“Quem somos? De onde viemos? Estas duas perguntas são geralmente o primeiro passo da hipocrisia comum que tem duas partes. Primeiro, a pessoa finge ter um interesse genuíno pelas perguntas, quando na verdade só lhe interessa exibir o que considera a sua superioridade cultural. Segundo, a pessoa não tem em mente uma investigação séria que vise responder às perguntas, mas antes um discurso heróico e reconfortante que nos diga que os seres humanos são superiores.
Contudo, para quem se interessa genuinamente por estas perguntas, o livro Last Ape Standing é uma excelente leitura. O autor, Chip Walter, não é cientista; mas informou-se sobre os últimos desenvolvimentos científicos quanto à nossa origem e apresenta-nos esses dados e especulações numa prosa simples e divertida.”
Na citação supra, verificamos a arrogância do naturalismo, escondida sob a capa rota e depauperada de Antístenes, o cínico, que, seminu e envolto na sua capa rota, dizia que Platão era um vaidoso e que “se comportava como um cavalo que se pavoneia”. E Sócrates, vendo que Antístenes exibia ostensivamente a parte mais degradada da sua capa, dizia-lhe: “ Vejo, pelo teu manto, ó Antístenes, que procuras a glória” [citação de Diógenes Laércio].
A Desidério Murcho só lhe falta o bastão tradicional do cínico grego para distribuir bordoadas por tudo quanto é gente. Por detrás da complacência em relação à Natureza, vive um cínico grego actualizado que procura a glória mediante a exibição pública da sua paupérrima capa. A capa rota do cínico moderno é o politicamente correcto que inclui uma mundividência falaciosa acerca do ser humano. A superioridade do cínico moderno — tal qual acontecia com Antístenes — reside na negação sistemática, no ser humano, de qualquer superioridade.
A lógica do niilismo cínico é esta: se se afirma que “ninguém é culturalmente superior”, então, “é culturalmente superior quem constata que ninguém é culturalmente superior”. E a superioridade última do cínico moderno, em relação ao comum dos mortais, consiste nomeadamente em constatar e afirmar que o ser humano não é superior ao símio.
Ao cínico não lhe interessa a ciência: antes, segue um dogma. O cínico é a antítese do céptico grego (cepticismo científico); e transformou-se no céptico moderno que não questiona o seu dogmatismo céptico. Para o cínico moderno, o cepticismo é um dogma (por exemplo, Bertrand Russell).
E mesmo não fazendo a mínima ideia de como, por exemplo, uma baleia “surgiu” de uma bactéria ou de um organismo unicelular, o cínico moderno exibe a sua capa rota, procurando a glória, e afirmando que “uma baleia é uma bactéria que é um cão que é um lobo que é um símio que é um ser humano”. E nivelando tudo e todos pela mesma bitola, o cínico afirma, glorioso, a sua superioridade.
Culturalmenete, ninguém é superior num contexto global, desde que a mesma cultura não leve em conta efeitos finais de atos cujo nível moral dos agentes não steja implicado. Entendo que o céptico relativiza tudo, o cínico nivela todos por baixo, o delirante nivela a todos pelo cimo e o pensador livre é o único que sabe que – não importa o que faça para conseguir -, se você quer um ovo frito, você terá um ovo frito e o comerá.
O problema a propor ao que constata que “ninguém é culturalmente superior” é: quanto tempo leva alguém para constatar que ninguém é culturalmente superior. Não há avanço cultural possivel àquele que chega a essa conclusão, tendo em vista o que busca sustentar ou concluir. Portanto, qualquer o que houve nele foi uma degradação cultural, uma implosão conceitual de per si. Uma cobaia de uma axioma é o que se torna. Ou melhor, um bufão que corre sozinho e chega em segundo lugar…
GostarGostar
Comentar por Ebrael Shaddai — Domingo, 10 Março 2013 @ 11:18 pm |
ERRATA:
Primeiro parágrafo: “Culturalmenete, ninguém é superior num contexto global, desde que a mesma cultura não leve em conta efeitos finais de atos cujo nível moral dos agentes esteja implicado.”
Segundo parágrafo: 1) “quanto tempo leva alguém para constatar que ninguém é culturalmente superior?”. 2) “Portanto, qualquer que seja a conclusao a que ele chegue, o que houve nele foi uma degradação cultural, uma implosão conceitual de per si. Uma cobaia de um axioma é o que se torna.”
Desculpe-me pelos erros, escrevi o comentario muito rapidamente. Se já estava difícil para eu entender o que eu mesmo escrevia, imagine a você se permanecessem os erros. Claro, tal correção não reinvindica qualquer validade lógica do que eu declarei acima. 😀
GostarGostar
Comentar por Ebrael Shaddai — Domingo, 10 Março 2013 @ 11:25 pm |
Permito-me duas notas acerca do seu comentário:
1/
O céptico grego não é a mesma coisa que o céptico da Idade Moderna. O próprio Sócrates foi céptico por intermédio do método da maiêutica. É neste sentido que se interpreta o cepticismo grego.
2/
Vamos colocar isto de uma maneira tal que quase toda a gente perceba, porque eu gosto dos conceitos simplificados (o que não significa que sejam simples).
A/ Os “efeitos finais dos actos” são as consequências (morais) dos actos de cada pessoa.
B/ A “não-implicação do nível moral dos agentes” significa que se está a falar de uma “neutralidade moral”.
C/ Portanto, podemos traduzir assim a proposição:
“Culturalmente, é provável (e até uma certeza) alguém ser superior a outrem, dentro de uma mesma cultura — excepto se, e somente se, as consequências dos actos de cada uma e todas as pessoas que compõem a sociedade, sejam consideradas moralmente neutras”.
Sendo assim, não posso deixar de concordar. A neutralidade moral é sinónimo de igualdade moral.
GostarGostar
Comentar por O. Braga — Segunda-feira, 11 Março 2013 @ 1:28 am |
Bem, agradeço a gentileza de “decifrar” o que nem eu mesmo soube expor, por se tratarem mesmo de complexidades e pensamentos fragmentados.
Lembro, no entanto, minha abordagem é a partir do observador, e não do agente. Quando digo “(…) desde que a mesma cultura não leve em conta efeitos finais de actos cujo nível moral dos agentes não esteja implicado”, a neutralidade moral é premissa do observador para que considere todos “iguais” moralmente. Fora o relativismo puro (que me parece mais um artifício de aceitação, cínico quando oportuno), não conheço nenhuma espécie de ação (ou furtar-se da ação, ambos atrelados ao mecanismo volitivo), bem como de pensamento, moralmente neutra.
Enfim, teria de realizar algum curso de Filosofia de verdade, ao invés de ficar testando esse cérebro não treinado à exaustão :D.
Boa noite e, mais uma vez, lhe agradeço!
GostarGostar
Comentar por Ebrael Shaddai — Segunda-feira, 11 Março 2013 @ 2:21 am