O tradicionalismo é um fenómeno cultural moderno. Em uma sociedade tradicional, ninguém pensa em tradicionalismo: “as coisas são como são e não poderiam ser de outra maneira”. O apelo à tradição, feita pelo tradicionalismo, revela já uma alienação em relação à tradição: ninguém apela para a necessidade de um status quo estando dentro dele.
Uma pessoa que vive a tradição não é um tradicionalista. Um tradicionalista vê a tradição do lado de fora, como se vêem os objectos de uma montra de uma loja do lado da rua. É preciso entrar na loja para ver a montra do lado de dentro, e aqui a perspectiva já é diferente, porque os objectos expostos na montra passam a fazer parte do nosso meio-ambiente.
Por isso, quem vive a tradição não diz de si mesmo que é “tradicionalista”, porque isso seria assumir uma redundância: seria como se eu dissesse que o meu nome é Orlando Orlando. Quando um “tradicionalista” diz que é “tradicionalista”, raciocina em um círculo vicioso. Por isso é que eu não sou tradicionalista; gosto de ver a tradição da parte de dentro.
AVISO: os comentários escritos segundo o AO serão corrigidos para português.