Eu acredito na tese de Max Weber — “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, 1905 — segundo a qual foi o ascetismo intra-mundano dos empresários calvinistas (cristãos) que (também) está na origem do capitalismo.
“¿Por que é que os interesses capitalistas na China ou na Índia não conduziram ao desenvolvimento científico, artístico, político, económico para via de racionalização que é característica do Ocidente?” → Max Weber
Há quem diga que “os calvinistas não eram católicos” e que “o catolicismo proibia a taxa de juro”. É falso!
Por exemplo, o prémio de seguro de risco foi “inventado” pelos frades menores franciscanos no século XIII (os “Fratelli”), e os templários utilizavam taxas de juro na suas transacções financeiras na Europa do mesmo século. A proibição da taxa de juro era apenas uma corrente ideológica da Igreja Católica, que não era unânime.
Os primeiros empresários capitalistas — segundo Max Weber — não procuravam o lucro desenfreado e cego por especuladores e aventureiros, mas antes procuravam o exercício honesto e constante de uma profissão: tratava-se de uma acumulação de riqueza destituída de qualquer interesse pelos prazeres que poderia proporcionar.
Por outro lado, segundo o Calvinismo, Deus decidiu, em virtude de decretos insondáveis e irrevogáveis, que “certos homens estão predestinados à vida eterna e outros destinados à morte eterna” (Confissão de Westminster, de 1647), o que causava uma angústia entre os calvinistas: “¿Será que eu serei eleito para a vida eterna?”
Nunca certo da sua eleição, o calvinista buscava os sinais dela aqui no mundo, nos frutos do trabalho, sem descanso nem alegria, trabalhava para a glória de Deus e, sobretudo, para mitigar a sua angústia. Os primeiros capitalistas eram frugais e quase ascetas, sem qualquer propensão para o luxo que a riqueza proporciona; a riqueza acumulada era apenas um sinal de bênção divina.
Foi assim que o capitalismo nasceu — segundo Max Weber — porque “se um tal travão ao consumo se alia à procura desenfreada do ganho, o resultado prático é evidente: o capital forma-se pela poupança forçada e ascética”.
A partir do momento da sua instituição, o sistema capitalista passou a obedecer às suas próprias leis — a partir do século XIX deixou de necessitar da religião que o fundou: dilui-se gradualmente no utilitarismo profano, e o fervor do capitalista religioso originário cede lugar ao homem absorvido pelo trabalho, esse calculador isolado que não conhece nem reconhece outra religião senão a do dinheiro.
O que, de início, era uma escolha — os actos de trabalhar e calcular — transformou-se em um destino: a perda da liberdade. “O puritano (calvinista) queria ser um homem trabalhador, e nós somos forçados a sê-lo”.
Não podemos separar a origem do capitalismo, por um lado, do Cristianismo, por outro lado. E quando separamos, não temos capitalismo propriamente dito, mas antes temos o neoliberalismo que se iniciou com a preponderância ideológica do Marginalismo de finais do século XIX.
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