perspectivas

Quinta-feira, 3 Julho 2008

Axioma cosmológico

Filed under: Religare — O. Braga @ 10:52 am
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    1) O universo existe.
    2) Tudo o que existe tem uma explicação causal, seja de sua própria natureza, seja de causa externa.
    3) Se existe uma explicação para o universo, essa explicação é Deus.

    Corolário: a explicação para a existência do universo é Deus.

Analisemos o axioma.

O ponto 1 é irrefutável: o universo existe (desde há 15 mil milhões de anos, depois do cataclismo que foi o Big-Bang; mesmo que se coloque em causa a existência do Big-Bang, qualquer universo em expansão tem um início).
O ponto 2 também é plausível: não há nada que elimine a necessidade de uma explicação (causa) para a existência.

No ponto 3, começa a polémica. Os ateus, normalmente, invertem o sentido da frase dizendo que “sendo que não existe Deus, não existe uma explicação para a existência do universo”, isto é, preferem dizer que não existe uma explicação para a existência do universo a ter que admitir a existência de Deus.

A existir uma causa externa para a existência do universo, essa causa terá que se situar fora do espaço-tempo; situando-se fora do espaço-tempo, não pode ter uma essência material ou física. Assim sendo, essa causa ou é composta por objectos abstractos (números, logaritmos, etc.) ou é composta por uma mente inteligente.
Os objectos abstractos, do ponto de vista causal, são inoperantes. Um número, em si e só por si, não causa nada. Assim, sendo que a causa do universo é externa a ele próprio, só pode ter sido causado por uma mente transcendente, exterior ao espaço-tempo e a Quem se convencionou chamar de “Deus”.

Sintonização do universo para a Vida

aqui tinha falado no processo triplo alfa na formação do carbono na natureza, e da da força de expansão do universo que é exactamente igual à força da gravidade. A ciência chegou à conclusão de que as leis da natureza são expressas em equações matemáticas, e que estas contêm determinadas “constantes” ― por exemplo, a constante gravitacional. Contudo, os valores matemáticos dessas constantes não são determinados pelas leis da natureza.
Depois, existem determinados “valores arbitrários” que fazem parte das condições iniciais do universo ― por exemplo, a quantidade da entropia inicial (ver segunda lei da termodinâmica). Essas “constantes” e “valores arbitrários” são delimitados por valores muito rigorosos no que diz respeito à possibilidade de surgimento da vida. Basta uma ínfima alteração nos valores dessas “constantes” ou “valores arbitrários” para que o equilíbrio necessário seja destruído e a vida não seja possível.

Por isso, 1) a sintonização do universo com a vida tem origem ou numa necessidade física, ou no acaso, ou num desenho inteligente; 2) se a vida não é devida a uma mera necessidade física ou no acaso, é devida a um desenho. A necessidade física diz-nos que as “constantes” e os “valores arbitrários” têm que ter os valores que têm, e não outros. A Física chegou a um consenso sobre a ideia de que a quantidade de universos possíveis é de 10500, todos eles governados pelas leis da natureza, e somente uma parte ínfima desses possíveis universos pode sustentar a vida.

A origem aleatória do universo está hoje posta em causa pela ciência; o “random precision” é um mito, a não ser que o nosso universo faça parte de um conjunto de universos (o “Multiverso”) que esteja aleatoriamente ordenado e funcione, no seu conjunto, de uma forma aleatória. No Multiverso, qualquer tipo de mundo físico seria possível de se realizar, e somente as leis naturais ― as “constantes” e os “valores arbitrários” ― do nosso universo poderiam ser constatadas por nós. O conceito de “Multiverso” é um monismo religioso transmutado em teoria “científica”. Mesmo num Multiverso aleatório, a sintonização para a existência da vida seria muito difícil de explicar sem recurso a um desenho inteligente.

A ética e a moral

“Se Deus não existe, tudo é permitido” ― Dostoievski

1) Se Deus não existe, os deveres e valores morais objectivos não existem. A ética que conhecemos hoje é fruto de ― pelo menos ― 150.000 anos (a idade do Homo Sapiens) de evolução religiosa. 2) Acontece que os deveres e valores morais objectivos existem, pelo menos desde o aparecimento das religiões superiores. Mais tarde, com o aparecimento das religiões universais, esses deveres e valores morais objectivos ganharam uma maior importância. 3) Sendo assim, Deus existe.

Os valores e deveres morais objectivos são os que são sempre válidos e universais, independentemente da opinião pessoal de cada um.

Sendo que o assassínio, o infanticídio e a violação são características do mundo animal moralmente neutro, não podemos confundir sociobiologia com sociologia, como se faz hoje graças a uma visão estritamente naturalista do ser humano, alimentada pela geração de Gilles Deleuze e de Peter Singer.

“Será que uma determinada coisa é boa porque Deus quer, ou Deus quer determinada coisa porque ela é boa?” Esta é a pergunta ateísta da praxe (chapa 5). A primeira parte da questão coloca o Bem como coisa arbitrária, enquanto a segunda parte coloca o Bem como sendo independente de Deus. Os teístas respondem: “Deus quer determinada coisa por que Ele é bom.” O Bem e o Belo, a ética e a estética, não são independentes de Deus; são a expressão da Sua natureza.

O ateísmo ressurge com redobrada força no princípio do século 21 essencialmente por causa do integralismo islâmico: aproveitou-se do fundamentalismo ― que tem origem política ― para tentar impôr um velho dogmatismo que não tenta explicar a origem do universo, antes se fixa na ideia do ser humano como centro do universo (o antropocentrismo de Marx, Estaline, Mao e Hayek). As preocupações “ecológicas” e terracêntricas têm (também) facilitado a maré negra ateísta: para salvar o planeta, para quê preocupar-nos com o universo?
O ardil está bem montado: defesa do aborto como se de uma virtude se tratasse (o aborto em massa salva o planeta) porque “as famílias numerosas sempre incomodaram os poderosos”, a defesa do eugenismo (a eliminação sumária dos seres humanos mais fracos assegura uma espécie humana mais selectiva e melhor preparada), o “aquecimento global” politicamente correcto ― e independente das suas verdadeiras causas ― que defende a ideia de que os ricos continuem a viver faustosamente enquanto que os pobres são sacrificados à miséria em nome da “ecologia”, a apologia da homossexualidade como alternativa saudável à heterossexualidade que “traz consigo os riscos da procriação”, etc.. A reboque do ateísmo, existe de facto uma maré negra moral não salvará o planeta, antes o atolará num retrocesso civilizacional a nível global. Acontece que as hecatombes globais não têm pontos de apoio sócio-geográficos que facilitem a regeneração civilizacional.

5 comentários »

  1. Ando também a pensar numa segunda edição do “E Deus tornou-se visível…” onde questões próximas seriam abordadas. Mas é algo que dá muito trabalho (0 blog deve estar em atraso em relação ao que vamos escrevendo). Aproveito para dizer algo que gostaria de reter para não esquecer:
    Ter ou não ter havido Big-Bang não será a questão; podemos também definir rectas paralelas de dois modos:
    – Rectas que nunca se encontram
    – Rectas que se encontram no Infinito
    Eu prefiro a segunda definição.

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    Comentar por Henrique — Quinta-feira, 3 Julho 2008 @ 12:59 pm | Responder

  2. A ideia das “rectas” reflecte-se na ideia de Multiverso. Lá irei. A ideia de Multiverso não é tão “absurda” como parece, embora alguma ciência esteja a utilizá-la para forjar uma justificação para o carácter aleatório da formação da vida e do universo.

    Num universo que surge de um Big Bang e que está em expansão a partir de de um determinado ponto, todas as linhas projectadas serão para o futuro ou para o passado. Por isso, a linhas paralelas não existem, porque as que se projectam para o passado tendem a encontrar-se no ponto inicial. Nesse sentido, o infinito é o ponto inicial do Big Bang, ponto esse que está ligado por inerência lógica à fonte do próprio Big Bang: Deus (ou chamem-Lhe o que quiserem).
    As linhas que se projectam para o futuro acompanham a orla do espaço na sua trajectória fazedora do tempo, e tendem a nunca se encontrar — até que o universo volte a contrair-se — não porque as linhas sejam paralelas, mas porque seguem o movimento de expansão excêntrico do universo. Sendo que não pode haver espaço sem matéria (por mais nuclear e rarefeita que ela seja), pode-se dizer que antes do Big Bang, o nosso universo era o NADA: não existia nem o tempo, nem o espaço do nosso universo, o que não significa que não pudessem já existir outros universos, quiçá sujeitos a leis naturais diferentes.

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    Comentar por O. Braga — Quinta-feira, 3 Julho 2008 @ 5:51 pm | Responder

  3. Já agora, meu amigo, dê uma vista de olhos a

    http://www.yeshuachai.org/forum/viewtopic.php?f=2&t=1496&sid=4412f6163a04aa57515973d95ec7c0bf

    e

    http://www.inner.org/worlds/tzimtzum.htm

    ou

    http://www.kheper.net/topics/Kabbalah/Tzimtzum-ET.htm

    Digo isto porque, no meu entendimento, o NADA não existe, a não ser como afirmação em contraponto a CRIAÇÃO, ou seja, afirmação do (ainda) NÃO CRIADO.

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    Comentar por Victor Rosa de Freitas — Sexta-feira, 4 Julho 2008 @ 1:43 am | Responder

  4. “a não ser como afirmação em contraponto a CRIAÇÃO, ou seja, afirmação do (ainda) NÃO CRIADO.”

    Foi isso que eu quis dizer. Um post tem que ser (infelizmente) o mais curto possível.

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    Comentar por O. Braga — Sexta-feira, 4 Julho 2008 @ 8:34 pm | Responder

  5. Estive a ler os seus últimos textos e gostei de todos eles, particularmente deste que acabei de ler mesmo agora. Excelente análise. Concordo em absoluto com o que escreveu. Os meus parabéns.

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    Comentar por Maria — Domingo, 6 Julho 2008 @ 4:15 pm | Responder


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