A justificação para a não existência dos livros de Eric Voegelin (ou a obra de Frithjof Schuon, que também não existe publicada em Portugal) no mercado português, não pode ser atribuída somente à lei da oferta e da procura. Existem critérios editoriais ideológicos e não puramente comerciais. Se soubermos quem controla o mundo editorial em Portugal, saberemos os verdadeiros critérios de edição que estão para além da lei da oferta e da procura.
A obra de Eric Voegelin é essencial para percebermos o que se passa hoje no mundo e principalmente na Europa, e ela é tão actual que explica as raízes da construção do leviatão europeu através de uma actualização contemporânea da teologia civil de Hobbes. Quando vi, pela primeira vez, o termo “leviatão europeu” escrito num ensaio do professor universitário de direito da FDUP, o Dr. Paulo Ferreira da Cunha, confesso que na altura achei a utilização do termo “leviatão”, no contexto da construção europeia, exagerada. Foi só a partir da apresentação do esboço da constituição de Giscard d’Estaing (que foi chumbado pela França, pela Holanda e pela Irlanda) que comecei a juntar os pontos da charada europeia.
A teologia civil do leviatão europeu do tratado de Lisboa é a que hoje proíbe os crucifixos em locais públicos de Itália, utilizando mecanismos de “justiça” controlados pela política correcta do leviatão neo-hobbeseano ― entre outras razões (maçonaria jacobina, marxismo cultural) porque as condições históricas da Europa actual, com a “invasão” da imigração islâmica, começam a ser muito semelhantes às condições históricas que antecederam a revolução inglesa de 1688, com a guerra civil inglesa determinada e causada pelo gnosticismo dos Puritanos calvinistas.
A crescente influência dos islamitas na Europa actual têm um paralelo histórico com os Puritanos calvinistas na Inglaterra do século XVII. A recente proibição do uso da burka islâmica em locais públicos em França, é mais um sintoma da adopção de uma teologia civil neo-hobbeseana por parte de um principais dos países do Directório europeu, o que a torna extensível, a curto prazo, a toda a Europa do leviatão.
A natureza gnóstica do islamismo é evidente ― não só dos fundamentalistas islâmicos, mas também dos chamados moderados islâmicos. Basta a constatação de facto da existência de um determinismo histórico-filosófico subjacente ao islamismo ― ao contrário do cristianismo de Tomás de Aquino e da escolástica tomista em geral, que defendem o livre-arbítrio do Homem e a ausência de um eidos da História (eidos = forma integral da História, determinada por antecipação ou previsão profética ou pseudo-científica, do futuro) ― , para verificarmos a condição gnóstica do islamismo.

Exército puritano inglês
Enquanto que o cristianismo ocidental (catolicismo) desempenhou ― durante o período que se seguiu ao Concílio de Niceia até ao princípio da baixa idade média ― o papel de teologia civil na Europa ocidental, em paralelo com as soberanias políticas de cada país, e em função do vácuo criado pela queda do paganismo no império romano, o islamismo sempre acumulou, desde o seu princípio, a função de teologia civil com a do poder político. A ocidente da Europa medieval, existia o rei e o Papa; no Islão, existia o califa que acumulava as duas funções.
Em face da ameaça gnóstica islâmica, a Europa do leviatão adopta paulatina e crescentemente uma versão actualizada da teologia civil de Hobbes que se caracteriza pela erradicação crescente de qualquer invocação pública, por parte do indivíduo, da ordem transcendental em relação à sua experiência humana — e através do condicionamento da verdade espiritual individual, utiliza a repressão política encapotada de “justiça” que conduz ao medo generalizado.
Em postais posteriores falarei desta temática sob a nova categoria que criei para o efeito: gnosticismo.
AVISO: os comentários escritos segundo o AO serão corrigidos para português.