perspectivas

Quinta-feira, 10 Setembro 2009

Diferença entre “vida pública” e “vida privada”

Filed under: Justiça,Maddie — O. Braga @ 9:03 am
Tags: , , ,

A publicação do livro do Amaral em relação aos McCann não pode ser confundida com um mero libelo de opinião em relação a uma personalidade política e/ou pública. Vivemos num mundo em que se confunde “vida privada” com “vida pública”, e de tal modo que não conseguimos já discernir as duas coisas. Só deixamos a vida pública quando vamos dormir umas horas, o que traduz a irracionalidade do conceito do “mercado em constante expansão” ― que deu na crise que deu.

Uma coisa é alguém emitir uma peça televisiva crítica, ou mesmo um livro crítico, em relação a uma figura pública ― que de uma maneira mais ou menos evidente adquiriu notoriedade pública de uma forma voluntária e à custa da própria sociedade ―, e outra coisa é alguém escrever um livro que me critique ― a mim, como entidade privada ― sem que eu tenha meios suficientes ou possíveis de defesa.

Se eu não sou uma figura pública, nem quero ser, não tenho que ser tratado como tal; se os me®dia decidem transformar-me numa figura pública sem a minha prévia aquiescência, não tenho que ser penalizado por isso sujeitando-me involuntariamente a um tratamento próprio de figura pública, sem que o seja.

Há que, de uma vez por todas, distinguir o público do privado. Tanto o neoliberalismo como a esquerda pretendem diluir a “vida privada”: a esquerda através da “estatização” das nossas vidas, a direita neoliberal através do mercado total. Ora, a direita conservadora faz questão de marcar indelevelmente a diferença e o espaço necessário entre “vida privada” e “vida pública”.

Uma coisa é os me®dia insinuarem um eventual envolvimento de José Sócrates no caso Freeport, porque José Sócrates foi ministro do ambiente e é uma figura pública que é pago principescamente e à custa dos contribuintes (à mulher de César não basta ser honesta; tem que parecer honesta).

Outra coisa é uma pessoa escrever um livro acerca da minha pessoa, insinuando sem provas o meu envolvimento em um crime de sangue, sem que eu tenha quaisquer hipóteses de defesa, e principalmente transformando-me em figura pública sem que eu tenha voluntariamente acedido a esse estatuto.

Por isso, estou de acordo com a decisão do tribunal, e não estou de acordo com este texto.

8 comentários »

  1. «Outra coisa é uma pessoa escrever um livro acerca da minha pessoa, insinuando sem provas o meu envolvimento em um crime de sangue, sem que eu tenha quaisquer hipóteses de defesa, e principalmente transformando-me em figura pública sem que eu tenha voluntariamente acedido a esse estatuto.»

    Creio que não é assim porque os Mc Cann tornaram-se figuras públicas ao mediatizar o caso e com a recolha de fundos, e sobretudo não vejo qual a necessidade. Admito da parte do autor do livro um móbil que pode ser a sua defesa (ele foi corrido) ou para fazer dinheiro, o que pessoalmente condeno, ou ainda juntar as duas coisas. Já se o tribunal vier a condenar o Gonçalo Amaral a pagar uma indemnização choruda por difamação seria muito mais compreensível e justo.

    Gostar

    Comentar por Henrique — Quinta-feira, 10 Setembro 2009 @ 1:26 pm | Responder

  2. 1.

    Quando os McCann chegaram ao Algarve não eram figuras públicas. Devido a um acontecimento infausto, os me®dia transformaram os McCann em figuras públicas.

    2.

    Decorre do ponto 1 que os McCann se tornaram em figuras públicas de forma involuntária e devido a um acontecimento involuntário ― pelo menos até provas em contrário.

    3.

    As figuras públicas que aparecem nos jornais e revistas são-no porque querem ser. Existe um acto voluntário e de compromisso em relação aos me®dia.

    4.

    Os me®dia assumem que têm o poder discricionário de transformar qualquer cidadão em figura pública, sem o consentimento deste e sem as vantagens que normalmente uma figura pública tem. O cidadão transformado em figura pública pelos me®dia passa a ter só as desvantagens desse estatuto. Quando me refiro aos me®dia, refiro-me aos me®dia portugueses e ingleses.

    5.

    Perante o desaparecimento da menina, gerou-se um movimento privado de solidariedade para com os McCann, nomeadamente através de donativos privados no sentido de financiar uma investigação paralela, dada a inépcia da polícia portuguesa. Quem transformou aquilo que era privado, em público, foram os me®dia.

    6.

    Se Gonçalo Amaral tinha críticas a fazer ao sistema judicial que é público, ou a eventuais manipulações políticas do sistema judicial, deveria ter escrito o livro a criticar as figuras públicas eventualmente envolvidas nessa eventual manipulação, em vez de escolher um alvo fácil e indefeso. Amaral não criticou Gordon Brown, José Sócrates ou a maçonaria: preferiu acobardar-se e acusar na praça pública quem não tinha a mínima hipótese de defesa neste caso, porque se tratava da palavra dos McCann contra a de um ex-polícia. Amaral tira partido de uma autoridade de direito que lhe dá o estatuto de ex-polícia para fazer acusações sem provas.

    7.

    Os McCann comportaram-se neste processo com a elevação possível, agindo de forma a não colocar a corporação policial contra a investigação ainda possível. O comportamento de Amaral em todo o processo é lamentável, porque culpou os McCann não só pela sua incompetência pessoal, como fez do casal o bode expiatório de um sistema de investigação policial desadequado aos tempos modernos.

    Gostar

    Comentar por O. Braga — Quinta-feira, 10 Setembro 2009 @ 6:03 pm | Responder

  3. Não conheço o processo, nem o livro.
    Apenas deixo a minha estranheza por, segundo notícias vindas a lume, o casal ter contactado a cadeia de televisão – que os tornou figura pública – muito depois do desaparecimento e só mais depois contactou a polícia.
    Sabe-se que em qualquer fuga/desaparecimento, os primeiros minutos são cruciais e o casal não me parece nada ser desinformado ou tontinho…
    Também é verdade que não sei como reagiria com um filho meu… quando aconteceu com a filha de outra pessoa, fui logo à polícia antes até de a procurar, consciente que não tenho os mesmos meios que a polícia tem e de que Câmaras de filmar a minha dor não encontram quem procuro.
    Uma coisa é verdade: infelizmente muitas crianças têm desaparecido e têm tido tratamento bem diferente, até os próprios pais… Claro que não defendo a nivelação por baixo, mas também julgo que houve algum facilitismo em todo este processo, a favor do casal.
    Mais do que crucificar quem quer que seja, julgo que estas situações deveriam servir para uma colectiva reflexão profunda sobre o tempo e a qualidade do tempo que temos para os nossos filhos e, também e porque necessitamos, para nós.
    Nem toda a gente pode pagar infantários, Tempos Livres e quejandos e muitas crianças ficam sozinhas todos os dias, com os pais sempre em grande angústia – situação, no mínimo, pouco “produtiva”. Estes, não receberão prémios de produtividade e seus filhos estarão pior preparados para enfrentar as exigências profissionais – uma pescadinha de rabo na boca…
    …mas esses… são pobres, precisamos que assim continuem! Senão, quem me limpava a casa e tomava conta dos meus filhos? Pois é…

    Gostar

    Comentar por Lurdes Martins — Sexta-feira, 11 Dezembro 2009 @ 12:35 pm | Responder

  4. Desaparecem milhares de crianças pelos mais diversos motivos , não só pedofilia …e só uma sociedade mesquinha , sádica por decadente , sem principios saudáveis , se recusa a aceitar o unico facto verdadeiro conhecido : a Maddie desapareceu . Ainda venha o primeiro pai atirar pedras para o ar , dizendo que nunca deixou um filho sozinho …O livro apenas revela a lógica frustração latina de quem não soube aceitar
    “A Verdade da (sua) Mentira” e o seu compulsivo afastamento por manifesta incompetência em função da “Segurança do Estado” … Quanto pagaria o Estado português
    de indemnização ao casal McCann , se as enviesadas teses de G. Amaral tivessem ido em frente ??? Frustrado , fez uma campanha difamatória do casal mas fê-lo com elevados
    beneficios patrimoniais suficientes para comprar logo “jaguares” !!! Segundo o S.T.J.
    a divulgação publica de um facto ainda que verdadeiro , pode ser difamatória e como tal punida e sujeita a pagamento indemnização , tal como também dispõe a C.R.P.(artº 37º-4 (final) ) .Mas G. Amaral nada provou. Apenas fez proveitosa ficção mediática com a ajuda
    do “famoso” Flores …O despacho de arquivamento refere que “não foi conseguido qualquer elemento de prova que permita a um homem médio , à luz dos critérios da lógica , da normalidade e das regras gerais de experiência , formular qualquer conclusão lucida ,sensata , séria e honesta sobre as circunstancias em que se verificou a retirada da criança do apartamento , nem enunciar , sequer , um prognostico consistente” .Assim , quem é G. Amaral ?
    Insubordinado e provocatório perante a Corporação a que pertence , o qual assim a desprestigia com certos laivos de desobediência. Assim , violou o seu DEVER DE LEALDADE , o seu dever de respeitar e prestigiar e não afectar a credibilidade da Corporação a que pertence não obstante aposentado , como o dever de não praticar actos previstos como crime – difamação e enriquecimento ilicito , como resultado da sua relação com a Corporação , expressa publicamente , utilizando informações oficiais obtidas no exercicio do cargo ,
    beneficios com violação do seu dever de isenção , pelo que G. Amaral deve ser PUNIDO
    DISCIPLINARMENTE .

    Gostar

    Comentar por augusto santos — Domingo, 3 Janeiro 2010 @ 10:16 pm | Responder

  5. Com o devido respeito , apenas para os neofascistas encapotados de democratas pós-25 de Abril : O meu direito ao direito à liberdade de expressão termina onde começa o teu direito ao teu direito ao teu BOM NOME , imagem , etc. Nesta colisão de direitos constitucionais , a balança da justiça e da moral (sob pena de trágica anarquia)pesa a teu favor . Em sentido contrário,discutível, sobretudo relativamente aos orgãos de comunicação social, quando houver um interesse publico a defender …aquele poderá levar a vantagem .Talvez (não conheço o caso) seja esta a hipotese do requerido SOL , depois de 3 recusas ao requerente , este obteve assim uma decisão judicial infelizmente errada que o requerido SOL não cumpriu (e bem , perdoe-se esta anarquia…). Esta situação do SOL é bem diferente do caso Madeleine McCann . Este caso foi arquivado depois de uma incompetente (tal como já havia acontecido com o caso Joana em que o seu coordenador G.A. foi condenado a pena de prisão , tendo necessidade de pedir a aposentação-reforma antecipada para evitar a punição disciplinar)dizia incompetente actuação do seu investigador-coordenador G.A. – vd. Madie, Joana e a Investigação Criminal-Dr. Barra da Costa – Ed. D.Quixote – tendo por tal facto sido afastado do caso , dando aso a ser enxovalhado pela comunicação social estrangeira o qual (com graves problemas financeiros) resolveu fazer um livro (desde longa data com violação do segredo de justiça) locupletando-se à custa da desgraça alheia,e acusando danosa e difamatoriamente (pior , sem provas) os McCanns da prática de nada menos (!) de 6 crimes : abandono , simulação de rapto , falso testemunho,morte(homicidio), ocultação de cadáver e burla .Está juridicamente justificada a decisão judicial , pois o livro alem de ser um insulto à inteligência de quem a tem , apenas contem o que necessita para enganar o leitor e omite tudo aquilo que o poderia desmentir e desonestamente (tem essa virtude) veio mostrar o “parolismo” do para-analfabeto Povo português que acreditou na patranha do G.A. em que o cão ladrou dizendo que o cheiro a morto(a) era da Maddie(até disse o número do seu B.I.)quando o dono dos cães(Martim Grime) disse que tal nada prova apenas indícios a comprovar cientificamente o que não aconteceu . “ERRARE HUMAMUM EST” . Cães ? Não … (Não saciado inventou agora a anti-vingativa “mordaça inglesa” explorando de novo a supracitada parolice lusitana que continua a sofrer o secular complexo hispano-inglês)

    Gostar

    Comentar por llaaeell — Domingo, 21 Fevereiro 2010 @ 9:19 pm | Responder

  6. @ llaaeell :

    Há que fazer a diferença entre “interesse privado” e “interesse público”, por um lado, e entre o “indícios de crime” e “especulação a partir de factos”, por outro.

    A providência cautelar em relação à publicação do livro de Amaral tem fundamento porque o livro viola os interesses privados dos McCann, e especula ― ele conta uma história ou faz uma narrativa fictícia ― a partir de factos concretos. O livro do Amaral é um romance, e não a descrição científica dos factos; é uma racionalização subjectiva que é feita a partir de alguns factos objectivos.

    No caso do SOL e de José Sócrates existe um interesse público, porque todos nós pagamos impostos para que José Sócrates seja primeiro-ministro. E por outro lado, as escutas telefónicas são factos concretos e não invenções romanceadas ou narrativas.

    Gostar

    Comentar por O. Braga — Domingo, 21 Fevereiro 2010 @ 10:17 pm | Responder

  7. OBRAGA estamos felizmente em sintonia , mas falta-lhe uma análise( do caso AVM ) do ponto de vista juridico : Gonçalo Amaral -revoltado pelo seu afastamento , enxovalhado pela sua evidente incompetência , em vias de condenação no processo tortura da Leonor , para evitar o procedimento disciplinar, solicita a reforma antecipada(melhor, aposentação) , vingativo ,com graves problemas financeiros e outros-necessidade a quanto obrigas- não hesita em editar um livro no qual acusa os McCanns da prática de seis crimes – isto é grave . Daqui resulta a apreensão e o arresto dos bens a titulo cautelar , a seguir a acção principal de indemnização
    e no foro próprio o julgamentpo da difamação .
    A titulo de exemplo , não sabe o que faz . Fez uma UNIPESSOAL para não juntar no IRS a reforma com os lucros do livro , esquecendo-se da transparência fiscal a qual lhe troca as voltas ; com a obsessão de provar que o livro continha apenas peças do processo(o que não lhe resolvia o problema) piorou
    abrindo as portas à acusação da violação do segredo de justiça ! Antecipou a reforma para não ser disciplinarmente
    penalizado , desconhecendo que também o pode ser já aposentado !!! Sinceramente , o homem perdeu o azimute …
    (o que parece ser “normal” para quem tem pelo menos 5 processos crime , um disciplinar, execuções , penhoras ,
    arrestos , eventuais problemas fiscais )
    Gonçalo Amaral não soube ler o futuro !!!

    Gostar

    Comentar por augusto santos — Domingo, 21 Fevereiro 2010 @ 11:33 pm | Responder

  8. já viram isto ? http://www.asmeninasquevieramdasestrelas.com/index.html/ http://www.zshare.net/download/68611337747aaed2/ É preciso não ter vergonha . Já lá dizia um colunista anti-salazarista que este havia castrado os portugueses ! Será verdade ? Lá que eles papam sem digerir tudo o que a TV e os politicos lhes vendem é verdade !!! Já o professor americano diz que os miolos deles se estão transformando em
    banha de cobra !…ou de porco ???
    O livro A Verdade da Mentira de Gonçalo Amaral , vingativo confesso , incompetente , reformado antecipado para fugir à punição disciplinar pela condenação de ano e meio de prisão relativamente às torturas de Leonor(mãe da desaparecida Joana)que -independentemente da sua culpabilidade material- que num país civilizado seria inocente por causa das incompetências verificadas na investigação , inquerito e julgamento !!!
    Já não sei o que é mais vergonhoso se o que Leonor eventualmente fez(que não está provado) ou se o que o sistema policial e judiciário fez (e isto está provado) ??? O livro AVM é um insulto à INTELIGÊNCIA de quem a tem . Melhor dito , AVM significa a Verdade da Mentira Gonçaliana, que se locupletou à custa da desgraça alheia para andar a comprar brincos , jaguares e andar a roubar a mulher do próximo (porque lhe fizeram o mesmo ? ) -o que é pecado mortal . Verdade …

    Gostar

    Comentar por augusto santos — Quinta-feira, 25 Março 2010 @ 5:13 pm | Responder


RSS feed for comments on this post. TrackBack URI

AVISO: os comentários escritos segundo o AO serão corrigidos para português.