Para além da esquerda radical portuguesa, os grandes inimigos das touradas são brasileiros, e comentários como o que se mostra na imagem — que diz respeito a este verbete — são vulgares aqui.
Mas trata-se de hipocrisia (quando falo em "brasileiros", estou a falar em juízo universal), conforme se demonstra a seguir.
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a cidade de São Paulo e arredores têm cerca de 10 milhões de habitantes;
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Portugal tem cerca de 10 milhões de habitantes;
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as superfícies territoriais de São Paulo e de Portugal são semelhantes.
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em Portugal existe a tourada na cultura antropológica, mas o número de homicídios é cerca de 120 por ano;
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em São Paulo NÃO existe a tourada na cultura, mas o número de homicídios é superior em 37 vezes ao de Portugal.
Neste caso concreto: o que é melhor? Ter a tourada ou não ter a tourada?
Uma cultura é a soma de pequenas partes que constituem um todo — e esse todo é sempre imperfeito. É ilusão alguém dizer que é possível eliminar toda a imperfeição de uma cultura.
Por vezes, quando “mexemos” numa cultura, em vez de estarmos a fazer bem, estamos a fazer mal. É preciso ter uma extrema cautela — prudência! — quando lidamos com uma cultura antropológica.
Há determinados fenómenos culturais que justificam uma alteração, independentemente das possíveis consequências de desequilibro cultural. Por exemplo, a excisão feminina; ou o canibalismo; ou o aborto. Tudo o que coloque em causa o estatuto de excepcionalidade da vida humana deve ser colocado em causa.
No Facebook dos brasileiros, o que não falta é gente se indignando com o sofrimento de animais.
Já dos 50 mil homicídios anuais, não se ouve um pio.
Isso por si já mostra como anda a cabeça do brasileiro comum.
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Comentar por Diego Gonçalves de Araújo — Sexta-feira, 4 Outubro 2013 @ 7:46 pm |