, é impossível separar os costumes, a moral, a ética, a estética, a metafísica, e portanto, a religião (ou “religiosidade” como soe moderno e prá-frentex dizer-se), da cultura.
O problema do burkini vestido por uma mulher islâmica (sublinho: islâmica) é o seu símbolo — é aquilo que o burkini simboliza através da cultura islâmica. Esse símbolo tem uma representação que é repugnante e que nunca existiu — nos mesmos moldes — na cultura europeia desde a Antiguidade Tardia.
Neste caldo de culturas em França, há duas possibilidades:
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ou o burkini não é proibido, e as raparigas de raiz familiar islâmica passam a ser publicamente coagidas pela cultura islâmica a considerarem-se a si mesmas ontologicamente inferiores (de acordo com a ideologia política islâmica);
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ou então o burkini é proibido e o laicismo transforma-se em uma religião de Estado em França, à maneira da ex-URSS.
Há uma terceira possibilidade, que não digo agora, porque não me apetece ser apodado de “fassista”.
Mais um blog neomarxista https://obeissancemorte.wordpress.com/2016/08/26/que-o-livre-arbitrio-das-mulheres-venca-o-fundamentalismo-dos-homens-obrigacionistas-e-proibicionistas/ e pró islamista(disfarçado sempre em palavras de “liberdade” e “igualdades”)
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Comentar por Martim Moniz — Sexta-feira, 26 Agosto 2016 @ 3:52 pm |