Uma equipa de sete economistas do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento passou o último ano a analisar as economias dos países do Sul da Europa e, no caso português, recomendam que o Governo inicie, de imediato, negociações para rever o memorando de entendimento com a “troika”, e renegociar uma fatia de 41% da dívida do país.
via Nações Unidas: Portugal deve renegociar já parte da dívida – TSF.
Eu moro num condomínio fechado de classe média, ou seja, não é um condomínio de luxo, embora também não seja um edifício vulgar de apartamentos. Em Setembro deste ano foi despejada uma família por dívida ao Banco; ontem, vi outra família em mudanças, pela mesma razão. Ou seja, a classe média já começa a ficar pobre. Não se trata de especulação teórica ou política: eu constato esse facto pela minha própria experiência.
Talvez o efeito mais perverso da política de Passos Coelho é o facto de os pobres ainda conseguirem sobreviver com alguns apoios do Estado, mas a classe média começa a não ter nenhum apoio a não ser que se torne pobre. Dou um exemplo.
Conheço um caso de uma mulher divorciada, com um filho, que tinha comprado um apartamento há 7 anos. Entretanto divorciou-se mas ficou com o apartamento. Para não cair no desemprego, ela trabalha a recibos verdes com um rendimento liquido mensal de cerca de 200 Euros. E no entanto, Passos Coelho considera 5% do valor do apartamento — apartamento que pertence ao Banco! — como sendo parte do rendimento da mulher: ou seja, em vez de o Estado considerar que ela ganha cerca de 2.000 Euros / ano, o Estado considera que ela ganha cerca de 11.000 Euros / ano, na medida em que inclui no rendimento dela 5% do valor do apartamento!. E por isso, quando essa mulher leva o seu filho ao hospital, paga taxa moderadora elevada.
Esta história verdadeira dessa mulher é apenas um exemplo da guerra de Passos Coelho contra a propriedade privada da classe média. Das duas uma: ou essa mulher vende o apartamento ao Banco por “tuta e meia”, ou não tem nenhum apoio social do Estado. Passos Coelho pretende transformar Portugal — que está na União Europeia e na zona Euro — numa espécie de Suíça, mas sem o sistema bancário suíço e sem a autonomia soberana e monetária da Suíça.
Toda a política de Passos Coelho se pode resumir nisto: nivelar a classe média por baixo: pretende criar apenas duas classes sociais: os muito ricos e os pobres. É a isto que eu chamo sinificação, que tem por característica principal a erradicação da classe média e, consequentemente, tendo como objectivo o fim da democracia.
Há pouco vinha de viagem e ouvi no carro uma entrevista da TSF ao economista Artur Baptista da Silva, coordenador do Observatório Económico e Social das Nações Unidas para a Europa do Sul. Recomendo ao leitor a audição.
As recomendações de Artur Baptista da Silva são incompatíveis não só com a ideologia neoliberal de Passos Coelho (e isto é objectivo), mas também com as aspirações pessoais e privadas da dupla Passos Coelho / Miguel Relvas (e isto é apenas a minha opinião subjectiva) que se afastam do interesse nacional.
Das duas, uma: ou Cavaco Silva demite Passos Coelho, ou não. Se demite, isso não significa necessariamente eleições: pode existir uma solução de tipo Mário Monti. Se não demite, temos que concluir que existe um conúbio político entre os dois (“em política, o que parece, é”). E a existir um conúbio político entre os dois, então torna-se urgente uma intervenção das Forças Armadas que envie os dois “a toque de caixa”, por exemplo, para o Brasil.

Ai aguentam,aguentam!
Chega a ser comovente o seu esforço para isentar o PP das responsabilidades das políticas deste governo. Por mais fotografias que o meu amigo coloque do Relvas, do Passos e do Gaspar há quem não se esqueça que o actual governo é apoiado pelo PP de Paulo Portas. Que por sinal está cheio de neoliberais, sendo Paulo Portas um deles
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Comentar por Henrique Cardona — Domingo, 23 Dezembro 2012 @ 2:20 pm |
1/ Já estamos a avançar um pouco: no seu último comentário neste sítio, você não atribuía qualquer “responsabilidade” a Passos Coelho. E agora já fala em “responsabilidade”, o que constitui um progresso da sua parte.
2/ Segundo Passos Coelho, e ouvi da boca dele, Paulo Portas é o “número 3” do governo. Portanto, a responsabilidade de Paulo Portas é a inerente ao “número 3” do governo.
3/ Quem traça linha política de um governo é o primeiro-ministro — ou seja, Passos Coelho — e não o “número 3” do governo.
4/ Em resumo: não se queira atribuir ao “número 3” do governo a responsabilidade que tem o primeiro-ministro.
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Comentar por O. Braga — Domingo, 23 Dezembro 2012 @ 2:33 pm |
[…] até que o vi no programa do canal SIC “Expresso da Meia-noite”. Depois, ontem durante o dia, ouvi novamente o Artur Baptista da Silva em uma entrevista na rádio TSF. E qual foi o meu espanto quando a mesma SIC, que o entrevistou no programa de Sexta-feira, anuncia […]
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Pingback por Artur Baptista da Silva, as guerras intestinas na SIC, e a bovinotecnia do Blasfémias « perspectivas — Segunda-feira, 24 Dezembro 2012 @ 12:46 pm |