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Sexta-feira, 19 Setembro 2008

O dualismo de Descartes e a inteligência humana

Filed under: filosofia — O. Braga @ 12:20 pm
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Este postal merece uma leitura (PDF); trata da inteligência humana e dos conceitos que esta envolve. O que é a inteligência? De certo modo, o postal concatena-se com este outro que aborda “O Erro de Descartes” de António Damásio, que por sua vez se relaciona com este sobre o dualismo cartesiano.

Do intróito do postal podemos resumir as seguintes ideias:

  1. A inteligência não pode ser identificada como algo físico nem tangível;
  2. Não há uma qualidade única e exclusiva que possamos associar à inteligência;
  3. A valoração global de uma pessoa é essencialmente impossível;
  4. As pessoas mais inteligentes não são as que necessariamente se distinguem no processo natural da sobrevivência.

Parece-me que existe uma aparente contradição no enunciado, porque se “a inteligência não pode ser identificada como algo físico e tangível”, não podemos dizer que “as pessoas mais inteligentes não são necessariamente as mais adaptadas”, porque na segunda proposição valoramos qualitativamente a inteligência que na primeira proposição consideramos como sendo “relativa”.

Posso compreender que Nietszche tem alguma razão quando diz que “existe pouca distância entre o mais sábio e o mais néscio”, porque pode acontecer que o néscio não disponha simplesmente dos meios físicos (cérebro integral e normal) para expressar a sua inteligência subjectiva de forma a que se torne sensível, visível pelos nossos sentidos, e portanto, objectiva. Esta é uma das razões porque não concordo com o aborto, eugénico ou não.

Porém, na minha opinião não existe contradição entre as duas proposições supracitadas, porque a inteligência é algo de subjectivo que, por exigência da Natureza em que está inserido o ser humano, trata e se relaciona com uma realidade objectiva, e esta relação cartesiana entre a subjectividade da inteligência (causa) e a objectividade do seu efeito sensível, é perfeitamente mensurável. O que não é mensurável é a inteligência propriamente dita (essência), porque os limites da Razão ― tal como têm vindo a ser definidos desde Platão e Aristóteles ― têm vindo a ser rompidos e alargados de uma forma sistemática. Os “limites da Razão” que delimitavam a noção de “conhecimento humano” no tempo de Aristóteles não eram os mesmos dos do tempo de Pietro Pomponazzi, nem eram os mesmos dos do tempo de Kant, e nem são os mesmos da actualidade; os limites da Razão alteraram-se, não porque o ser humano seja hoje mais inteligente do que há 2.500 anos, mas porque a objectividade do conhecimento acumulado ― transformada pela subjectividade da inteligência humana ― permitiu que os limites da razão se alargassem.
Por exemplo, Marcílio Ficino viveu no século 15 mas foi um pensador quântico na verdadeira acepção da palavra, 500 anos antes de Einstein aparecer. Portanto, a inteligência e a razão existiam ambas no Ficino do século 15 como existem hoje nos filósofos quânticos, só que as condições objectivas inerentes à acumulação do conhecimento não permitiram que ele fosse mais longe na sua teoria.

Ficino é a prova de que a inteligência (Razão) é subjectiva e não depende de uma realidade objectiva. Escreveu ele que é possível dividir o tempo, remontar indefinidamente ao passado e viajar em direcção ao futuro, e que eu saiba, ainda não se sabia no seu tempo da existência de buracos negros. A inteligência é a Razão que existe no universo, independentemente do ser humano existir como tal. Se o planeta Terra fosse destruído amanhã, a inteligência não desapareceria juntamente com o ser humano. Esta é uma premissa fundamental.

A partir daqui, colocam-se duas questões: como medir a inteligência (que é subjectiva), e como classificar (porque já vimos que esta relação cartesiana é mensurável) a relação entre a inteligência e a realidade objectiva. A resposta a estas duas questões é dada através do nível de compreensão do universo que cada ser humano dispõe individualmente. Um bom matemático tem, em princípio (há sempre excepções à regra) uma noção do universo muito mais completa do que alguém que não sabe matemática, até porque para que ele fosse um bom matemático teria que trazer consigo as “ideias factícias” cartesianas (ideias inatas) que o predispusessem, desde tenra idade, a um estudo da matemática. Essas “ideias factícias” não têm origem exclusiva na genética e/ou na biologia, mas também no conceito de “alma” de Ficino que os filósofos quânticos actuais chamam de “ondulação quântica”. Essa compreensão do universo é subjectiva e holística enquanto o conhecimento científico acumulado a torna objectiva e particularizada.

O que distingue a inteligência entre humanos é o nível de compreensão inata e subjectiva sobre a realidade objectiva do universo, independentemente do conhecimento científico objectivo acumulado no tempo em que os seres humanos vivem. Neste contexto, a inteligência prática, que é aquela que se dirige exclusivamente para a sobrevivência da espécie e para a supremacia social ― embora necessária em doses mínimas que garantam a auto-conservação do ser humano ―, está mais próxima do instinto (que é a razão no seu mais baixo nível de evolução) do que da inteligência, isto é, da razão universal.

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3 comentários »

  1. Um estudo bastante interessante do evolucionista Alirio Freire sobre um marco fundamental da intelgência: a sua origem. Uma ousada iniciativa que aborda um tema sutilmente evitado por outros evolucionistas, filósofos e estudiosos. A partir deste trabalho, tornou-se fácil distinguir alguns aspectos bastante claros sobre a origem da inteligência. Os dados parciais da pesquisa foram disponibilizados para consulta.
    http://origemdainteligencia.blogspot.com

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    Comentar por Jorge Coimbra da costa — Quinta-feira, 23 Abril 2009 @ 3:42 pm | Responder

  2. Um estudo bastante interessante do evolucionista Alirio Freire sobre um marco fundamental da intelgência: a sua origem. Uma ousada iniciativa que aborda um tema sutilmente evitado por outros evolucionistas, filósofos e estudiosos. A partir deste trabalho, tornou-se fácil distinguir alguns aspectos bastante claros sobre a origem da inteligência. Os dados parciais da pesquisa foram disponibilizados para consulta.

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    Comentar por Jorge Coimbra da costa — Quinta-feira, 23 Abril 2009 @ 3:42 pm | Responder

  3. @ Jorge C Costa:

    O evolucionismo neo-darwinista é um mito, assim como é um mito o criacionismo bíblico, porque é impossível explicar a sucessão das formas.

    De qualquer modo, vou dar uma olhada ao blogue, e se for caso disso, farei um comentário.

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    Comentar por O. Braga — Quinta-feira, 23 Abril 2009 @ 11:58 pm | Responder


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