A esquerda tem uma aversão atávica à discussão filosófica, uma enraizada fobia ao diálogo e à Razão que lhe vem do marxismo.
(…)
O problema de saber se ao pensamento humano se pode atribuir uma verdade objectiva não é um problema prático. É na prática onde o homem deve demonstrar a verdade, isto é, a realidade,o poder, a terrenalidade do seu pensamento. A discussão em volta da realidade ou irrealidade do seu pensamento ― isolado da prática ― é um problema meramente escolástico.»
Karl Marx, “Os Manuscritos Económico-filosóficos”, tradução portuguesa de César Oliveira, Porto, 1971, pp. 165 – 168
É por demais evidente que deixou de existir um clima de compromisso na política nacional; podemos dizer que, a partir de agora, vale tudo.
Karl Marx nunca se questionou se o seu pensamento poderia estar “isolado da prática”. Por outro lado, Marx criticou ― e desprezou todos os filósofos ― toda a filosofia [pensamento humano] excepto a sua; a “transformação” que defende é segundo a sua filosofia que é a única correcta ― todo o pensamento de milhares de anos, segundo Marx, estava errado. A posição marxista é a favor da acção segundo uma determinada filosofia [a de Karl Marx] com desprezo total pela própria Razão Humana na medida em despreza qualquer outra teoria que não seja a sua. Tal como o islamismo, o marxismo é um princípio de ordem irracional: o que conta é unicamente a acção sem atender à Razão [“navegar é preciso, viver não é preciso”].
Com o decorrer do tempo, o marxismo transformou-se numa religião fideísta e irracional, através da qual o importante passa a ser não a revolução mas antes o processo revolucionário sem fim. Escreveu Boris Pasternak, em “Doutor Jivago”:
O caso do afastamento do Dr. João Lobo Antunes do Conselho de Ética é preocupante porque significa que os compromissos assumidos pela esquerda são letra morta, o que pressupõe a predominância do radicalismo na política como nunca vimos em Portugal depois do PREC. Um radical nunca assume os seus compromissos.
Perante os argumentos do Dr. João Lobo Antunes sobre o “Testamento Vital”, o que faz a esquerda marxista cultural? Não respeita um compromisso assumido com o Presidente da República. É certo que o Presidente da República não é chamado a indicar qualquer nome para o Conselho de Ética ― embora, na minha opinião, devesse ter esse direito ―, mas existindo um compromisso de cavalheiros com o primeiro-ministro acerca do nome do Dr. João Lobo Antunes, a omissão da nomeação deste para o Conselho de Ética dá indicações da radicalização da política portuguesa.
Embora este caso seja importante porque se trata de uma lei que se pode transformar numa monstruosidade anti-ética, também são importantes os indícios da actuação política da esquerda. É por demais evidente que deixou de existir um clima de compromisso na política nacional; podemos dizer que, a partir de agora, vale tudo.
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