Esta notícia começa por chamar racista ao novo dirigente do partido republicano em Nova Iorque, para no segundo parágrafo dizer que “pelo menos utilizou em um dos seus emails a palavra N”. Antes de continuar a comentar esta notícia, chamo a atenção para esta outra:

Voltando à primeira notícia, a do N de Negro.
Desde logo, parece que dizer que alguém é negro é insultuoso; parece que quem utiliza a palavra “negro” é racista. E de tal forma que o articulista não se atreve a pronunciá-la: em vez disso utiliza a “palavra N”. Negro é tabu. Ao mesmo tempo queos negros se reúnem em torno do conceito de negritude, na literatura e na cultura em geral, assistimos a um fenómeno cultural interessante que é o de a negritude passar a ser celebrada pelos negros ao mesmo tempo que o politicamente correcto branco — ou marxismo cultural, decorrente da cultura branca e europeia — não se atreve a pronunciar a “palavra N”.
O articulista diz que o político republicano “pelo menos utilizou em um dos seus emails a palavra N”; e, para se distanciar de uma tão pecaminosa conduta, nem se atreve a pronunciar a palavra (sacrilégio e blasfémia!). “Pelo menos uma vez”; pecado abominável que o puritanismo do gnosticismo moderno não tolera. Temos hoje um novo Jansenismo que reúne no seu seio os auto-eleitos e predestinados, escolhidos pela Providência para a salvação.
Por último: esta merda é jornalismo ?! Comenta-se a acção de um político através de um ataque ad Hominem baseado em “pelo menos um email” que ninguém sabe quem o recebeu, e mesmo se existiu ?!
A segunda notícia diz respeito à ministra feminista e abortista do governo de Zapatero. Perante um vídeo “sexista” — segundo os padrões do politicamente correcto —, a ministra abortista branqueia o “sexismo” do vídeo porque — implicitamente — o vídeo é de autoria da central sindical socialista espanhola, a UGT. Se um outro vídeo desligado da política correcta utilizasse a mesma linguagem, os me®dia politicamente correctos publicavam um chorrilho de protestos e de veemências; mas tratando-se de “gente da nossa equipa”, a coisa passa por ser “linguagem humorística”.
Quando a esquerda chama de puta e escrava à Mulher, é humor; quando o faz a direita, é sexismo. Temos aqui bem ilustrado o fenómeno ideológico de “tolerância repressiva”, segundo Marcuse: tudo o que vem da esquerda é bom (nem que seja uma barbaridade), e tudo o que vem da direita é mau.
Decorrente deste tipo de fenómeno cultural, as pessoas já não sabem bem o que é humor e o que não é; passam a rir e a abespinhar-se em função de uma ordem política, tal como acontece naqueles programas de televisão em que as pessoas se riem, aplaudem e choram a pedido da realização do programa. Hoje, perante uma anedota, as pessoas começam a ter medo de rir. O humor passou a ser coisa intima e privada, só possível dentro de quatro paredes da habitação.
As pessoas passam a rir-se sozinhas e isoladas, com medo de implicações políticas e atitudes persecutórias; têm medo de se rirem e levarem uma lambada política. E de repente, há alguém importante que se levanta e diz: — “sobre este assunto, podem rir à vontade porque a gente permite”.
AVISO: os comentários escritos segundo o AO serão corrigidos para português.