perspectivas

Sábado, 7 Julho 2012

Um exemplo do “cristão bonzinho”, e “a partícula de Deus”

“Apesar de não ter visto muito apropriamento do tema por parte dos ateus, tenho visto alguns cristãos (poucos) a reagirem adversamente à descoberta da chamada “partícula de Deus” (i.e. o bosão de Higgs). Parece que algumas pessoas terão pensado que se trata de uma descoberta científica que refuta a existência de Deus.

Não é assim, de todo. E a prova está em que a Igreja Católica (na esteira daquilo que já é sua tradição) veio saudar entusiasticamente mais esta descoberta científica como uma contribuição positiva para a Humanidade.”

via Crónicas de uma peregrinação: A «PARTÍCULA DE DEUS».

O “cristão bonzinho” é aquele que, entre outras coisas perversas, colabora activamente com o cientismo, seguindo o princípio calvinista e revolucionário segundo o qual “quanto mais me batem e me martirizam, mais santo me torno”, e por isso, há que incentivar o martírio.

Se, para ser mártir, é mister que me crucifiquem, então há que incentivar os outros a proceder activamente no sentido da minha crucificação — trata-se de uma interpretação errada dos Evangelhos e da Paixão de Jesus Cristo.

Em primeiro lugar, o problema dos cristãos não é o “temer”, ou “não temer”, o bosão de Higgs. O problema é o de reagir, ou não, contra a atitude cientificista de o apelidar de “partícula de Deus”.

Em segundo lugar, não foi Higgs que alcunhou a sua putativa partícula de “partícula de Deus”. Antes, foi o prémio Nobel Leon Lederman. Existe uma intencionalidade metafísica por detrás desta nomenclatura que não pode ser negada senão por um idiota “cristão bonzinho”…

Em terceiro lugar, o que foi encontrado pela ciência foi uma “pegada” — um indício; uma evidência — de algo que pode ser a partícula de Higgs, mas que não se sabe ainda se é, de facto, a tal partícula de Higgs.

Em quarto lugar, e mesmo que se venha a demonstrar que a tal “pegada” é, de facto, a partícula de Higgs, tratar-se-ia de uma descoberta modesta que custou um balúrdio de dinheiro, e que apenas viria validar o chamado “Modelo Padrão” [ou Standard] da física quântica que exclui a força da Gravidade.

Vamos deixar de ser “cristãos bonzinhos” e adoptar o espírito crítico. O Cristianismo não é incompatível com o espírito crítico e com a Razão.

3 comentários »

  1. A sua primeira e segunda objecções são de alguém que não leu o meu artigo.
    .
    “Em suma, os cristãos não devem temer o bosão de Higgs. E talvez devêssemos respeitar os desejos do Prof. Higgs (que é ateu) e abandonar essa alcunha. Mesmo para os cristãos, gera mais confusão do que conhecimento…”
    .
    Notar também o link que eu coloquei e que explica de onde vem o termo “partícula de Deus”.
    .
    http://noticias.terra.com.br/educacao/vocesabia/noticias/0,,OI5516575-EI8399,00-Qual+e+a+origem+da+expressao+particula+de+Deus.html
    .
    .
    A sua terceira objecção é indiferente para o objectivo do meu post, que era explicar o que era o bosão de Higgs e por que motivo se denominava “a partícula de Deus”.
    .
    A sua quarta objecção é igual à da minha avó: Por que gastaram tanto dinheiro para ir à Lua?
    .
    Finalmente, enquanto “cristão bonzinho” digo-lhe que abandono aqui este debate. Não debate com pessoas que comentam os post’s dos outros sem os notificar, deturpando as suas palavras e insultando o seu autor. Faça o favor de deixar este meu comentário aqui, como legítima defesa contra os seus ataques e faça também o favor de me esquecer e ao meu blog. Muito obrigado.

    Gostar

    Comentar por Alma Peregrina — Domingo, 8 Julho 2012 @ 5:12 pm | Responder

    • O seu comentário veio dissipar quaisquer dúvidas que pudessem subsistir. Obrigado.

      Foi você que não leu o meu artigo. Desde logo porque você atribuiu, preto no branco, ao professor Higgs a autoria do baptismo da “partícula de Deus” que não foi dele.

      O artigo para onde você aponta a ligação é enviesado — não fosse ele brasileiro, tal como os portugueses — na medida em que os próprios cientistas sérios do projecto reconhecem que não têm ainda a certeza se aquilo que encontraram é, de facto, o bosão de Higgs. Ora, o artigo que você indicou dá como certo que se trata do bosão de Higgs.

      Não passa pela cabeça de alguém com dois dedos de testa dizer que é indiferente se um facto é verdadeiro ou não. Dizer que é indiferente se se trata realmente do bosão de Higgs, ou não, não fica bem a quem diz que procura a verdade.

      Comparar a viagem do homem à lua com aquilo que se obteve, até agora pelo menos, com a demanda do Santo Graal de Higgs, é anedótico. Desde logo porque toda a missão Apolo — desde princípios da década de 1960 até 1969 — custou apenas uma pequena parte daquilo que custou até agora este projecto do CERN. Comparar os custos dos dois projectos roça o absurdo.

      E depois porque em toda a missão Apolo, a humanidade lidou com verdadeira ciência, e não com cientismo; os resultados da missão Apolo são palpáveis e úteis à humanidade, enquanto que na demanda alquimista do ouro de Higgs, para além de não se saber ainda se é de facto aquilo que se procurou, apenas serviu para confirmar o padrão standard da teoria quântica que não inclui nela a força da gravidade. Estou-me a repetir porque você ou não leu o que escrevi, ou não compreendeu, ou fez de conta que não compreendeu.

      Mas deixe-me que lhe diga que era o que faltava que eu deixasse de exercer a minha crítica sobre quaisquer ideias. Critico ideias, e não pessoas, porque nem sequer o conheço nem faço questão de o conhecer. A minha crítica foi em relação aquilo que você representa — como se verificou ser verdadeiro pelo seu comentário — e não à pessoa em si que não faço a mínima ideia se tem os pés grandes ou o nariz comprido. Era o que faltava que você me viesse aqui dizer aquilo que eu devo publicar ou não.

      Gostar

      Comentar por O. Braga — Domingo, 8 Julho 2012 @ 6:08 pm | Responder

  2. Perante a incompreensão generalizada, a ciência vai sendo vítima de um encarceramento ideológico. A descoberta ou não do bosão de higgs não representa nada de muito significativo, no momento actual, para a mecânica quântica.

    Como já o Orlando disse, o modelo padrão não inclui a gravitação. Da unificação das três forças (fraca, forte e electromagnética) já conseguida até ao momento, falta a força da gravidade, cuja partícula mensageira o “gravitão”, que supostamente tem spin -2, e pouco mais se sabe dela. É evidente que há aqui muito para investigar e estudar e toda esta distracção com o “higgsismo histérico” tem segundas intenções.
    O modelo padrão não pode avançar enquanto o modelo conceptual insistir no empirismo abstracto (multiversos, branas, muros dominiais, etc.) e, não reconhecer a imanência da física quântica.
    É claro que o ateísmo militante e o materialismo dialéctico não se revestem de imanências, a única causa deles é “acausal”, reflecte, de uma forma muito trágica, a insatisfação permanente da incompreensão do mundo.

    Caro Orlando, não ligue às bocas, não se enerve, deixe-os falar. Há poucos blogues como o são, que dizem o que tem de ser dito, sem subterfúgios, sem ambiguidades, de uma forma clara e límpida.

    Gostar

    Comentar por Filipe Crisóstomo (@Skedsen) — Segunda-feira, 9 Julho 2012 @ 9:08 am | Responder


RSS feed for comments on this post. TrackBack URI

AVISO: os comentários escritos segundo o AO serão corrigidos para português.