O comunitarianismo e a influência ideológica de Gramsci

Este fim-de-semana vimos nas televisões a tomada de posse do novo Patriarca ortodoxo russo, Cirilo. Vimos o abraço aparentemente devoto e respeitador de Putin ao novo Patriarca, e se o Poder político russo não prestou vassalagem à Igreja Ortodoxa russa, andou lá perto.

Nos Estados Unidos, na tomada de posse de Barack Obama, discursou um bispo protestante que se assume publicamente como gay. Na Rússia de Putin, as paradas gay são proibidas por lei. Estes são exemplos de como os dois países encaram o futuro cultural de forma radicalmente diferente.

Enquanto Putin tudo faz para que o prognóstico de Gramsci ― que ele conhece muito bem ― não belisque a nova Rússia, construindo assim um novo potentado político e económico com um futuro promissor e em que a religião terá o seu papel fundamental como sempre teve em todas as civilizações historicamente registadas, os Estados Unidos estão a ser literalmente minados por dentro com a eleição de Barack Obama.

António Gramsci defendeu a ideia de que as democracias ocidentais não poderiam se derrubadas ― isto é, substituídas por um totalitarismo comunista ― através de uma revolução sangrenta de tipo bolchevique, mas através de um ataque ideológico sistemático aos valores ético – morais que sustentam as democracias ocidentais escoradas numa herança cultural cristã.

O ideário político de António Gramsci está a ser seguido religiosamente pelo Bloco de Esquerda e pelo Partido Comunista. O partido socialista, como a maioria dos partidos políticos europeus, aposta numa nova ideologia que se baseia, no que diz respeito à estratégia cultural, em António Gramsci: o comunitarianismo.

O comunitarianismo é nova ideologia europeia que se propaga agora aos Estados Unidos com a eleição de Obama. É uma filosofia política nietzscheana escorada num novo tipo de feudalismo que explicitamente rejeita o individualismo do cidadão, não já em nome de um colectivismo comunista clássico-marxista, mas em nome da defesa de privilégios de uma elite política e plutocrata, relegando o cidadão comum para uma posição subordinada e assumindo, em relação ao individualismo do cidadão, uma posição hostil, o que transporta a sociedade para um novo tipo de feudalismo.

O comunitarianismo pode ser definido, de uma forma simples, como um neo-feudalismo que é resultado da crise de valores do pós-modernismo e do populismo característico da pós-democracia.

A contribuição de Gramsci para o comunitarianismo é a estratégia de demolição da ética universal de herança cristã, porque a partir do momento em que o relativismo ético se impõe como valor absoluto, os novos senhores feudais europeus podem reclamar para si uma “ética dos poderosos” que se diferencia da ética colectivista que se aplica somente à populaça.