Neste sentido, nos próximos dias iremos verificar, de facto, se o CDS/PP de Paulo Portas é um partido democrata-cristão, ou se é um partido neoliberal travestido da democracia cristã.
Na parte das “obrigações dos ricos e dos patrões”, Leão XIII prescreve, por exemplo, que estes devem tratar os trabalhadores com dignidade e respeito devidos ao Homem; que o trabalho honra o Homem porque lhe fornece um nobre meio de sustentar a sua vida; que é vergonhoso e desumano usar os homens como vis instrumentos de lucro e não os estimar senão na proporção do vigor dos seus braços; proíbe que os patrões imponham aos seus subordinados um trabalho superior às suas forças ou em desarmonia com a sua idade ou o seu sexo.
Também entre as obrigações dos patrões, diz Leão XIII que é necessário colocar, em primeiro lugar, o de dar a cada um o salário que convém; que explorar a pobreza e a miséria, e especular com a indigência, são coisas reprovadas pelas leis divinas e humanas; que cometeria um crime de clamar vingança ao céu quem defraudasse a qualquer homem no preço do seu trabalho; que os ricos devem precaver-se da fraude, de toda a manobra usurária que seja de natureza a atentar contra a economia do pobre e da sociedade em geral.
Ora, o governo de Passos Coelho tem-se mostrado, na sua prática política, contra a doutrina social da Igreja Católica — o que o incompatibiliza com qualquer movimento político da democracia cristã — quando, por exemplo, pretende agora transferir directamente [e escandalosamente], com uma lei da Taxa Social Única (TSU), e por via administrativa, uma parte substancial dos rendimentos do trabalhador para os bolsos dos ricos e dos patrões. Do ponto de vista da doutrina social da Igreja Católica, esta medida é inadmissível e intolerável.
Passos Coelho faz parte de uma nova geração de políticos sem escrúpulos, sem memória ética, formatados na filosofia barata hayekiana e no cepticismo moral e ético de David Hume que caracteriza a ideologia neoliberal de Hayek, providos de uma ética teleológica que não olha a meios para atingir os seus fins. A diferença substancial entre Passos Coelho e José Sócrates é nenhuma: ambos não podem ter o apoio de um democrata-cristão. Porém, sabemos que a situação de Portugal obriga a certos compromissos com o “diabo” — o que não significa que não tenhamos que impôr ao “diabo” a nossa mundividência ética.
Se Passos Coelho não recua nesta medida da TSU, qualquer democrata-cristão tem a obrigação moral de procurar alternativas políticas para o nosso país. Ou seja, significa uma crise política e o derrube deste governo, e a formação de um novo governo de salvação nacional de iniciativa presidencial, com um novo primeiro-ministro, e com um largo consenso político.
Apoiado por unanimidade e aclamação!
Já é tempo de alguém ter a coragem de pôr em letra de forma aquilo que mais de metade da população portuguesa pensa.
Cumpts
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Comentar por Inspector Jaap — Sexta-feira, 14 Setembro 2012 @ 9:42 am |