Karl Popper foi um neo-kantiano — tal como Eric Voegelin o foi, antes de se ter demarcado dessa corrente filosófica. Uma característica comum a todos os neo-kantianos é a conjugação do cepticismo (entendido aqui no sentido filosófico, e não no sentido comum do termo) com um racionalismo exacerbado.
Porém, tal como Kant antes dele, Karl Popper teve imensas dificuldades em validar uma ética sem a religião. Ao longo da sua obra, Karl Popper fala amiúde em religião, como se o assunto fosse polémico mas incontornável e necessário; e o mesmo aconteceu com Kant, que para validar a verdade intemporal sem a qual nenhuma ética é possível, teve que reconhecer (foi obrigado, pelo seu racionalismo) explicitamente a necessidade da religião.
Na Crítica da Razão Prática, Kant reconheceu a necessidade de “princípios práticos” que norteiem a ética. E, segundo Kant, existem dois tipos de princípios práticos: os subjectivos e os objectivos. A ética, para ser universal, só se pode basear em princípios práticos objectivos (e continuo a descrever o raciocínio de Kant). Porém, os princípios práticos terão sempre que se basear na experiência humana que é, por sua própria natureza, individual e subjectiva. E aqui começa o “problema” da ética de Kant.
Kant reconheceu o óbvio: a união entre a felicidade e a virtude é uma impossibilidade objectiva. E conclui que estas duas noções (felicidade e virtude) constituem em si mesmas dois regimes opostos à razão: a sua reconciliação postulada não pode recorrer senão à religião (Kant chama-lhe, eufemisticamente, “ordem da fé”). Portanto, quando se diz que Kant foi contra a religião, isso não é totalmente verdade; ele tentou ir contra a religião, mas o seu racionalismo não o permitiu — a religião é entendida como uma espécie de “mal necessário”.
Uma coisa parecida com esta aconteceu com Karl Popper e, em certa medida, com Eric Voegelin, embora este último tenha alterado a sua posição de uma forma quase radical. Para um verdadeiro racionalista, a religião é um facto incontornável: mesmo que ele não seja religioso, ele acaba por reconhecer a necessidade e utilidade da religião — tanto em termos racionais e lógicos, como em termos de utilidade para a construção de uma ética que deve ser sempre universal.
Não é possível uma ética universal sem que o sujeito abdique a priori do seu interesse próprio nas questões éticas principais, e isso só é possível em uma ética que inclua Deus na sua equação. Em termos estritamente utilitaristas, podemos dizer que Deus é útil para a construção de uma ética que é, por definição, universal; em termos realistas, podemos dizer que uma ética não pode existir sem Deus.
Ora aí está a grande questão. A ética, nenhuma ética, pode existir sem Deus. Este problema já foi notado por diversos cientistas e investigadores. O que faz com que a religião seja um elo importante para se compreender as novas descobertas da física e de outras disciplinas. Essas novas descobertas não serão entendidas na sua totalidade sem uma ética baseada em Deus. Este é um problema muito recorrente nas actuais teorias de supercordas e supersimetria. Cumprimentos.
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Comentar por Gonçalo Silva — Quinta-feira, 30 Junho 2011 @ 2:55 pm |
Este último comentário foi postado como sendo de “Gonçalo Silva” o que é um engano, pois trata-se de um comentário feito pelo Skedsen.
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Comentar por Gonçalo Silva — Quinta-feira, 30 Junho 2011 @ 2:57 pm |
Infelizmente tive que fazer isto à possibilidade de comentar, porque os insultos eram constantes e sistemáticos.
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Comentar por O. Braga — Quinta-feira, 30 Junho 2011 @ 6:36 pm |