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Segunda-feira, 14 Março 2016

Os “faxistas” são os que se opõem à ideia de “progresso” como uma lei da natureza

Filed under: Política — O. Braga @ 12:08 pm
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“Não vale falar de ideias ou opiniões onde não se admite uma instância que as regula, uma série de normas às quais na discussão cabe apelar. Estas normas são os princípios da cultura”.

Ortega y Gasset

Ortega y Gasset tem razão, mas o problema é o de saber que normas são aquelas. A propósito temos dois textos que ilustram a dificuldade do estabelecimento das normas que regulem a liberdade de opinião e das ideias. O primeiro, de Rui Tavares no jornal Púbico (como não poderia deixar de ser); e o segundo publicado no Insurgente.


O Rui Tavares considera que tudo o que não seja de Esquerda é uma “catástrofe”. Ou seja, em última análise, toda a opinião ou ideia que não seja consentânea com uma política correcta conforme a Esquerda prometaica, é catastrófica; o princípio da defesa da Pátria (que se verifica na Hungria ou na Rússia, por exemplo) é apocalíptico, e revela uma “obsessão pelo colapso”. E o Rui Tavares considera que a putrefacção ideológica da Esquerda é um sinal de declínio do universo inteiro — o que revela uma mentalidade conservadora de Esquerda que se baseia na ideia abstrusa de “progresso” como uma lei da natureza (Comte → Hegel → Karl Marx).

O Rui Tavares acaba por raciocinar nos termos pessimistas de Oswald Spengler. Segundo Oswald Spengler, a cultura (e a política, consequentemente) constitui-se como um organismo vivo, evolui e entra em decadência sem possibilidade de ter um retorno ou salvação. E, nesta linha de pensamento pessimista e catastrofista, para o Rui Tavares, qualquer sinal de decadência da psicose revolucionária é uma “catástrofe”. A lógica da dialéctica hegeliana (e marxista) é negada quando a realidade não corresponde à ideologia.


No texto do Insurgente encontramos uma ode à liberdade: Donald Trump tem o direito de expulsar pessoas que perturbam os seus comícios. Clinton (e provavelmente o Rui Tavares) pensam que não: o princípio da intolerância só se aplica pela Esquerda (tolerância repressiva): se fosse a Clinton a expulsar os “reaccionários” dos seus comícios, esta acção seria correcta. Para o Rui Tavares, a tolerância é unívoca, não funciona em dois sentidos: tem um sentido único, o imposto pela Esquerda.

A mentalidade do Rui Tavares é totalitária; ele fundou um partido político a que chamou “Livre”, mas diz implicitamente que quem não concorda com ele é “faxista”. É este o problema levantado por Ortega y Gasset.

¿Será que Donald Trump quer acabar com a democracia nos Estados Unidos? 

Qualquer mente sadia sabe que não. Então ¿por quê o ápodo de “faxista” que lhe cola o Rui Tavares, a Clinton e a Esquerda em geral? Se Trump defendesse o fim da democracia na América, teriam razão; mas não é o caso.

O problema da Esquerda em relação a Trump é o de que este copiou o tradicional populismo de Esquerda que Ortega y Gasset critica no trecho. Com Trump, a Direita americana perdeu os seus tradicionais pruridos puritanos e bem comportados. E só por isso é que ele é “faxista”.

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