
Okakura Kakuzö
Schelling — baseando-se em S. Tomás de Aquino e Santo Agostinho — chamou muitas vezes à atenção de que não é possível a um ser humano pensar a subjectividade sem contradições, porque a subjectividade é circular em si mesma — mas Heidegger e Gadamer pensaram que Schelling era burro. E por isso, ambos fizeram de conta que a auto-referencialidade não existia, e particularmente Heidegger fez da filosofia uma série de romances de cordel que ainda hoje encantam as mentes mais intelectualizadas.
¿ Existo porque penso, ou penso porque existo?
Repare-se na frase: “Houve um tempo em que eu não vivia, e chegará um tempo em que já não viverei”. Na tentativa de pensar a minha não-existência, tenho que produzir uma imagem de mim próprio; como se eu fosse outra pessoa; tenho que “saltar para fora” de mim próprio — o que é uma impossibilidade objectiva: nunca posso “pensar-me a mim próprio” a partir do “exterior de mim próprio”. Se me penso a partir do exterior de mim próprio, então não me penso a mim; e se me penso a partir do interior [de mim próprio], então não posso pensar o que seria “não existir”.
Os inteligentes, que publicaram livros, como Heidegger ou Gadamer, pensam que a auto-referencialidade é um conceito medieval e ultrapassado pela “evolução da lógica”.
Segundo Gödel (outro grande burro!), todos os sistemas auto-referenciais são insondáveis. Se traduzirmos o teorema de Gödel em modo filosófico e metafísico, teremos que deduzir o facto geral de “eu ser prisioneiro de mim próprio”, não me podendo ver a partir do exterior.
A ciência e a filosofia vêem as coisas a partir da terceira pessoa, mas a subjectividade — a alma, a consciência, o espírito; chamem-lhe o que quiserem — só pode ser descrita adequadamente na primeira pessoa. Ou seja, todo o saber científico e/ou filosófico sobre o “eu” pessoal e individual é apenas indirecto, e não pode ser outra coisa. Qualquer perspectiva de “terceira pessoa” não penetra no “eu individual”.
Não obstante, terá que existir algo em comum entre todas as almas individuais: a intersubjectividade. Sem a intersubjectividade e sem a consciência, não seria possível a ciência.
(Os verbetes desta série — “A Questão da Medicina e a Morte como Questão”, de Sofia Reimão — podem ser lidos sob esta categoria).
AVISO: os comentários escritos segundo o AO serão corrigidos para português.