Entre Passos Coelho e Paulo Rangel, não tenho opinião. Se fosse militante do PSD, e entre estes dois, optaria pela abstenção. Eu cheguei a ser militante do PSD quando estava a estudar, no tempo de Sá Carneiro ― no tempo em que o PSD era o PPD. Deixei o PPD quando este se transformou em PSD.
O PPD de Sá Carneiro não era o PSD, embora depois do 25 de Abril de 1974 e no tempo do PREC, todos os partidos políticos em Portugal eram obrigados a ser “socialistas”. O PPD de Sá Carneiro era o Partido Popular Democrático (PPD) que seguia o seu trajecto natural entre a social-democracia não-marxista e a direita democrática.
Paulo Portas viu o “furo” abandonado pelo PPD reduzido a um PSD, e transformou o CDS em CDS/PP (Partido Popular). Porém, o CDS é menos PP de “Partido Popular” e mais PP de “Paulo Portas”. O CDS/PP não tem um linha ideológica coerente que passe também pela definição clara e publicamente assumida de uma mundividência. Porém, o mesmo acontece hoje com todos os partidos, incluindo mesmo o BE, e excluindo o PCP que é o único que mantém um fio condutor ideológico (e por isso é que o PCP não perdeu votos ao longo de décadas, ao contrário do que aconteceu com os partidos comunistas por essa Europa fora).
Portanto, continua por cumprir a missão do PPD estipulada e delineada por Sá Carneiro como um grande partido popular da direita democrática, que englobaria não só os sociais-democratas moderados e não-marxistas, como a componente democrata-cristã da nossa sociedade. Esse partido popular deixou de existir definitivamente com a saída de Cavaco Silva de primeiro-ministro, embora já na altura tivesse perdido a designação de PPD. Santana Lopes teimou e teima ainda na sigla PPD/PSD. Mas é o único. O PSD foi perdendo a alma e a ideologia, e foi-se transformando num partido de clientelas políticas ― tal como acontece hoje com o PS de José Sócrates.
A eleição ou de Paulo Rangel ou de Passos Coelho significa a morte definitiva do PPD ― será o “desligar da máquina ventiladora” que ainda lhe sustentava a vida. Com a eleição de um destes dois senhores para líder do definitivo PSD , e por razões diferentes, o PPD desaparece definitivamente da cena política portuguesa, o que significa que passa a fazer todo o sentido o seu ressurgimento com novas roupagens e personagens.
Portugal precisa de renovar o PPD de Sá Carneiro, que não é o PSD nem de Passos Coelho nem de Paulo Rangel. E se esse PPD já não existe, teremos que o reinventar.
Concordo parcialmente com o seu comentário. Quando o regime é constituído por partidos dominantes ao serviço das clientelas políticas e económicas, dos grandes escritórios de advogados, maçons e homossexuais, com ataques conscientemente organizados às estruturas sociais, à família, para destruturar e assim reinar, o que precisa de reinvenção é o próprio regime.
Tenho para mim que estamos muito perto do que se passou na I República, mas com uma grande desvantagem, vivemos numa época do politicamente correcto, em que qualquer discurso de ruptura com a bandalheira e desagregação instalada, é tido como uma extravagância não merecedora de crédito, mesmo que esse discurso se desenvolva nu quadro de reconhecida referência.
No congresso do PSD certamente irá ganhar o Coelho; conheço alguns dos seus apoiantes, foram meus colegas de universidade, destacaram-se pela cábula, seguidismo e jogo táctico como forma de se credibilizarem.
Não é preciso ser particularmente observador/inteligente para se perceber que o Coelho é um intriguista vulgar com sede de poder, que nos últimos anos dedicou parte do seu trabalho a minar o trabalho da Ferreira Leite.
Mas o Coelho tem um discurso politicamente correcto. Até escreveu – ou por ele escreveram – um livreco. Quem o leu certamente percebeu que trata de um conjunto de vulgaridades e redundâncias do género: a vaquinha dá o leite e do leite faz-se a manteiga e queijinho.
É o Coelho que vamos ter como “alternância democrática” ao Sócrates, à Fernanda Câncio e demais “esclarecidos”. Por isso digo, na verdade, o que precisamos é de reinventar o regime.
Salvador Rebelo de Andrade
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Comentar por Salvador Rebelo de Andrade — Sexta-feira, 26 Março 2010 @ 4:22 pm |