Párem os relógios, desliguem os telefones,
Não deixem o cão ladrar ao ver os ossos,
Mantenham os pianos fechados e batam tambores,
Tragam o caixão, e a segui-lo o cortejo fúnebre.
Que o avião circule sobre nós em sinal de luto
escrevendo com fumo no céu: Ele morreu.
Enfeitem com laços as pombas da cidade
E aos policias de trânsito ponham luvas pretas de algodão.
Ele era o meu Norte, o meu Sul, o meu Este e Oeste.
A minha semana de trabalho, a minha folga de Domingo.
O meu dia, a minha noite, a minha conversa, a minha canção:
E pensei que o amor ia durar para sempre.
E agora as estrelas não são precisas: apaguem-nas todas:
Embrulhem a Lua e apaguem o Sol;
Esvaziem o oceano e varram o bosque
Porque perderam a utilidade.
W. H. Auden, “Blues para um Funeral”
Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.
Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.
Gados que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.
(Luís de Camões)
“Este governo” e Paulo Portas são responsáveis; e Passos Coelho não tem nada a ver com “este governo”: pelo contrário!, Passos Coelho é vítima “deste governo” e de Paulo Portas.
O nome de Passos Coelho é mencionado, naquela merda, uma só vez.
O Tribunal Constitucional faz uma análise subjectiva da Constituição. As leis são subjectivas. A Constituição é subjectiva. A culpa, para além de ser de Paulo Portas e deste governo — mas não de Passos Coelho! —, também é da Constituição que não deveria existir porque é subjectiva, por um lado, e por outro lado, é do Tribunal Constitucional que interpreta subjectivamente a Constituição subjectiva.
O programa da Troika é inegociável e não admite excepção. É comer e calar. E por isso, não podem existir alternativas. Enquanto que em Portugal se exige a redução do défice em dois anos para os 3%, em outros países da União Europeia — por exemplo, Espanha, Itália, Bélgica, etc. — já não se aplica o mesmo critério. ¿E de quem é a culpa? Do Tribunal Constitucional!, pois claro!; e da Constituição subjectiva.
O programa da Troika é inegociável. E os contratos das PPP (Parcerias Público-privadas) também são inegociáveis. Os cortes nas pensões de reforma a partir dos 300 Euros terão que ser feitos porque as PPP (Parcerias Público-privadas) são inegociáveis e o programa da Troika também.
Eu escrevo segundo o Acordo Ortográfico. Estou dentro das normazinhas. Sou da Direitinha politicamente correcta.
“Saber fazer contas” é sempre ceder nas negociações de qualquer negócio. Por exemplo, um empresário que “saiba fazer contas” nunca regateia o preço da venda, e dá sempre uma maior margem de lucro ao cliente.
Um segundo “resgate” da Troika é sempre pior do que a Troika pretende agora com este primeiro “resgate” — porque o segundo “resgate” vai ser de cortes abruptos, enquanto este “resgate” vai no mesmo sentido, embora mais anestesiado (enfia o bisturi, e passa o anestesiante; enfia mais o bisturi, e passa o anestesiante; e assim sempre, até ser cadáver).
Por isso, este “resgate” é melhor do que o segundo “resgate”, porque este “resgate” não chateia a nossa presença no Euro, enquanto que o segundo “resgate” pode chamar a atenção dos portugueses para o problema do Euro. Ora, eu, que sou da Direitinha coelhista politicamente correcta, defendo o Euro e a Banca. Os portugueses que comam erva!
(*) A bovinotecnia é a arte de tratar do “gado” de uma forma tal que se consiga fazer crer aos “bovinos” que serão livres se abandonarem o seu estatuto de bovinidade.
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Se não existe nenhuma possibilidade de enraizar a ética no Absoluto, todas as reflexões são inúteis e a lógica não existe.
A elite actual cria propositadamente grande parte dos problemas sociais; e depois invoca a necessidade de restrição drástica da liberdade política para os resolver.
“O regime [republicano] está, na verdade, expresso naquele ignóbil trapo que, imposto por uma reduzidíssima minoria de esfarrapados morais, nos serve de bandeira nacional — trapo contrário à heráldica e à estética, porque duas cores se justapõem sem intervenção de um metal e porque é a mais feia coisa que se pode inventar em cor. Está ali contudo a alma do republicano português — o encarnado do sangue que derramaram e fizeram derramar, o verde da erva de que, por direito mental, devem alimentar-se.”
(Fernando Pessoa)
« Para as elites, a dignidade humana já não é inata; e mitos científicos protegem o “direito à autonomia” que é mais importante do que a Verdade. »
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