Se eu tivesse hoje vinte anos, o único país da Europa ― para além de Portugal, até ver ― onde me sentiria confortavelmente inserido na sociedade, seria a Irlanda. Naturalmente que se poderia dizer que se eu tivesse vinte anos não pensaria assim; porém, o facto de existirem jovens com vinte anos que pensam como eu mantém a probabilidade objectiva de que se o tempo recuasse, ainda assim eu manteria a mesma opinião.
No seguimento do postal anterior, um dos grandes problemas de Portugal chama-se “Espanha”. Espanha representa um enorme problema para Portugal em todos os sentidos, para além do perigo de desintegração territorial do leviatão espanhol que pode, pelo menos, causar grandes incómodos ao nosso país. “Nós podemos escolher os nossos amigos, mas não podemos escolher os nossos vizinhos”, diz o povo, com razão.
Espanha entrou já na completa irracionalidade, e tenho muitas dúvidas de que ainda consiga sair incólume do processo de retrocesso civilizacional em que mergulhou. Devido à sua proximidade geográfica e cultural com Portugal, Espanha tornou-se uma dor de cabeça para quem realmente tem consciência do que se passa. Enquanto Espanha teve um bom crescimento económico e melhorou o nível de vida dos cidadãos, o radicalismo ideológico e irracional conseguiu ganhar terreno à custa de um nacionalismo artificialmente conseguido através da propaganda de uma ideia faustosa da Espanha. Impôs-se a ideia de “Espanha e o Mundo”. Porém, caso se dê um retrocesso económico, os valores éticos e morais em Espanha estão tão degradados já, que dificilmente o país sobreviverá a um processo de entropia.
O problema do radicalismo é que se mantém no poder sempre à custa de mais radicalismo. O processo não pode ter um fim senão à custa da instauração de um sistema político mais ou menos totalitário que interrompa a necessidade do processo contínuo de radicalização, porque se o círculo vicioso do radicalismo com mais radicalismo for interrompido, fica em causa o próprio poder radical instalado. O “processo Zapatero” é um torno sem-fim que aperta a sociedade espanhola como um garrote, e que se alimenta do radicalismo em crescendo para se poder manter no Poder. Mesmo que um dia a Espanha se liberte do actual radicalismo ideológico que a governa, tenho imensas dúvidas que possa recuperar do mal já feito.
É lógico que a minha inquietação não é com Espanha, mas com Portugal. Estamos aqui ao lado e há quem, em Lisboa, queira transformar Portugal numa fotocópia espanhola. É absolutamente necessária uma política de diferenciação em relação a Espanha. É preciso que Portugal se transforme numa Irlanda, e não numa Espanha. É imperiosamente necessário que sigamos um caminho diferente, e que tenhamos a coragem e a clarividência de preferirmos a racionalidade irlandesa à irracionalidade espanhola.
«O carácter absoluto do valor reconhece-se ainda pelo sinal da sua indiferença relativamente às circunstâncias, se bem que sempre se ajuste exactamente a cada uma delas. É lícita a afirmação de que simultaneamente nos compromete no tempo e nos liberta do tempo. Não que possamos pretender que ele seja a eternidade inserida no tempo, mas antes que, graças ao tempo, nos permite reencontrar a eternidade. A existência escoa-se no temporal, mas a consciência é descobrimento eterno no temporal.
(…)
Só há a vida do indivíduo, mas a consciência ultrapassa o indivíduo e rompe sem cessar os seus limites. Simplesmente, ela rompe-os, por assim dizer, no sentido do interior. Interioriza tudo quanto é, inclusive o próprio indivíduo, desligando-o precisamente dos limites do corpo. A consciência conduz a vida sob a sua própria jurisdição, em lugar de ser ela a submeter-se à jurisdição da vida. O animal não se eleva acima da vida. Mas a consciência só ilumina aquilo que existe para se interrogar sobre o seu valor; só é consciência por ser também consciência moral. A vida só conhece o bem do indivíduo, a consciência eleva-se até ao bem universal; e quando o bem do indivíduo a põe em cheque, eis que surge o mal.
É possível que se valorize mais a investigação do que o descobrimento, mais o desejo do que a posse, mais o temporal do que o eterno, mais o individual do que o universal, mais a inquietude ou a emoção do que a confiança e a alegria. Mas tal debate perde a sua acuidade se considerarmos que o bem reside, não num fim, mas no próprio acto que realizamos à medida que ele se liberta gradualmente dos seus obstáculos e que se exerce de modo cada vez mais pleno e perfeito. Então, e a própria investigação se transforma em descobrimento e o desejo em posse; o tempo transforma-se na via da eternidade e o individual no veículo do universal; é apropria inquietação que se transforma em confiança e a emoção em alegria.»
Louis Lavelle, “Tratado dos Valores”
O radicalismo moderno insiste na diferença entre o “acto” e a “intenção do acto”. Segundo os radicais, o acto da sodomia não é passível de ser criticado moralmente porque o que conta é a intenção do acto que subjectivamente alguém possa chamar de “amor”. Assim, cada pessoa se constitui na sua própria lei moral porque é objectivamente impossível avaliar a intenção de quem pratica o acto. Segundo este raciocínio, a própria homossexualidade é elevada ao estatuto de um princípio moral, porque os comportamentos passam a ser subordinados à intencionalidade subjectiva.
O mesmo acontece no aborto: o radicalismo não critica o acto mas a intenção de quem o comete, chegando ao ponto de se classificar subjectivamente o aborto num “acto de amor” realizado pelo casal para salvar o seu relacionamento. Quando cada indivíduo não é julgado pelos seus actos mas pela atribuição subjectiva das suas intenções, a vida em sociedade e a comunidade política tornam-se impossíveis.
Espanha entrou por um buraco: a criminalidade é altíssima ― muito mais elevada do que média europeia, e há quem atribua essa alta criminalidade à destruição da instituição da família por parte de Zapatero ―, é um país profundamente doente e dividido. Temos que ter em Portugal políticos à altura para que o nosso país possa resistir à nefasta influência cultural espanhola.
Para los que llegan aquí y de lengua española: leer esta apostilla.
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