Por estranho que possa hoje parecer, em Portugal e na década de 80 do século findo, o estado civil do cidadão era importante para que ele arranjasse trabalho numa empresa privada. Se uma pessoa fosse casada, tinha preferência, em caso equivalência de condições académicas, em relação a uma pessoa solteira; e se essa pessoa casada tivesse filhos a seu cargo, a probabilidade de ser recrutado por uma empresa privada era muitíssimo maior do que se não tivesse filhos.
Essa consciência de responsabilidade colectiva em relação ao futuro da sociedade, espelhada na cultura antropológica de há apenas vinte anos, era comum às elites [por exemplo, os empresários] e ao povo. Era como se a sociedade estivesse maioritariamente imbuída de um projecto comum de construção da sociedade e do futuro.
Hoje, para se arranjar trabalho, é praticamente indiferente se o candidato é casado ou tem filhos a cargo; o patrão está-se nas tintas para esse aspecto da vida privada do cidadão [até porque a política e a lei já desclassificaram o estado civil com a sua retirada do Bilhete de Identidade] . A mentalidade do empresário mudou para pior — aproximou-se da mentalidade niilista do Bloco de Esquerda. Hoje, podemos dizer, em termos éticos e morais, que o patrão neoliberal é mais ou menos bloquista; e depois queixa-se que “os empregados não prestam e não têm sentido de responsabilidade”.
É importante que a lei Sócrates que retirou o estado civil do Bilhete de Identidade, seja revogada; é importante que exista uma consciencialização dos novos empresários acerca da diferença objectiva que existe entre quem procura trabalho porque tem filhos para sustentar, por um lado, e outra pessoa que procura trabalho para poder ter dinheiro para ir divertir-se à discoteca à noite, por outro lado. Enquanto esse critério de recrutamento de pessoal não voltar a ser como há 20 anos, a sociedade caminhará inexoravelmente para o seu definhamento.
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