perspectivas

Sexta-feira, 12 Março 2010

Conservadorismo e a política (2)

Ouvi hoje na TSF que um grupo de mulheres de Coimbra, que se dizem “teólogas feministas”, defendem a ideia de que “só existirá igualdade entre homens e mulheres quando uma mulher foi eleita Papa” (sic). A TSF dá-se ao trabalho de fazer uma grande cobertura do movimento das “teólogas feministas” ― o que vindo desta estação de rádio não me surpreende nada. Se alguém disser a essas “teólogas feministas” que só existirá igualdade entre um homem e uma mulher quando um homem conseguir engravidar e parir, naturalmente que a resposta das ditas será o óbvio: o engravidar e parir é característica natural das mulheres. Por isso, o homem nunca conseguirá ser igual à mulher. Mas segundo as mesmas senhoras, “a mulher tem que ser igual ao homem”.

Minerva apartando Marte (Tintoretto)

Isto significa que o feminismo reconhece na mulher características naturais únicas enquanto não as reconhece nos homens: segundo essas senhoras, tudo aquilo que é possível ser feito pelos homens pode ser feito pelas mulheres, enquanto há coisas que as mulheres podem fazer que os homens não podem. Em resultado deste raciocínio, a mulher passa a ser considerada superior ao homem.

O feminismo é a afirmação da superioridade da mulher em função de um estúpido complexo de inferioridade. Uma mulher normal não tem que se sentir inferior por ser diferente (e não igual ao homem). Sendo diferente, os seus papéis sociais assumem nuances pelo menos diferentes em algumas áreas da sociedade e mesmo na política. A diferença não significa inferioridade de qualquer das partes diferentes entre si. Em consequência disto, a teologia e o feminismo são incompatíveis, pelo que só um grupo de burras poderia sequer pensar em conciliar os dois conceitos.

No artigo anterior mencionei o facto de uma das características das religiões políticas decorrentes do Iluminismo é a tentativa desbragada e ilógica de separar os símbolos da experiência humana concreta. Este caso das “teólogas feministas” é um bom exemplo desse tipo de racionalização que desemboca sistematicamente em um delírio interpretativo: partindo de um facto concreto que é o de que a mulher e o homem são realmente diferentes, e assumindo depois, já em delírio de interpretação, que essa diferença é sinónimo de inferioridade ou de superioridade de uma das partes, constrói-se um “filme” por via da racionalização (masturbação mental) que separa o homem e a mulher da estrutura concreta da realidade tal qual a natureza nos impõe. Uma das características da mente gnóstica ou revolucionária, é a recusa obstinada da realidade tal qual ela se nos apresenta ― o que leva à tentativa injustificável de justificação de todo o tipo de comportamentos.

O facto de só um homem poder chegar a Papa está relacionado com o facto de Jesus Cristo ter escolhido apenas homens para seus apóstolos, o que não significa que não existam outras funções que a mulher pode e deve desempenhar na Igreja.

A ler:

4 comentários »

  1. Não ouvi essa peça, que vinda da TSF e do bom pastor do Villas Boas, não espanta nada. Mas ouvi ontem um excerto na qual uma das candidatas a sacerdotiza dizia pérolas, algo do género: “não vejo a figura de Deus como pai, mas também não é mãe”, é pois uma figura que não tem correspondência …

    É caso para dizer que sendo o homem criado à imagem de Deus (obviamente que na dimensão espiritual) e tendo Jesus ensinado a rezar o Pai Nosso, para que é que aquelas filhas de Deus (que o são)insistem na negação daquilo que querem fazer parte de pleno direito, como papisas, bispas, diacónas, curas, prioresas, sacerdotizas.

    Que criem a sua igreja, nada as impede. Aliás a filha do Solnaldo (coitado, não tem culpa)a piquena Alexandra, às tantas tinha uma visões seguidas em directo por uns apaniguados, em que dizia que via Jesus, e este lhe indicava para o tirarem da cruz. Só se ela se estava referir ao Jorge de Jesus, que por sua vez estava, este sim, com visões, quando quiser sair do inferno da Luz, que ainda vai acabar por ser a sua cruz.

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    Comentar por manuel cortes — Sexta-feira, 12 Março 2010 @ 5:00 pm | Responder

  2. 😆 😆

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    Comentar por O. Braga — Sexta-feira, 12 Março 2010 @ 5:51 pm | Responder

  3. Já postei outras vezes aqui, e deve saber que estou longe desse feminismo militante… Mas fico em dúvida se essa argumentação realmente é efetiva, ainda mais no assunto que trata… O fato de nós, homens, não podermos engravidar é uma diferença biológica, vamos chamar de diferença de hardware, mas também temos ferramentas biológicas próprias, como os testículos. Assim, fazemos igualmente coisas que mulheres não fazem.

    No entanto, os fazeres humanos poderiam ser equiparados a softwares, não? Se estiver dentro da capacidade do hardware, ele é possível de fazer. Minha constituição física me impede de levantar 80kg, mas certamente que há mulheres que possuem um corpo suficiente para isso. O trabalho mental igualmente, ou não?

    Tentar explicar a possibilidade de papisas com a argumentação anterior, para mim, é um equívoco. E o exemplo da gravidez também. No entanto, entendo o teor geral da postagem. Só acho que outros exemplos seriam mais efetivos.

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    Comentar por Eduardo — Domingo, 14 Março 2010 @ 8:06 pm | Responder

    • Um homem ou uma mulher é uma unidade psicossomática ― não é possível separar totalmente a psique do somático. Podemos ter nuances ou mais ou menos predominâncias hormonais ou culturais, mas a verdade é que o homem e a mulher têm substâncias (ser em acto) diferentes, embora tenham a mesma essência (ser em potência). Portanto, o hardware de um ser humano, seja homem ou mulher, não se aplica só à mulher nas suas características únicas mas ao homem também, e esse hardware dever ser visto como um conjunto constituído pela mente e pelo corpo. A biologia não é só corpo. A ideia de que um homem poder ser macho biologicamente e “mulher por dentro”, ou é uma excepção, ou um desvio ou uma anomalia que só acontece com seres que têm a capacidade de pensar.

      Nesse sentido, é tanto produto de um hardware ter um filho, como ser Papa. Ambas as capacidades decorrem do tipo de unidade psicossomática natural nos dois sexos ― o que não quer dizer que não existam mulheres com essa capacidade, mas são uma pequeníssima minoria. E como em tudo na vida e no mundo, é a constância das características essenciais dos hardwares psicossomáticos dos dois sexos que determinam a ordem das coisas.

      O facto de ser Papa decorre do hardware masculino dos testículos e das hormonas masculinas ― aquilo que o professor da universidade de Harvard, Harvey C. Mansfield chamou de “manliness”, e que não tem tradução literal para a língua portuguesa; a aproximação seria a de “masculinidade”, mas não é exactamente isso. “Manliness” é uma característica que algumas mulheres também têm, mesmo sem testículos, mas que as têm devido a uma anomalia hormonal qualquer. Podemos por isso dizer que os testículos são parte do hardware que permite ao homem ser Papa, e à mulher não o permite porque não os têm, embora existam algumas mulheres que tenham também o “manliness” como característica.

      O software não pode correr sem um hardware. O facto de existirem, por exemplo, duas mulheres no mundo que conseguem levantar 150 kg, não significa que possamos dizer que “as mulheres em geral podem levantar 150 kg”. Por isso é que existem as excepções, porque sem estas não poderiam existir as regras. Você já imaginou, a nível dos assuntos humanos, uma regra sem excepção? Pura e simplesmente deixava de ser regra e passava a ser um facto determinado, um automatismo da natureza que abrangeria o ser humano e portanto retirar-lhe-ia a característica humana da liberdade em função das suas características próprias e únicas.

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      Comentar por O. Braga — Domingo, 14 Março 2010 @ 9:04 pm | Responder


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