A democracia e os seus mecanismos (que inclui o referendo) dependem de uma tradição.
Ora, é a construção e aprofundamento dessa tradição que a actual classe política recusa ao povo. E como não existe tradição de referendos, o povo não participa neles; e como o povo não participa em referendos porque não existe uma tradição de referendos, a classe política vem dizer que “não vale a pena fazer referendos”. É uma pescadinha de rabo na boca que pretende justificar um despotismo iluminado da classe política. Por isso, é obrigação de qualquer português consciente combater esta classe política no seu todo.
Hoje existem uma classe política e elites diferentes das que existiam nas décadas de 1980 e 1990: já não existe debate livre e racional, porque as elites só não estão de acordo em assuntos de politiquice; e o desacordo em relação à politiquice serve apenas para “atirar areia para os olhos” do povo, tentando dar a impressão de que existem divergências de fundo quando o unanimismo (maçónico) impera.
A “democracia” que temos transformou-se em um farsa para além do tolerável, porque já não existe qualquer respeito tradicional pela discussão racional que conduz ao respeito tradicional pelo método do governo através do debate: hoje só se debate o “interesse” particular deste ou daquele partido, e quando se critica uma política do governo, quase nunca se apresentam alternativas. A democracia portuguesa está armadilhada.
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