perspectivas

Terça-feira, 5 Abril 2016

A duplicidade orwelliana do pensamento do Frei Bento Domingues

 

O Frei Bento Domingues reduz a experiência do Cristo Jesus a um evento político (imanente) circunscrito a um determinado tempo. É pena. Diz o Frei Bento Domingues:

O programa que Jesus apresentou publicamente era um manifesto libertário. Para o tornar possível desmascarou as tentações diabólicas da dominação económica, política e religiosa.

(…)

Por tudo isto, a Cruz de Jesus, resultado imediato de um crime jurídico de natureza política, tornou-se o símbolo da generosidade e da extrema fidelidade. Nada tem a ver com a sacralização do sofrimento, como muitas vezes ainda ressoa na liturgia e na espiritualidade. Os sacrifícios exigidos pela fidelidade ao amor são a glória da vida humana. O amor do sofrimento é uma doença grave!”

Pois se “o amor do sofrimento é uma doença grave”, a adulação da pobreza é recrutamento político — porque o que é próprio do Cristo é o amor à pobreza, e não a adulação da pobreza que é característica do Frei Bento Domingues.

Reduzir a acção de Cristo a um movimento político é uma monstruosidade modernista; é próprio de alguém que perdeu referências axiológicas e teleológicas, ou nunca as teve.


“A Eucaristia celebra a memória do itinerário de Jesus Cristo para não nos perdermos do essencial nos labirintos do quotidiano. Na parábola do bom samaritano, o sacerdote e o levita para não falharem o encontro com Deus no culto do Tempo, falharam o encontro com o próximo, o ser humano espancado e atirado para a valeta. O próximo é a nova categoria social dos sem categoria: o estrangeiro, o excluído de quem nos aproximamos. O amor incondicional – a caridade – é o sentido escondido do social, passa pelas instituições, mas nunca se reduz ao que elas podem abranger.”

O Frei Bento Domingues tem o condão de conciliar a visão romântica de esquerda — segundo a qual o ser humano é exclusivamente produto do meio-ambiente, e basta que as condições exteriores se modifiquem positivamente para que o ser humano “evolua” e deixe de ser negativo —, por um lado, com uma certa visão romântica cristã — segundo a qual “somos todos filhos de Deus, e por isso temos que perdoar até o assassino”.

É esta duplicidade ideológica (que não é ambígua, mas que induz uma ambivalência no leitor) que torna difícil, a uma pessoa vulgar, fazer a crítica das suas (dele, do Frei Bento Domingues) ideias.

Quando confrontado com a culpa do Ocidente, por um lado, com a total ausência de culpa do mundo islâmico, por outro lado, o Frei Bento Domingues (à boa maneira da esquerda radical) prefere malhar na culpa no Ocidente cristão.

¿Que culpa assumiu o Islão pelos mais de 100 milhões de escravos que submeteu? Que culpa assumiu o Islão pela barbaridade da excisão feminina e do tratamento da mulher abaixo de cão? Que culpa assumiu o Islão pelas guerras que moveu e através das quais conquistou um império apenas em 100 anos? O Islão não assume culpas.

Mas o Frei Bento Domingues insiste que o prosélito do Islão é o “próximo” da parábola do samaritano, transformado no “estrangeiro, o excluído de quem nos aproximamos”. Ele engana os leitores, ao não reconhecer que uma cultura que reconhece as suas culpas (a ocidental) é inconciliável com outra cultura que as não reconhece (a islâmica). Como se escreveu aqui:

“A Europa esquece quase tudo – e não aprende quase nada. No dia seguinte ao assassínio de Theo Van Gogh por um fanático muçulmano, o burgomestre de Amesterdão deslocou-se à mesquita frequentada pelo assassino, mas não ao velório do realizador holandês. Na mesma noite dos atentados de Paris, quando ainda se contavam as vítimas, várias vozes se ouviram a rezar pela tolerância e a alertar contra o perigo da xenofobia, como se as vítimas corressem o risco de se transformarem em algozes e transportassem todos os fardos da culpa. Infelizmente, o perigo maior não está na xenofobia nem na falta de tolerância – mas na falta de sentido. Ou seja, onde os europeus vêem a falta de sentido do terror, e erguem altares na rua para queimarem velas e deixarem flores a apodrecer, o terrorismo vê uma lógica que o longo prazo há de satisfazer. Um dia depois dos atentados de Bruxelas, o Estado Islâmico reivindicou a morte de um homem que, no Bangladesh, se converteu ao cristianismo. E uma semana depois a Al-Qaeda dizimava 30 crianças e mulheres cristãs no Paquistão. A culpa impediu os europeus de protestar. O silêncio está a matar-nos.”

A ideia segundo a qual os imigrantes islâmicos, em geral, alguma vez se entrosarão na cultura europeia, é um delírio. O Frei Bento Domingues só pode estar doente.

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