O Homem moderno está absolutamente convencido de que o mito é coisa do passado, que pertence às chamadas “sociedades arcaicas”. A partir do Iluminismo, o Homem entrou em uma fase de estupidificação causada pelas elites : o pior estúpido é aquele que se julga aquilo que não é.
A partir do Iluminismo, a intelectualidade entrou em delírio interpretativo através de uma racionalização que não é necessariamente sinónimo de racionalidade. Por exemplo, Spencer fez um imenso sucesso quando advogou a ideia de um progresso linear das sociedades, partindo da evolução da sociedade culturalmente homogénea para a “complexidade” da atomização individual.
Durkheim, o inventor da sociologia, seguiu-lhe o rasto ideológico. A partir do conceito de “divisão social do trabalho” — conceito esse que não foi Durkheim quem inventou; ele apenas constatou uma realidade —, Durkheim viu na decadência da sociedade o próprio progresso — o que é a manifestação de uma alienação ideológica. Esta visão alienada de Durkheim foi marcada pela sua própria subjectividade de judeu religioso devoto, e filho de rabinos vivendo em uma sociedade de cristãos.
E aqui coloca-se o problema da objectividade das “ciências sociais”, que de facto não existe nem pode existir. Ao pretender relegar o sujeito para a periferia da sua teoria, Durkheim entrou em uma dissociação mental extrema, submetendo-se a uma hiper-objectividade que implica necessariamente uma hiper-subjectividade — ou seja, o teórico das ciências sociais, neste caso Durkheim, entregou-se a uma subjectividade incontrolada e inconsciente de si mesma.
O corolário do progresso linear de Spencer e Durkheim, rumo à atomização individualista da sociedade, foi não só a I Guerra Mundial, como o estalinismo e o nazismo. E subjacente à aberração ideológica que descambou na tragédia humana do século XX, está a dialéctica de Hegel.
No primeiro postal sobre O Erro de Hegel, fiz uma crítica a partir da quântica, e parece que muita gente não a percebeu porque desconhece alguns conceitos quânticos. Mas a verdade é que Hegel é vendido no mercado das ideias inserido num pacote ideológico, constituindo-se assim o “mito da dialéctica”.
Ao contrário do que se possa, hoje, pensar, o mito não é uma coisa considerada falsa; a ideia do mito como uma falsidade foi instituída pela própria intelectualidade alienada saída do Iluminismo, por forma a esconder a realidade da existência inexorável do mito como algo de verdadeiro e imprescindível às sociedades e ao indivíduo. Em consequência desta mascarada iluminista, o mito passou a ser sinónimo de falsidade e por isso deixou, aparente e oficialmente, de existir como parte da realidade social; o mito foi como que eliminado por decreto-lei emanado dos detentores de alvará de inteligência; o Homem passou a negar a sua própria realidade — o que é o máximo a que a alienação humana pode chegar: o Homem adoptou, entre outros mitos, o mito segundo o qual o mito é uma falsidade. A sociedade entrou numa esquizofrenia de pensamento circular e alienado.
Assim, e apesar de todas as evidências da tragédia histórica, o mito da dialéctica não morreu porque, na sua condição de mito, é considerado verdadeiro (embora os mitos sejam hoje sinónimo de falsidade). Trata-se de um tipo de mito que em vez de conservar a sociedade, condu-la à decadência e mesmo à extinção num fatídico compasso ternário, em uma espécie de valsa vienense dançada à beira do abismo e da morte.
A filosofia de Hegel é muito difícil — para mim é difícil compreendê-la em algumas partes porque me parece mesmo ininteligível, e pior ainda é explicá-la — e apenas vou aqui abordar a questão da dialéctica, até porque há outras coisas na filosofia de Hegel que não merecem grande contestação. Mas vou deixar isso para o próximo postal, porque este apenas serviu para situar Hegel no contexto histórico do Iluminismo e das suas consequências.
Olavo de Carvalho em seus cadernos de filosofia, explica que o homem tem mania de inventar algo, e depois tenta explicar toda a realidade com base nesse algo que ele inventou, como um cachorro que corre atrás do próprio rabo. Ele cita a época em que inventaram o relógio e a moda era explicar o funcionamento do corpo humano como se fosse um relógio.
No mundo moderno algo parecido ocorre com computadores onda há gente que crê que o cerebro é um computador, quando na verdade quem entende de computação sabe que o computador é só mais uma criação do homem.
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Comentar por shâmtia ayômide — Quarta-feira, 6 Outubro 2010 @ 3:31 pm |
O problema é que aqui ninguém comenta, mas como os meus postais vão parar ao FaceBook, é lá que se cria a polémica.
Em 06-10-2010 15:31,
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Comentar por O. Braga — Quarta-feira, 6 Outubro 2010 @ 4:35 pm |
Aqui no Brasil o Facebook ainda não virou moda, os brasileiros ainda gostam do degenerado Orkut.
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Comentar por shâmtia ayômide — Quarta-feira, 6 Outubro 2010 @ 6:25 pm |