perspectivas

Sexta-feira, 3 Julho 2009

A verdade existe?

Filed under: filosofia — O. Braga @ 6:46 am

Não podemos confundir “cepticismo” com “dúvida”. A dúvida sobre a “certeza” é racional, e portanto, saudável. O cepticismo é a “certeza da dúvida”, e é portanto, um fideísmo negativo.

Quando se pergunta: “a verdade existe?”, quem faz a pergunta admite, à partida, a possibilidade de uma resposta ― porque caso contrário a pergunta seria absurda ― e portanto já pressente, ou sabe intuitivamente, que a verdade existe. O que a pessoa que pergunta não sabe, é quais são as respostas correcta e erradas à pergunta, o que significa que o facto de a verdade existir é independente do critério racional seguro que a distinga. Quem pergunta, sabe que a verdade existe; o que não tem a certeza é se aquilo que dizem — ou o que pensa — ser a verdade, é.

Por outro lado, se alguém afirma categoricamente que “não existe qualquer verdade”, pretende afirmar uma verdade, acabando, por isso, por se contradizer ― porque se alguém afirma algo, está convencido que a sua afirmação está correcta e que todos devem corroborar essa opinião. Por conseguinte, essa pessoa pressupõe que existem afirmações que possuem uma validade incondicional, ou sejam, verdades incondicionais. Isto significa que quem afirma que “não existe qualquer verdade” pressupõe ― mesmo que essa afirmação possa estar errada ― que a verdade e o erro se excluem mutuamente, e em consequência, existe entre a verdade e o erro uma diferença que não pode ser relativizada. Por outras palavras: quando alguém diz que “tudo é relativo porque não existe qualquer verdade”, cai em autocontradição e no absurdo.

A verdade está condenada à existência.

Resulta do conflito entre “a verdade que sabemos que existe” (e por isso perguntamos) e o critério de apuramento da verdade, a contradição entre duas proposições: “nós sabemos que a verdade existe” e “nós não sabemos como (e se) a verdade existe”, sendo que estas proposições antagónicas são assumidas simultaneamente. Como as duas afirmações não podem ser válidas ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto, começa aqui o problema. E razão primeira deste problema é que a razão humana é contraditória em si mesma.

O que se pode dizer sobre a verdade formal (a forma da verdade), é que “a verdade absoluta só pode ser pessoal” (Nicolau Hartmann), mas ao mesmo tempo, para que essa “verdade absoluta pessoal” seja verdadeira, tem que ser universal ― quando não tem validade só para mim; a minha verdade absoluta tem que ter algo em comum com todos os seres humanos porque possui a qualidade da verdade, independente de mim. E isto é tudo o que a razão pode dizer sobre a forma, e nada sobre o conteúdo da verdade. O resto pertence à religião.

22 comentários »

  1. Caro Orlando:

    Por diversas vezes, o meu amigo tem tentado demonstrar que existe a Verdade.

    A meu ver existem verdades relativas – a que cada Homem defende do seu ponto de vista relativo – e existe uma Verdade Absoluta, “guardada” pelo Absoluto ou Deus, da qual o Homem se vai aproximando no seu caminho evolutivo.

    Pretendendo contribuir para a bos dilucidação da questão e sem qualquer tipo de arrogância (quem sou eu para pretender ter a palavra certa sobre este tema), permita-me o meu amigo e quem nos lê a seguinte sugestão:

    Lerem, no livro “Curso Adiantado de Filosofia Yogue”, de Yogue Ramacháraca, Colecção Yougue, da Editora Pensamento, o Capítulo dedicado ao DARMA. Aqui se analisam quer a perpectiva da Revelação, da Intuição (ou Consciência Moral) e do Utilitarismo que, isoladas, são imperfeitas, mas que, em conjunto e aproveitando o que de bom e válido existe em cada uma delas, faz a construção do DARMA ou ÉTICA.

    Aqui fica a minha sugestão.

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    Comentar por vickbest123 — Sexta-feira, 3 Julho 2009 @ 4:42 pm | Responder

    • @Vickbest

      Obrigado pela dica. Contudo, a minha opinião é de que tal como a ciência e a filosofia, uma determinada religião é sempre inacabada. Daí a necessidade de conhecermos quantas religiões nos for possível. Por exemplo, no budismo não existe a concepção de “alma” como existe no cristianismo, embora tenha outros conceitos que este não tem.

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      Comentar por O. Braga — Sexta-feira, 3 Julho 2009 @ 6:17 pm | Responder

  2. O livro que referi trata de todas essas questões de modo bastante sério. Cada religião tem a sua parte de Verdade; partes da Verdade podem ser transmitidas pela Revelação, outras pela Intuição de cada um, ainda outras pela teoria do Utilitarismo; tudo dentro da evolução da Humanidade e de cada um de nós no seu Caminho de evolução espiritual. A Verdade existe, no Absoluto. A Sua apreensão vai-se fazendo. Mas cada ser Humano tem o seu próprio “grau” de desenvolvimento e todos e cada um sem a Verdade Absoluta. Por isso o imperativo kantiano – construção da Consciência Moral ou Intuição – não “funciona” para Todos e para toda a Humanidade.

    Aquele livro é uma verdadeira pérola de Sabedoria e argumentação.

    Não perca a sua leitura, se o posso aconselhar e se não mo leva a mal.

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    Comentar por vickbest123 — Sexta-feira, 3 Julho 2009 @ 7:19 pm | Responder

  3. A minha tentativa aqui é de abordar a questão da “verdade” do ponto de vista formal e racional, porque hoje já não basta invocar a fé: esta tem que ser induzida racionalmente, porque a mentalidade do Homem moderno já não a percebe de outra maneira. Há necessidade, pois, de actualizar a forma como a religião é abordada, face aos novos mitos que a ciência e a técnica trouxeram à humanidade. Por vezes, sou criticado por esta abordagem racional, mas o próprio Construtivismo (ver links) — embora não dizendo respeito à religião em particular mas ao conhecimento em geral — faz essa abordagem mais ou menos como eu a faço.

    Novos tempos, novos sistemas. A própria Igreja Católica tem que se actualizar.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Construcionismo

    http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&rlz=1C1GGLS_enPT291PT305&q=construcionismo+von+glasersfeld&btnG=Pesquisar&meta=

    e essencialmente:

    http://en.wikipedia.org/wiki/Constructivist_epistemology#Radical_constructivism

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    Comentar por O. Braga — Sexta-feira, 3 Julho 2009 @ 9:02 pm | Responder

  4. Caro VickBest:

    Ontem não tive muito tempo para dar uma resposta conclusiva aos seus comentários; poderia tê-lo feito à noite, mas normalmente ― e salvo excepções ― “me acuesto con las gallinas”, como dizem os espanhóis, “y me despierto con el gallo”. Vou fazê-lo agora com a tranquilidade de espírito que se impõe neste caso.

    Antes de continuar aqui, gostaria de dizer que o postal tem um teor essencialmente filosófico, mas dado que o seu comentário o “puxou” para a metafísica, não enjeitarei tal abordagem.

    As “verdades relativas” não são a “Verdade” que é o objecto deste postal. Por isso, vou distinguir aqui a “verdade” (relativa e subjectiva), da Verdade. Eu não coloquei a Verdade em maiúscula na apostila, mas subentende-se claramente que me referia à Verdade. E a Verdade não é só constituído pela verdade absoluta, mas também por todo o caminho que leva a ela.

    Por aquilo que pude entender, a “verdade subjectiva” a que se refere o amigo VickBest é a cosmovisão de cada sujeito, e esta nunca é o resultado de reflexões racionais, científicas ou filosóficas ― ela existe previamente à razão. Podemos dizer que a cosmovisão é sempre o resultado de uma interpretação pré-racional das experiências feitas no mundo.

    O filósofo e teólogo Hubertus Mynarek escreve:

    “Se alguém vive mais ou menos consciente ou ― como poderia ser o caso no fenómeno muito divulgado da actual sociedade massificada ― completamente inconsciente de acordo com a máxima segundo a qual a vida não obedece a nenhum valor superior, ou não tem qualquer sentido, ou não existe nada absolutamente seguro, ou tudo depende do ponto de vista que se assume, ou nem sequer vale a pena viver, ou a morte é o fim absoluto, ou não é possível saber o que existe depois dela ― então, com cada um destes juízos, a existência é interpretada sempre em relação à sua totalidade. Quando alguém goza a vida sem quaisquer limitações, sem ― como se diz de uma maneira um pouco superficial ― quaisquer preocupações, na prática, também já fez uma interpretação da existência.”( in “Mística e Esperança”)

    Como vemos, a verdade subjectiva ou cosmovisão pode sofrer influências culturais, mas é essencialmente e sobretudo fruto de um livre-arbítrio do sujeito que é pré-racional e que influencia a forma como ele interpreta as experiências do mundo. Isto acontece invariavelmente com todos os seres humanos.

    É neste contexto da verdade subjectiva do pós-modernismo a ocidente, em que as verdades subjectivas se traduzem numa pulverização da cosmovisão espiritual que herdamos dos nossos avós, que é necessário intervir. Como escreve Hubertus Mynarek, um indivíduo que leva uma vida de playboy também já fez uma interpretação da totalidade e da existência; a este, de nada serve aconselhar a leitura do livro que o amigo VickBest aqui generosamente aconselhou. A única forma de desviar o playboy da sua interpretação da totalidade, será sempre ou através da razão (filosofia), ou através de uma situação-limite. A metafísica não lhe diz nada.

    Através da razão (filosofia) o playboy pode ser induzido a pensar a sua cosmovisão. Através de uma situação-limite experiencial (extremo sofrimento ou felicidade, um acontecimento experimental extraordinário como ser o único que escapa a um acidente de aviação, um milagre, etc), pode ocorrer nele uma metanóia que o faça repensar a sua interpretação da totalidade (cosmovisão).

    Quando o amigo VickBest se refere ao Dharma como Ética, devo dizer que a ética é entendida, no conceito de Dharma, como ética individual, no sentido do Dharma na relação com o Kharma. Naturalmente que existe o conceito de Kharma e Dharma colectivos, mas estes conceitos são mormente usados e aplicados ao indivíduo. O Kharma é o “fardo” e o Dharma é o “objectivo” através do qual o “fardo” é aliviado. Neste sentido, o Dharma é o “método por objectivos” através do qual o Kharma sistemática e paulatinamente, através de uma evolução em dois mundos co-imanentes, é resolvido.

    Ora é extremamente difícil passar esta mensagem ao nosso playboy. Mas se provarmos racionalmente que uma ética tem que ser universal, intemporal e ser identificável nas suas características principais, o nosso playboy não pode alegar nenhum outro argumento para não seguir a razão senão a sua propensão natural para a estroinice, e portanto deixa de ter uma desculpa objectiva para a sua acção.

    É só por isso que insisto aqui na visão filosófica nestas matérias. E mais: penso que as aulas de religião e moral, cada vez mais, terão que se aliar à razão e à ciência ― dentro do possível ― para demonstrar que “a ética não é uma batata”.

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    Comentar por O. Braga — Sábado, 4 Julho 2009 @ 6:20 am | Responder

  5. O meu amigo fala de “verdade subjectiva” e da Verdade. Dá, até, o exemplos de “verdade subjectiva” do playboy, chamando-lhe “a cosmovisão de cada sujeito, e esta nunca é o resultado de reflexões racionais, científicas ou filosóficas ― ela existe previamente à razão. Podemos dizer que a cosmovisão é sempre o resultado de uma interpretação pré-racional das experiências feitas no mundo”.

    Ora, o que me parece da sua resposta é que o meu amigo tem uma visão “estática” do Homem, como ser COMPLETO e que, com a sua cosmovisão, faz “uma interpretação pré-racional das experiências feitas no mundo.”

    Mas há outra perspectiva, ou seja, o Homem tem a capacidade de interpretar o mundo racionalmente porque tem dentro de si o Pensamento, pré-existente na sua condição humana, mas também tem Espírito, ou “centelha divina” de Deus, a Imagem Deste.

    O bispo de Hipona também foi um playboy até se converter ao Cristianismo, sendo conhecido por Santo Agostinho e julgo que o seu Caminho de Redenção foi a razão e a fé.

    A “verdade subjectiva” a que o meu amigo se refere não é uma verdadeira cosmovisão porque vê a Existência Toda em quadros separados, ou seja, não vê a União de Cada Ser Humano com o Todo. Esse papel cabe ao Espírito, à medida que se vai libertando de envólucros que o impedem de ver a Luz (Verdade).

    Defendo uma posição em que Deus criou o Mundo de SI e em SI (esta a primeira “parte” da Verdade). Para tanto involuiu-se em princípios inferiores que se comprimiram de modo fortíssimo, explodindo no Big-Bang, a que se seguiu um processo Evolutivo (não rejeito a “evolução darwinista”) de modo a que a matéria se organizasse para receber o princípio da Vida e, depois, o Pensamento e, finalmente o Espírito.

    O Homem “completo” (presente no estado actual da raça humana) possui todos esses princípios, mas o Espírito “brilha” mais em uns do que em outros. E quanto mais “brilha” esse Espírito (humano), mais próximo tal Homem está da Verdade ou “essência de Deus” em que começa a ver TUDO relacionado com TUDO, abandonando os pontos de vista “relativos” e “separados”.

    O Homem é, pois um ser em Evolução.

    Todas estas “coisas” que digo são uma “parte” da Grande Verdade.

    Defender, como o meu amigo faz, que a Verdade existe (ponto prévio, a meu ver, para esta conversa) nada me diz sobre o que seja essa mesma Verdade. Ou seja: é ponto assente (a meu ver) que a Verdade existe. Mas enquanto eu procuro definir essa Verdade, o meu amigo fica-se pela afirmação de que ela existe e que deve ser universal e…ponto final parágrafo. Nada me diz sobre a “própria” Verdade.

    O autor que citei tem uma abordagem absolutamente racional sobre a Verdade (não sendo apenas “metafísico”) mas aborda quer a perspectiva “religiosa” (Revelação dos profectas), a perspectiva racional (uso das faculdades mentais do ser humano)- argumentos racionais e científicos – e a perspectiva de organização social (Utilitarismo).

    Afirma o meu amigo:

    “Quando o amigo VickBest se refere ao Dharma como Ética, devo dizer que a ética é entendida, no conceito de Dharma, como ética individual, no sentido do Dharma na relação com o Kharma.”

    Pergunto eu: há alguma ética, dentro do conhecimento Humano que não tenha que ser individual? (Não é verdade que tem que haver sempre um intérprete da Ética?) A não ser que separemos a Verdade do Homem e que a Ética tenha uma existência independente! Mas isso é apenas mais uma visão “relativa”. Onde está, pois, no Homem a visão “Absoluta” e quem a interpreta?

    O que aquele autor que citei diz é que há profetas (cada um no seu momento histórico) que definem “regras” éticas mais próximas da Verdade (Revelação) e outras mais adequadas apenas ao momento histórico em que viveram (Utilitarismo) e outras ainda “geradas” pelos indivíduos dentro da sociedade em que viveram (Consciência Moral ou Intuição).

    Em conclusão:

    A Verdade existe! (fora de discussão).

    Diga-me o meu amigo “em que” consiste, como se define, qual o seu conteúdo!

    O desafio que aqui lhe lanço é legítimo porque, da minha parte, já lhe dei “partes” da Verdade (julgo que só nos fins dos tempos, quando Deus for TUDO em TODOS, a VERDADE ABSOLUTA será revelada aos Humanos).

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    Comentar por vickbest123 — Sábado, 4 Julho 2009 @ 11:11 am | Responder

  6. “Ora, o que me parece da sua resposta é que o meu amigo tem uma visão “estática” do Homem,”

    Eu escrevi:

    Como vemos, a verdade subjectiva ou cosmovisão pode sofrer influências culturais, mas é essencialmente e sobretudo fruto de um livre-arbítrio do sujeito que é pré-racional e que influencia a forma como ele interpreta as experiências do mundo. Isto acontece invariavelmente com todos os seres humanos.

    Se eu falo em livre-arbítrio e influências culturais, a visão não é estática, até porque escrevo mais adiante:

    As únicas formas de desviar o playboy da sua interpretação da totalidade, será sempre ou através da razão (filosofia), ou através de uma situação-limite.

    Santo Agostinho sofreu desde a sua meninice uma forte influência de sua mãe, Mónica, que era cristã. Como Santo Agostinho nasceu em 354, estamos a falar de uma cristã dos primeiros tempos, isto é, ainda da Era Patrística. O que foi decisivo para que Santo Agostinho abraçasse a religião, foi a leitura de “Hortênsio”, de Marco Túlio Cícero (106-43 a.C.) que como sabemos, foi um dos protagonistas do platonismo ecléctico que se iniciou com Fílon de Larissa quando este abandona o cepticismo da escola de Carnéades. Santo Agostinho tinha 19 anos ― quando depois dessa leitura ― se dedicou com paixão à filosofia. No seguimento desse entusiasmo pela filosofia, Santo Agostinho aderiu primeiro à seita dos maniqueus ― a mesma seita que ele viria a combater mais tarde em nome do Cristianismo. O estudo de Aristóteles foi de essencial importância para que Santo Agostinho começasse a colocar em causa o maniqueísmo. Com 26 anos publica “De pulchro et apto” (O Belo e o Conveniente), obra que se perdeu e que era um tratado sobre a ética do ponto de vista estritamente filosófico. Mais tarde, com mais de 30 anos, quando Santo Agostinho se encontra em Milão onde ensina retórica, a sua mãe sai de Cartago e vai viver com o filho para Milão. A conjunção da fé cristã da sua mãe com a do extraordinário personagem que foi o bispo de Milão, Ambrósio, foram essenciais para a conversão definitiva de Santo Agostinho. Depois da morte de sua mãe (situação-limite), Santo Agostinho mudou totalmente e passou a dedicar-se exclusivamente ao Cristianismo.

    “Defender, como o meu amigo faz, que a Verdade existe (ponto prévio, a meu ver, para esta conversa) nada me diz sobre o que seja essa mesma Verdade.

    Mas foi isso exactamente que eu escrevi no postal.

    O percurso de Santo Agostinho foi da razão para a fé, e não da fé para a razão. O mesmo se passou com a esmagadora maioria dos vultos da escolástica, desde S. Tomás de Aquino a Nicolau de Cusa.

    “Pergunto eu: há alguma ética, dentro do conhecimento Humano que não tenha que ser individual?

    A ética não é de natureza religiosa, mas de natureza filosófica. Trata-se de uma disciplina da filosofia. Naturalmente que a ética tem que apontar para a Totalidade (Englobante), independentemente de a razão não poder conhecer o conteúdo dessa Totalidade. Mas não é só a filosofia que aponta para o Englobante: a própria ciência o faz; ambas tornam possível o conhecimento da forma do englobante, mas nunca o seu conteúdo. E só em face da manifesta impossibilidade da razão em conhecer o conteúdo da Totalidade, é que a religião assume a sua função necessária. Como se vê, existe aqui um fio condutor racional que leva à necessidade da religião.

    A ética tem que ser universal, intemporal, racionalmente fundamentada (razão) e identificável nas suas principais características. Qualquer filósofo ou eticista digno desse nome concordará com isto.

    Aquilo que é minha noção de ética ― e que de resto coincide com uma esmagadora maioria de eticistas ao longo da História ― pode ser lida aqui:

    O estado da ética

    A procura da verdade tem que ser induzida pela Razão, num primeiro estágio. Por isso é que eu defendo que o ensino da filosofia deveria começar logo no princípio do ensino secundário como disciplina obrigatória. Naturalmente que esse ensino não interessa aos políticos. A partir da racionalização da cosmovisão de cada um ― no sentido da auto-compreensão da sua própria cosmovisão e da necessidade de a adaptar racionalmente ―, as probabilidade de assunção de uma religião aumentam de forma geométrica, não obstante o facto de sempre existirem os playboys a quem nem a razão demove.

    A Verdade é que o Englobante existe, não pode ser discutido racionalmente e tem que ser percebido através da religião ― e embora existam religiões mais completas do que outras, todas elas são inacabadas.

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    Comentar por O. Braga — Sábado, 4 Julho 2009 @ 8:25 pm | Responder

  7. Diz o meu amigo:

    “A Verdade é que o Englobante existe, não pode ser discutido racionalmente e tem que ser percebido através da religião ― e embora existam religiões mais completas do que outras, todas elas são inacabadas.”

    Não percebo: porque é que o Englobante não pode ser discutido racionalmente?

    Será que o meu amigo resume a “religião” à fé cega e sem argumentos racionais?

    Afinal, o que é, para si, a Ética “universal” e “estática” (porque universal aqui e agora), válida “per secula seculorum”?, se as religiões são inacabadas e se não se conhece completamente o Englobante?

    A Verdade do Englobante (o que é em Si) não só pode ser abordada racionalmente como não há outra maneira de a abordar (sem prejuízo para a abordagem da Revelação (fundamento e base das religiões) – dada a Homens de Espírito Superior mas sempre abordada por estes Racionalmente, embora de modo incompreensível para as maiorias).

    O Homem “estático” a que me referi não significa que seja imune a variações culturais, mas antes que é visto como “completo” e sem evolução intrínseca do seu ser, mas apenas variável segundo as influências exteriores.

    Pergunto, de novo: o que é a Verdade, como se define, qual o seu conteúdo? Não me refiro a “verdades” sobre factos ou a sobre a vida de Santo Agostinho. Mas sim sobre o que “é” a Existência (o Englobante), quem fez o Mundo, de onde viemos e para onde vamos, como se compõem as peças do plano da Existência nas relações entre si, para daí se retirar uma qualquer “ética” ou poder-se falar da Ética?…

    Estas as questões que me parece o meu caro amigo não responde…

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    Comentar por vickbest123 — Domingo, 5 Julho 2009 @ 12:18 am | Responder

  8. […] da mundialização. Quando todo o mundo acreditar que as verdades podem ser objectos de truque, que não existem nem verdades nem mentiras, o mundo estará preparado para receber a mesma propaganda, de participar da mesma pseudo-opinião […]

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    Pingback por Vladimir Volkoff e o politicamente correcto « perspectivas — Segunda-feira, 6 Julho 2009 @ 8:57 am | Responder

  9. Sem pretensão alguma. O que é a verdade? Como sabe, a filosofia especula indiferente ao senso-comum e à moral e não encontra a resposta. Pois é, no fundo cada um de nós tem a sua verdade.

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    Comentar por Mário Ventura de Sá — Sexta-feira, 5 Fevereiro 2010 @ 1:07 am | Responder

  10. Certa vez, meu professor de matemática estava explicando um assunto qualquer, quando questionou o básico da trigonometria: “A tangente existe?” “A reta que toca uma curva em um único ponto existe?” E a única saída que ele propôs foi: “A tangente existe, por definição.” Ou seja, existe porque todos concordam que ela existe, e assim deve ser, para que exista a trigonometria.

    Às vezes penso se tal conceito também pode se aplicar à verdade… Será que ela existe, por definição? Para que a lógica como a conhecemos também exista?

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    Comentar por Abner — Domingo, 7 Fevereiro 2010 @ 7:28 pm | Responder

  11. Olá, saudações.
    “Abrimos” o blog http://www.blig.ig.com.br/dlmendes e
    conseguimos “espaço” no Portal Luis Nassif
    http://www.luisnassif.com/profile/DecioLuizMendes
    Temos algo pertinente a transmitir ( Cosmologia, concepção do “logos” – uma ponte entre a Ciência e a Religião -, etc…).
    Aguardamos a sua visita.
    Faça o seu comentário.
    Desde já agradecemos.
    A propósito, Ciência, para nós, é tentativa para se dar ao Cosmo uma explicação consistente.

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    Comentar por Décio — Terça-feira, 7 Dezembro 2010 @ 5:05 pm | Responder

  12. […] O politicamente correcto começou por censurar a crítica pública de comportamentos e actos, remetendo a ética e a moral para a esfera privada. Nesta fase, o politicamente correcto expulsou qualquer noção de Verdade da praça pública. Todos os julgamentos ético-morais de actos e comportamentos passaram a ser realizados em privado. Para isso, o politicamente correcto — aliado ao cientificismo de tipo coimbrinha — começou por afirmar a ideia segundo a qual “a Verdade não existe”. […]

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    Pingback por A afirmação do politicamente correcto como a Verdade Absoluta « perspectivas — Quinta-feira, 10 Fevereiro 2011 @ 12:04 am | Responder

  13. “O que pensas deste assunto?” – é o que aqui em cima me perguntam…

    Confesso que tive que ler, mais do que uma vez, o texto e comentários porque, a dada altura, me “perdi”…e recordei-me de uma frase que ouvi há anos da boca de um Bispo em Luanda, numa homilia e que nunca mais esqueci… ” a certeza é que só há uma Verdade a de… que nascemos e morremos!” o resto é tudo aquilo que cada ser imagina ou sente no coração.

    Um abraço

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    Comentar por Aradhana — Terça-feira, 27 Setembro 2011 @ 4:49 pm | Responder

  14. Existe uma grande diferença entre “verdade” e “certeza”. A certeza é subjectiva, mas a verdade, quer queiramos que não queiramos, é objectiva.

    Portanto, o bispo de Luanda, ao confundir “verdade” com “certeza”, misturou alhos com bugalhos.

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    Comentar por O. Braga — Terça-feira, 27 Setembro 2011 @ 5:02 pm | Responder

  15. Será, Orlando? Ou queremos acreditar que assim seja?
    É muito subjectiva a certezas que temos acerca da verdade. Ou vice-versa. Porque o nosso íntimo é composto por aquilo em que acredita e a verdade não é linear para todos. Nem a certeza. Porque se assim fosse, as dúvidas não existiam. 🙂

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    Comentar por Aradhana — Terça-feira, 27 Setembro 2011 @ 6:18 pm | Responder

  16. Voltamos ao mesmo: se a verdade não existe, então por que é que perguntamos se a verdade existe?

    Uma coisa é a lógica, outra coisa é a certeza que é subjectiva. Dou um exemplo.

    ***********

    Alguém diz:

    “Eu tenho a certeza que 1 + 1 = 2 !” E eu pergunto: “Por que é que tens a certeza?” E essa pessoa responde-me: “é uma coisa que me vem do coração….”

    Outro exemplo:

    Outro alguém diz:

    “Eu juntei um pau a outro pau, e cheguei à conclusão que tinha dois paus. Portanto, 1 + 1 = 2”

    A isto, chama-se “silogismo” ( https://espectivas.wordpress.com/2008/10/03/a-logica-de-aristoteles/ )

    Este “outro alguém” não tem apenas a certeza: descobriu a verdade! Portanto, podemos descortinar pelo menos uma parte da verdade através da lógica! Ou seja: podemos, através da lógica, dizer que existe uma Verdade que é comum a todos, embora não tenhamos a certeza do conteúdo dessa Verdade! A fé (a certeza) é outra coisa, diferente.

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    Comentar por O. Braga — Terça-feira, 27 Setembro 2011 @ 7:06 pm | Responder

  17. […] ler: “A verdade existe?” Share this:EmailGostar disto:GostoBe the first to like this post. Deixe um […]

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    Pingback por A verdade é pessoal? « perspectivas — Terça-feira, 18 Outubro 2011 @ 8:42 am | Responder

  18. Excelente artigo.
    Todo aquele que pretende que uma verdade depende do Sujeito, logo que depende de cada um de nós, está a entrar no relativismo absoluto. A Verdade nunca depende do Sujeito. A Verdade depende sempre do Objecto, por isso é Una. O relativismo é a maior armadinha que nos é ensinada e é aquilo em que actualmente vivemos…

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    Comentar por Francisco Nunes — Terça-feira, 2 Abril 2013 @ 11:28 am | Responder

  19. […] Em ciência não há certeza: apenas há verdade. E a verdade existe? […]

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    Pingback por A ciência não obedece a critérios lógicos da mesma forma que aplicáveis à filosofia | perspectivas — Segunda-feira, 3 Junho 2013 @ 5:37 pm | Responder

  20. […] Em ciência não há certeza: apenas há verdade. E a verdade existe? […]

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    Pingback por A ciência não obedece a critérios lógicos da mesma forma que aplicáveis à filosofia | Bordoadas — Segunda-feira, 3 Junho 2013 @ 5:38 pm | Responder

  21. Sensacional excelente texto
    A verdade existe o princípio da lógica
    Válida.

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    Comentar por Jeferson Araujo Melo — Quarta-feira, 15 Maio 2019 @ 3:03 am | Responder


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