Que silêncio? O silêncio da tortura inquisitória que não transparece?
Eu não tive tempo nem pachorra para sequer comprar o livro do Amaral, mas repare-se nesta amostra:
- A menor Madeleine McCann morreu no apartamento 5A do Oceano Club, da Vila da Luz, na noite de 3 de Maio de 2007;
- Ocorreu uma simulação de rapto;
- Kate Herly e Gerald McCnn são suspeitos de envolvimento na ocultação do cadáver da sua filha;
- A morte poderá ter sobrevindo em resultado de um trágico acidente;
- Existem indícios de negligência na guarda e segurança dos filhos.”
- No ponto 1, o Amaral afirma peremptoriamente, com uma certeza divina, que a menor morreu no apartamento, para no ponto 5 (e último) dizer que existem indícios de negligência.
Qualquer pessoa minimamente inteligente ― ou em boa-fé ― inverteria a prioridade das “certezas”. Se algum indício seguro existe é o de que o cuidado da menor foi negligenciado. Desta simples citação podemos concluir que a estória do Amaral foi construída, à laia de uma novela, para que um determinado epílogo fosse conseguido.
- O Amaral diz no ponto 1 que Madeleine “morreu no apartamento”, para depois dizer no ponto 3 que os McCann são “suspeitos” de ocultação de cadáver.
“A bota não bate com a perdigota”. Deixemo-nos de eufemismos: o que o Amaral faz não é “suspeitar”, é antes “acusar” os McCann na praça pública de homicídio e ocultação de cadáver. Não podemos desligar o ponto 3 do ponto 1 da especulação do Amaral.
Eu, que estou de fora, pergunto-me como o Sr. Amaral ainda não foi processado judicialmente pelos McCann. Mas pensando melhor, hostilizar o Amaral neste momento significaria literalmente hostilizar o corporativismo da Policia Judiciária, e hostilizando esta, seria desmobilizar os esforços que ainda possam existir naquela corporação para trabalhar em pistas que subsistem e que levem ao deslindar do caso.
Este texto evidencia, desde logo, que a acusação especulativa do Amaral penetrou que nem um vírus no sistema que organiza o nosso pensamento colectivo, porque o software que controla a nossa cultura pós-moderna foi concebido para que determinados vírus actuem com facilidade, para que os produtores de anti-vírus sociais possam “vender” (impor) os seus produtos de combate anti-virais.
Os anti-virais politicamente correctos são construídos tendo como base uma anti-cultura que se traduz na criação da necessidade de um estado-de-sítio cultural totalitário, que implica a necessidade artificialmente criada de uma sociedade constantemente vigiada e sem respeito pela vida privada dos cidadãos, e com a submissão da família tradicional ao Estado, que assim se apodera das crianças à boa maneira marxista. Os funcionários do Estado passaram a ser os bons protectores das crianças, e à família antropológica atribui-se (agora) sempre a obrigação da prova de inocência.
Utilizando este conceito pós-moderno de anti-vírus social politicamente correcto, o Amaral forjou um paralelismo entre o caso “Joana” e o caso “Madeleine” para assim consubstanciar o seu estatuto de humilde “esfomeado” de aplausos que cumpre “anonimamente” o seu dever em prol do Estado que zela pelo bem comum. Não gosto de parafrasear um marxista cultural, mas às vezes dá jeito:
Adenda: a última coisa que eu faria era comprar um romance de cordel de fraca qualidade; para além de estar a contribuir para salvar a face da PJ, que actuou mal neste caso, estaria a contribuir para que um gorila enchesse os bolsos com a sua publicação.
Actualização (19/04/2009)
Este é um espaço de opinião. Segundo o velho Aristóteles, uma opinião pode ter vários níveis de credibilidade, em ordem crescente: uma possibilidade, uma verosimilhança, uma probabilidade e a certeza.
Por mais estranho que possa parecer a alguns leitores, a minha simples opinião não é menos credível que a simples opinião do Amaral expressa no seu livro. As pessoas ainda não se deram conta de que se o nível de credibilidade da opinião do Amaral fosse uma probabilidade da ocorrência dos factos, o sistema judicial funcionaria necessariamente de outra forma neste caso. A teoria do Amaral é uma possibilidade entre muitas, possibilidade essa que ele transformou, quanto muito, numa verosimilhança por força da comparação que ele, de uma forma estulta, estabeleceu com o caso Joana. A opinião do Amaral tem um baixo nível de credibilidade ― e é aqui que está o problema.
O livro do Amaral teve dois objectivos: ganhar dinheiro à custa dos pacóvios que dizem aqui que eu não sou tão credível na minha opinião quanto o Amaral na dele, e projectar a sua imagem pública pessoal. Ambos os desideratos foram conseguidos, e o último deles revelou-se pela pretensão do Amaral em liderar uma lista a umas eleições por parte de um partido político, coisa que não aconteceu por simples embirração dos líderes nacionais desse partido.
O Amaral ganharia eventualmente um pouco mais de credibilidade na sua opinião se pegasse no dinheiro que ganhou com o livro e doasse uma parte, por exemplo, à instituição algarvia Refúgio Aboim Ascensão que trata de crianças abandonadas. Mas nem isso alguns leitores ― que discordam de mim ― sugerem aqui. De boas intenções está o inferno cheio.
Pois eu li o livro com atenção e não chego às suas conclusões!
Gonçalo Amaral apenas diz que são os resultados da investigação até Outubro de 2007!
Sou criador de cães e nunca vi um mentiroso! Um destes cães “Eddie” é simplesmente um dos melhores do mundo a detectar odor de cadáver, tendo inclusive feito muitos trabalhos no Reino Unido e nos Estados Unidos todos com 100% de sucesso!
Os Pais de Maddie são simplesmente suspeitos, pelo menos foram até o estatuto de arguidos ser levantado. O que não faz deles culpados!
Só uma pergunta…..Quantas vezes Gordon Brown interviu em desaparecimentos de crianças?…
Quanto a negligência a mesma é notória quando se deixa 3 crianças com 3 e 2 anos de idade sózinhas num apartamento, tenha isso resultado em morte ou rapto da criança. Se lá estivesse um adulto certamente hoje não estaria aqui a postar!
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Comentar por duarte fernandes — Segunda-feira, 6 Abril 2009 @ 8:06 pm |
Sou um portugues, com todo o direito de opiniao, e com toda a obrigação de apoiar a investigação na pessoa do sr.Gonçalo Amaral e equipa de confiança do mesmo,agora afastado (tecnicamente) continuo a ser um portugues que se para algo com a minha (para tudo) disponiblidade aqui fico alerta.
BEM HAJA pessoas como este SR que me orgulho ser compatriota.
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Comentar por José Miguel — Segunda-feira, 13 Abril 2009 @ 10:49 pm |
Caro José Miguel:
O tempo da confissão à força bruta acabou.
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Comentar por O. Braga — Segunda-feira, 13 Abril 2009 @ 10:56 pm |
Independente de sermos pró ou contra Amaral, é importante por tudo em pratos limpos. Há que chegar a um fim em que se responda pelo menos a tudo o que tenha resposta. É importante que os responsáveis prestem contas pelo que fazem ou deixam de fazer. O público está sequioso da verdade sobre o zelo, a negligência e as acções ilicitas das pessoas em quem foram confiadas funções. E, se nâo houver uma resposta para já, que haja pelo menos um compromisso para que seja o mais breve possível. O que é indesejável é este mau hábito de deixar morrer os assuntos para que ninguém preste contas pelo que não fez ou pelo que não devia ter feito.
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Comentar por Carlos Ramos — Terça-feira, 14 Abril 2009 @ 12:03 am |
Os metodos do senhor Amaral funcionaram para a Leonor Cipriano, infelizmente não funcionou para os Ingleses. Os métodos desse senhor não parecem ser muito compativeis com a investigação criminal ou se o são, os resultados não se sabem onde estão, em dois casos em que um é julgado sem cadaver com uma confissão conseguida a soco, outra numa criança que desapareceu que ele diz ter sido assassinada, ´”SÓ” não se sabe como nem quem foi nem porquê? enfim falta responder a tudo, mas vale pelo mérito de escrever um livro que não ensina nada mas que vende, mas também não é inédito, tem um outro “palpiteiro” da mesma escola q já havia conseguida semelhante feito. Eu não compro, nem leio.
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Comentar por Pedro Ares — Terça-feira, 14 Abril 2009 @ 12:43 am |
Eu li o livro. Sou portuguesa, mãe e avó. Pari, criei, eduquei filhos e netocom amor. É IMPENSÁVEL para qualquer mãe ou pai ter a atitude de desleixo e irresponsabilidade daquele casal. Um tempo depois deste caso, e na altura divulgado pelos media, uma mãe solteira no norte deixou duas crianças menores sózinhas em casa enquanto foi trabalhar. Uma das crianças caiu da varanda… quando a mãe voltou foi-lhe imediatamente retirada a outra criança!!! Será porque era portuguesa e pobre??? Não inventem mais desculpas. Está tudo à vista de qualquer inteligente! OBRIGADA DR GONÇALO AMARAL! De certeza que a sua família tem o maior orgulho em si! Qualquer português de consciência também tem!
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Comentar por Isabel Maria Santos — Terça-feira, 14 Abril 2009 @ 7:56 pm |
No contexto actual, e com a preocupante escalada da criminalidade violenta, creio que não fará muito sentido a preocupação aqui evidenciada.
Não será dificil perceber a afirmação de Gonçalo Amaral, quando diz que “a justiça realiza-se em silêncio”. A pressão mediática em torno do caso Maddie, como no caso Joana, só será prejudicial para o apurar da verdade.
E queria dizer apenas que é muito feio acusar alguém sob um pressuposto que não está demonstrado em tribunal. Vindo de quem se questiona “como o Sr. Amaral ainda não foi processado judicialmente pelos McCann” dá que pensar. Se o caro autor tivesse a exposição mediatica de um “gorila” provavelmente era você que iria responder em tribunal pelo que escreveu.
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Comentar por KTULU — Sexta-feira, 17 Abril 2009 @ 12:52 pm |
@ KTULU :
Quem me quiser processar judicialmente é só enviar-me um email a pedir-me os dados pessoais. Quem ameaça, tem medo. Teria muito prazer em colocar em cheque quem tão mal se serviu da PJ e tão mal serviu o País.
Um “gorila” é tradicionalmente e em linguagem popular, “um guarda-costas”; o sentido pejorativo é dado por quem quiser.
Quem acusou alguém de pressuposto que não está provado em tribunal, foi, desde logo e em primeiro lugar, o Amaral. A justiça será feita, mas não como o Amaral pensava que deveria ser feita. O tempo encarregar-se-á de dar razão a quem a tem.
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Comentar por O. Braga — Sexta-feira, 17 Abril 2009 @ 4:35 pm |
Pois Sr Braga o melhor é mesmo lêr o livro! Para quem está tão empenhado no bota abaixo e nem se dá ao trabalho de ler o livro…… Se o tivesse feito veria que ninguem é acusado de matar ninguém. Apenas é dito pelo Dr.G.Amaral:
Que os Pais são suspeitos de envolvimento na ocultação de cadáver e que Madeleine morreu dentro do apt.5A.
E antes ainda pode ler:
Para mim e para os investigadores que comigo trabalharam no “Caso Maddie” até Outubro de 2007.
Aqui não vejo ningem a acusar ningém ou a palavra suspeito já terá outro significado?
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Comentar por duarte fernandes — Sexta-feira, 17 Abril 2009 @ 6:11 pm |
É preciso lembrar o Sr. Duarte Fernandes que existe no nosso CP a figura do homicídio por negligência. As pessoas devem pensar um pouco antes de escrever.
O Amaral acusou explicitamente os McCann de homicídio, embora não especificando a tipologia do crime aplicável pelo CP; a ausência da especificação da tipologia do crime não destitui a potência do dano moral, na medida em que deixa propositadamente em aberto a extrapolação arbitrária que deu azo a uma condenação dos McCann na praça pública.
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Comentar por O. Braga — Domingo, 19 Abril 2009 @ 10:12 am |
Este postal foi actualizado.
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Comentar por O. Braga — Domingo, 19 Abril 2009 @ 10:13 am |
Continuo sem ver esses indicios!
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Comentar por duarte fernandes — Segunda-feira, 20 Abril 2009 @ 7:33 am |