O meu postal de há dias em que assinei por baixo um artigo de Olavo de Carvalho acerca de Ron Paul, causou perturbação no Facebook; diria mesmo que o artigo de Olavo de Carvalho foi considerado por uma certa “não-esquerda” como sendo uma “heresia”.
Eu não vou discutir aqui as ideias que Ron Paul tem para a política interna dos Estados Unidos, não obstante eu não esteja totalmente de acordo com todas elas. O que eu coloco em causa são as ideias de Ron Paul em relação à política externa dos Estados Unidos e à sua teoria de Blow Back.
A teoria do Blow Back de Ron Paul resume-se à ideia segundo a qual o ódio islâmico, por exemplo, em relação aos Estados Unidos deve-se ao facto deste país ter uma política activa internacional, e que — segundo Ron Paul — os Estados Unidos se deveriam abster de ter uma acção e mesmo uma opinião sobre os problemas do médio oriente. Em suma, Ron Paul diz que os Estados Unidos são odiados no médio oriente porque interferem nos assuntos políticos locais — como se outros países do mundo, incluindo a China, também não interferissem no médio oriente…
Mas Ron Paul vai mais longe: no seu novo livro [“Ameritopia”], Mark Levin diz que “Ron Paul pretende desarmar unilateralmente os Estados Unidos”. A teoria do Blow Back de Ron Paul é uma teoria desconstrutivista da História, e auto-incriminatória de tipo marxista cultural.
Porém, Ron Paul “esquece-se” que os Estados Unidos foram atacados pelos japoneses em Pearl Harbour sem que o seu país tivesse sequer entrado na guerra — o que veio a acontecer depois do ataque; ou seja: não existiu, no caso do ataque a Pearl Harbour, nenhum antecedente de interferência americana em relação aos japoneses que justificasse um acto de Blow Back por parte destes últimos…
Ron Paul é tão nocivo para o movimento conservador americano quanto Newt Gingrich, do qual se veio a saber que exigiu um “casamento aberto” em relação à sua segunda esposa. No caso de Ron Paul, o problema não é moral como o de Gingrich, mas é cultural e nem por isso menos grave.
A natureza tem horror ao vazio; se uma determinada força não ocupa o vazio, outra força fá-lo-á. E Ron Paul está convencido de que a melhor forma de governar os Estados Unidos é deixar que o vazio no Oriente Médio seja ocupado pelo globalismo russo-chinês.
Adenda:
Recebi um email com o seguinte comentário:
“Se me permite, algumas observações:
Apesar dos japoneses da época serem umas ricas biscas, o certo é que os americanos interferiram com os japoneses antes de Dezembro de 41, embargando-lhe a venda de bens a partir de 1940, e de petróleo em Julho de 41.
E quanto a mim muito bem, porque os japoneses eram uns animais. Mas o certo é que interferiram.”
Vemos aqui um exemplo de como se “é preso por ter cão e preso por não ter”. Qualquer coisa que os americanos tivessem feito, ou não feito, seria sempre uma forma de interferência. O facto de os Estados Unidos recusarem relações comerciais com um determinado país, é considerado como sendo interferência; mas se os Estados Unidos não tivessem recusado as relações comerciais, também seria considerado como uma forma de interferência.
O embargo da venda de produtos de um país a outro é um acto de política corrente que decorre da liberdade desse país, e não uma forma de interferência nos assuntos internos do país embargado. É um direito negativo, e não um direito positivo.
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