perspectivas

Quinta-feira, 27 Novembro 2008

A Teologia da Libertação e o Marxismo

Eu posso concordar com muita coisa neste texto, como por exemplo a crítica à Teologia da Libertação que se iniciou na Alemanha luterana ainda antes da II Guerra Mundial (ler Bonhoeffer).

Não vou agora falar da prova ontológica mas criticar a recusa, por parte da Teologia da Libertação, em abordar a questão de “Deus” quando até a ciência contemporânea (por exemplo, a Física Quântica, a Biologia Molecular, a Bioquímica, etc.) se preocupa com a explicação do Universo através da procura da “Causa-das-causas”.

O que mais me incomoda na Teologia da Libertação não são os argumentos que esse movimento escolheu, mas os fins que se desejam atingir com esses argumentos. Nós podemos utilizar exactamente os mesmo argumentos para atingir fins diferentes, e os fins são definidos pelos alinhamentos ideológicos ― “diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és”, diz o ditado. Desde o seu início, a Teologia da Libertação alinhou com o Existencialismo de Heidegger (que estudou para Pastor luterano) e, mais tarde, de Sartre, e sabemos que o Existencialismo é uma forma de neomarxismo; é o Marxismo em adiantado estado de putrefacção.

Vejam bem: o que a Teologia da Libertação faz é tentar adaptar o Cristianismo ao monismo materialista característico do Modernismo (Wiki). Se lermos Ortega y Gasset, que é um exemplo de um filósofo “não-alinhado” do século XX (embora nitidamente ligado à maçonaria), compreendemos como a filosofia ― e por arrasto, a teologia ― “passou” a entender a necessidade de Deus em função do “Viver” (acção), como se esta ideia de “acção” não existisse desde os apóstolos de Jesus Cristo e pela Sua vontade ― criando-se, assim, uma dicotomia maniqueísta e artificial em relação ao Idealismo. Se houve alguém que entendeu a necessidade de “acção” foi o próprio Jesus, embora sem colocar em causa a essência do seu “Deus-pai”.

Portanto, a ideia de “acção cristã” é tão antiga quanto o próprio Jesus Cristo. Criou-se uma ideia deformada, inventada pelo materialismo do século 19 e 20 para denegrir o Idealismo: o que o materialismo fez foi criar artificialmente uma ideia radicalizada do Idealismo para depois o poder criticar com autoridade. Seria como se atribuíssemos por generalização, em relação a determinada pessoa, defeitos que não existem de forma particular, para assim podermos ganhar a razão na crítica à sua pessoa. A crítica moderna ao Idealismo generaliza e é preconceituosa.

O materialismo filosófico parte do princípio de que a descoberta do Cosmos ― a descoberta do nosso “exterior”, daquilo que é “exterior ao Eu” ― se opõe automaticamente ao Idealismo, o que constitui uma atribuição maniqueísta e falsa. É daqui que vem a crítica a Descartes, classificando as suas ideias como sendo do “passado”, em oposição ao “presente” existencialista. Entende-se, assim, o Existencialismo como uma evolução positiva em relação ao Idealismo. Criou-se artificialmente a ideia de oposição substantiva entre o Cristianismo e a Modernidade para expressamente legitimar o materialismo como sendo o “último estágio” da evolução das ideias humanas, relegando o Idealismo para o arcaísmo da História das Ideias. Contudo, como podemos ver neste texto de Olavo de Carvalho citando Hegel, a subjectividade existe tanto no materialista moderno como no idealista do século 18 e 19; a essência humana não muda só porque o Homem moderno diz peremptoriamente (porque “deseja” que assim seja) que ela mudou.

A ideia forjada pelo materialismo filosófico de que o idealismo concebia o “exterior ao Eu” como uma ilusão de óptica, é tão subjectiva como a ideia modernista do Eu como “produto do cérebro” (epifenomenalismo). O que o Modernismo fez, foi “dizer” ao Idealismo: “A minha subjectividade é mais objectiva do que a tua subjectividade”, e passou esta sentença para letra-de-lei.

É este o grande absurdo do nosso tempo: a transformação, por via do “Desejo” e por passes de magia retórica, da subjectividade em objectividade ― à luz do materialismo, as “coisas exteriores” passaram a ser objectivas “porque sim”, e o Idealismo passou a não ser objectivo “porque não”. Convencionou-se dogmatizar o Idealismo ao mesmo tempo que se transformou em dogma a desdogmatização alegadamente trazida pelo materialismo filosófico. Contudo, a subjectividade extremada sempre existiu em todos os tempos e em todas as ideias, e o materialismo não foge à regra.


A “teologia da libertação” é essencialmente existencialista, e por isso, é a quinta-coluna do materialismo dialéctico, embora já num estádio de degradação da teoria.

A “Teologia de Libertação” é um eufemismo de “dialéctica materialista” ― é a “acção” entendida de uma forma diferente da “acção” entendida por Jesus; é um monismo naturalista que se adapta ao materialismo filosófico ; de “cristã”, a Teologia de Libertação só tem o nome.

5 comentários »

  1. […] Leia mais direto na fonte: espectivas.wordpress.com […]

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    Pingback por teologia » Blog Archive » A Teologia da Libertação e o Marxismo — Quarta-feira, 3 Dezembro 2008 @ 4:45 am | Responder

  2. Excelente matéria, lúcida e exposta com equilibrio.
    O Cristianismo desde suas origens é – ação prática – que inexiste sem um pano de fundo idealista: ” O Verbo se fez carne”!
    Recomendo o site http://www.darcksonlira.com.br com matérias bem interessantes relacionadas à filosofia e teologia.

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    Comentar por Rosangela Nery — Sábado, 13 Dezembro 2008 @ 7:41 am | Responder

  3. Respondendo a um comentário que se perdeu, mas que consegui recuperar:

    Author : luciano batista

    Com toda franqueza, não vejo fundamentos solidos nos argumentos postos, mas respeito. Queria apenas ressaltar que com o marxismo a teologia cristã sai de seu anacronismo existente em seus discursos e, consequentemente, em seus conceitos – passa a preocupar-se com os problemas historicos relacionados diretamente a vida social do homem. Tudo bem, deixa de ser teocentrica e passa a ser antropocentrica. Mas, e dai? É a evolução das ideias. Não não deixa de existir na TL, apenas procuramos fazer teologia com um olho em Deus e outro no homem. Toda teologia precisa ser contextual, re-significada e re-formada. Alias, os proprios teologos prostestantes queriam isso. Varios teologos catlicos da mesma forma.

    Resposta:

    O antropocentrismo é uma característica das ideologias políticas. A religião não pode ser uma ideologia política, ou se pode, então que se transforme a religião num movimento político internacional que concorre às eleições nos vários países. Bem sei que nada é totalmente apolítico; porém, coisa diferente é transformar a religião numa parte do problema político, deixando de ser uma referência ética e moral na nossa sociedade.

    É preciso saber o que é “evolução” e o que é “involução”. Ao longo da História, o ser humano muitas vezes confundiu os seus conceitos.

    A TL faz teologia com um olho primeiro no homem e depois em Deus. A teologia que se pretende é a que olha o homem em função de Deus, e não o contrário.

    Com excepção dos calvinistas, o protestantismo deu em ateísmo.

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    Comentar por O. Braga — Terça-feira, 5 Maio 2009 @ 11:30 pm | Responder

  4. SOBRE AS MENTIRAS QUE FREI BETTO CONTA EM SEU LIVRO “A OBRA DO ARTISTA”….

    VEJAMOS ALGUNS COMENTÁRIOS DO EDITOR DO LIVRO:

    ” Numa visão holística do universo, Frei Betto desvenda o macro e o microcosmo, aproximando ciência e religião, razão e fé.

    Após cinco anos de estudo das mais avançadas teorias da ciência moderna na área da Biologia, Cosmologia e Física Quântica elaborou uma síntese concisa e bela, escrita com fluidez jornalística e beleza literária, dessas teorias, através de uma ótica teológica e filosófica do universo que encanta a todos.”Somos todos poeira de estrelas” e “Somos tão naturais quanto uma abóbora”. Alavancado pela Física das partículas ele descreve o universo, suas leis e princípios, oferecendo-nos um caminho para a crise da modernidade, o caminho de resgate das raízes dos verdadeiros valores humanos. Mostra-nos a existência de Deus como intrínseco à natureza humana, não um deus justiceiro ou autoritário como na Igreja da Idade das Trevas, mas um Deus que se revela em todas as coisas, em todo o cosmo pela perfeição e harmonia de suas leis e pelos sentimentos mais grandiosos do ser humano, afinal somos todos poeira de estrelas…luz nas trevas, amor transmutado em moléculas, energia cósmica nas mãos do “Artista”…

    MEUS COMENTÁRIOS:

    FREI BETO NÃO É MATEMÁTICO, NEM BIÓLOGO E MENOS AINDA UM FÍSICO…NÃO IMPORTA SE ELE FICOU 05 ANOS FAZENDO “RESUMINHOS DIDÁTICOS” DE MATEMÁTICA, BIOLOGIA E FÍSICA QUÂNTICA…ISTO NÃO CONFERE A ELE O DIREITO DE DAR AULINHAS DE FÍSICA PRA LEIGOS…SENDO AINDA QUE FREI BETTO É LEIGO EM MATEMÁTICA, LEIGO EM BIOLOGIA, LEIGO EM QUÍMICA E PRINCIPALMENTE UM GRANDE LEIGO EM FÍSICA…

    QUEM JAMAIS RESOLVEU SEQUER UM ÚNICO EXERCÍCIO DE FÍSICA I (EM NÍVEL DE GRADUAÇÃO) E AINDA ASSIM QUER DISCUTIR ASSUNTOS DE FÍSICA IV, ACABA FALANDO UM AMONTOADO DE BESTEIRAS…MESMO QUE USE CONCEITOS CORRETOS, ACABA USANDO TAIS CONCEITOS EM CONTEXTOS NOS QUAIS ESTES CONCEITOS NÃO FUNCIONAM!!!!!!!!

    ASSIM,FREI BETTO ACABA MANIPULANDO OS LEIGOS EM MATEMÁTICA,FÍSICA, QUÍMICA E BIOLOGIA, DE MANEIRA QUE ALÉM DE NÃO TEREM A CAPACIDADE DE OBSERVAR TAIS ERROS, ACABAM REPRODUZINDO TAIS ERROS AOS MILHÕES, TAL COMO OCORRE COM A MAIORIA DAS PESSOAS QUE ASSISTEM O FILME “QUEM SOMOS NÓS?”…ASSIM COMO NO FILME “O SEGREDO”…

    ESTES DOIS FILMES “QUEM SOMOS NÓS?” E “O SEGREDO” ,ESTÃO ABARROTADOS DE ERROS CONCEITUAIS E GROSSEIROS REFERENTES AS MAIS VARIADAS CIÊNCIAS,PRINCIPALMENTE SOBRE A FÍSICA QUÂNTICA…PORÉM NO FILME “QUEM SOMOS NÓS?” A TÉCNICA USADA PARA MANIPULAR O PÚBLICO E ESCONDER OS CONCEITOS QUE SÃO USADOS FORA DE CONTEXTO, CHAMA-SE “SERIAL MARKETING”, MAS FREI BETTO CONSTUMA USAR OUTRA TÉCNICA, QUE É A SUA ENORME CAPACIDADE EM CRIAR POEMAS E ASSIM IMPEDIR QUE LEIGOS EM MATEMÁTICA, FÍSICA, QUÍMICA E BIOLOGIA CONSIGAM PERCEBER AS TOLICES PRESENTES EM SEUS DISCURSOS…

    UMA MENTIRA MUITO BEM ESCRITA , MUITO BEM DITA E REPRODUZIDA MILHÕES DE VEZES ACABA SE TORNANDO UMA VERDADE COLETIVA…MAS DESMENTIR UMA MENTIRA ACEITA COLETIVAMENTE COMO VERDADE ABSOLUTA, É UM TRABALHO GIGANTESCO…

    TANTO O FILME “QUEM SOMOS NÓS?”,QUANTO O FILME “O SEGREDO”, QUANTO AS OBRAS DE FREI BETTO, NÃO POSSUEM APENAS UMA MENTIRA,MAS SIM DEZENAS E DEZENAS DE MENTIRAS QUE ESTÃO SENDO REPRODUZIDAS AOS MILHÕES COMO VERDADES ABSOLUTAS, PRINCIPALMENTE NO TOCANTE A FÍSICA QUÂNTICA…

    COM ISTO FREI BETTO ESTÁ SE MOSTRANDO UM ENORME BAJULADOR, MENTIROSO E MANIPULADOR DE MASSAS…NESTE CONTEXTO, O QUE DIFERE FREI BETTO(QUE SE DIZ DA ESQUERDA REVOLUCIONÁRIA) DOS IDEÓLOGOS MANIPULADORES CAPITALISTAS DE DIREITA? EM QUE FREI BETTO(ENQUANTO MILITANTE DE ESQUERDA) ESTÁ SENDO MELHOR DO QUE OS MENTIROSOS E MANIPULADORES DE MASSAS LIGADOS A PARTIDOS DE DIREITA?

    NÃO CONSIGO VER ONDE ESTÁ A DIFERENÇA…

    CLODOALDO ALVES OLIVEIRA

    (FÍSICO E ESTUDANTE DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTATÍSTICA DA UFV)

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    Comentar por Clodoaldo Alves Oliveira — Quarta-feira, 14 Outubro 2009 @ 12:37 am | Responder

  5. @ Clodoaldo Alves Oliveira:

    Se o texto acima citado é de um frade católico, fico admirado porque a concepção de Deus dele é intracósmica, o que leva ao conceito de Deus sive Natura de Espinoza ou à noção dos deuses pagãos. Esse conceito imanente de Deus, segundo o tal Frei Betto, é um conceito pagão. A evolução natural do ser humano levou à Revelação ― Deus revelado ― o que aconteceu entre 800 e 500 a.C.

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    Comentar por O. Braga — Quarta-feira, 14 Outubro 2009 @ 8:28 am | Responder


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