Num primeiro momento, Ortega y Gasset considera o pensamento como uma excrescência vital e biológica, ou seja, para ele o cérebro produz o pensamento da mesma forma que o intestino produz os excrementos — segue o princípio do epifenomenalismo de Thomas Huxley. Ortega y Gasset reduz o pensamento de um qualquer ser humano ao estatuto de um peido.
Porém, num segundo momento e na mesma página do livro, Ortega y Gasset contradiz-se:
Consequentemente, as funções vitais em que estas coisas se produzem, para além do seu valor de utilidade biológica, têm um valor por si. »
Ou seja, Ortega y Gasset reconhece que há “peidos biológicos” e “peidos transcendentais”; os primeiros são os que decorrem das funções vitais biológicas, e os segundos são os que “valem por si” e são “espirituais” — mas ele não explica a razão ou a causa da diferença entre os dois tipos de flatos. Dentro da dimensão dos peidos espirituais, Ortega y Gasset insere o fenómeno da cultura.
A diarreia mental de Ortega y Gasset esteve na base da confusão de Heidegger entre imanência e transcendência, e influenciou — entre outras — a filosofia de Hayek.
No século XIX o epifenomenalismo estava na moda. Reza a História que num simpósio de investigadores da natureza, realizado em Göttingen, Alemanha, em 1854, um fisiólogo presente de seu nome Jabob Moleschott declarou que, “tal como a urina é uma secreção dos rins, assim as nossas ideias são apenas secreções do cérebro”. Perante isto, o conhecido filósofo Hermann Lotze levantou-se, e disse que “ao ouvir tais ideias do meu colega conferencista, quase acreditei que ele tinha razão…”
Porém, Ortega y Gasset deve ser desculpado porque no tempo em que escreveu isto (1921) ainda não se sabia que quando uma onda quântica — que não tem massa, e portanto, não é matéria — é observada por uma consciência, aquela se transmuta em partícula (matéria). Portanto, está demonstrado pela física quântica que o pensamento, como consequência e prolongamento de uma consciência, é algo mais do que um simples peido cerebral.
«Perante isto, o conhecido filósofo Hermann Lotze levantou-se, e disse que “ao ouvir tais ideias do meu colega conferencista, quase acreditei que ele tinha razão…”
Fenomenal e inteligente ironia!
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Comentar por Henrique — Domingo, 25 Julho 2010 @ 12:08 pm |