«A nossa civilização corre o risco de ficar submersa como a Grécia (Atenas) sob a extensão da democracia, de cair inteiramente nas mãos dos escravos, ou então de ficar como Roma, não nas mãos de imperadores filhos do acaso e da decadência, mas de grupos financeiros sem pátria, sem lar na inteligência, sem escrúpulos intelectuais e sem causa em Deus.
O único antídoto para isto é uma lenta aristocratização.»
— Fernando Pessoa, 1920.
A aristocratização que nos fala Fernando Pessoa é a criação de uma elite digna desse nome ou propriamente dita, que já existiu em Portugal no século XX mas que nas últimas três décadas tem vindo paulatinamente a desaparecer com o surgimento dos “trabalhadores da undécima hora”.
O mestre Adriano Moreira, no seu livro “Tempo de Véspera”, escreveu o seguinte:
“(…) os trabalhadores da undécima hora só prosperam quando as batalhas forem ganhas, os tempos cumpridos, os sonhos realizados. Não são os que ficaram silenciosos, os que participaram na acção, que fizeram o mundo em que vivemos. Acontece que estão lá na época da colheita. Os que fazem o mundo são os outros, são os que transformam as ideias em palavras e as palavras em acção.
(…)
É porque os velhos lutadores estiveram nos debates, responderam à chamada para o combate, participaram nas carências, correram todos os riscos, que chega algum dia em que batem as pancadas da undécima hora. Os construtores do mundo, de uso não têm mais do que dez horas para viver. A colheita em regra não lhes pertence.
(…)
O grande destino que lhes coube e cumpriram foi o de preparar a vinda da undécima hora.”
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